Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Erros da imprensa

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou os jornalistas que o acompanham em Santo Domingo de ‘um bando de covardes’ porque não defenderam o Conselho Federal de Jornalismo. Diante desta acusação do chefe da nação quero afirmar publicamente, de forma inequívoca, que considero-me um covarde mas por outra razão – por não dizer com todas as letras que o presidente não sabe comportar-se como árbitro.


Esta edição do ‘Observatório da Imprensa’ começou a ser preparada em 16 de maio de 2000, há quatro anos, quando resolvemos reparar uma das mais clamorosas injustiças cometidas pelo conluio entre o denuncismo da mídia e a irresponsabilidade da Câmara dos Deputados. Naquele dia rasgamos a cortina de silêncio que encobria a cassação do deputado Ibsen Pinheiro em 1994. Fomos acusados no mínimo de complacência com a corrupção.


No último fim de semana, a revista ‘Isto É’ produziu mais uma de suas capas barulhentas ao apresentar o depoimento de um ex-repórter de ‘Veja’ autor de uma matéria de capa que contribuiu decisivamente para criar o clima de linchamento que culminou com a cassação de Ibsen.


O autor da matéria, Luís Costa Pinto, assumiu que na sua matéria cometera um erro de aritmética: em vez de mil dólares saiu um milhão de dólares. Luís Costa Pinto não cometeu um erro solitário, toda a mídia embarcou na mesma canoa. E este clima continua até hoje pois a ‘Isto É’ que pretendia incriminar sua concorrente omitiu para os leitores o fato de que na mesma semana de 1993 atacava Ibsen praticamente com a mesma retórica.


Este Observatório, como não cansamos de repetir, não é tribunal, queremos apenas que a sociedade aprenda a discernir o que lhe apresentam como informação isenta. A retratação de Luís Costa Pinto, embora tardia, é bem vinda. Esperemos agora que se retratem aqueles que foram os efetivos carrascos de Ibsen Pinheiro.


Há mais de um século quando o exército francês expulsou e humilhou o capitão Alfred Dreyfus, logo apareceram os intelectuais para defendê-lo, logo apareceu Emile Zola com o seu famoso ‘eu acuso’, logo apareceu o jornalista Georges Clemenceau que colocou na manchete do ‘L´Aurore’ a emocionada defesa de um inocente. Outras latitudes, outros tempos: Ibsen Pinheiro não teve os indômitos Zola e Clemenceau para defendê-lo. Esta é a nossa tragédia.


Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm