Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Injustiça incômoda

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

A injustiça incomoda, sobretudo quando a injustiça é percebida retrospectivamente. Quando já não há nada mais a fazer é que se tem condição de perceber a dimensão da injustiça.


O cantor Wilson Simonal morreu há nove anos, acabrunhado com as acusações de que era um delator e colaborador dos órgãos de segurança durante a ditadura.


O documentário ‘Ninguém sabe o duro que eu dei’ é uma dolorosa reconstrução dos anos de chumbo quando a intolerância do regime espalhou-se e impregnou todos os cantos e recantos da sociedade.


A mídia estava sob censura, na realidade em regime de auto-censura, mesmo assim espalhou-se a convicção de que Simonal era um colaborador dos órgãos de repressão. Indícios foram transformados em evidências, estas em fatos e, de repente, a sua confissão de que era um homem de direita foi transformada em confissão de ser cúmplice dos torturadores.


Simonal cometeu um crime: pediu aos amigos policiais que castigassem o seu contador que lhe dera um desfalque. Este crime poderia ter sido punido se o clima de intolerância e suspeição não permeasse o comportamento de todos.


A verdade é que Simonal incomodava muita gente: incomodava os politicamente corretos e os incorretos, os que gostavam da Tropicália e os que não suportavam o balanço da pilantragem.


Nos Estados Unidos, a era McCarthy também produziu inúmeras injustiças. A diferença com os nossos anos de chumbo é que estenderam-se ao longo de duas décadas. Nestas circunstâncias as injustiças só podem ser reparadas postumamente.


Assista ao compacto desse programa em:
www.tvebrasil.com.br/observatorio/videos.htm