Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mentira e militância no jornalismo

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Não fosse a surpreendente reviravolta do caso DSK, a mídia americana estaria amargando outro vexame: o embargo do Washington Post a uma matéria produzida por um repórter que todos acreditavam ser americano mas é filipino.

O repórter Jose Antonio Vargas estava preparando uma grande matéria sobre as condições em que vivem os imigrantes ilegais nos Estados Unidos e decidiu levar o assunto às ultimas consequências, mesmo que ele fosse o único a pagar por isso: revelou que não nasceu em território americano, veio com os avós quando era criança, ao contrário do que todos supunham. Inclusive seus superiores.

Jose Antonio mentiu como cidadão mas não mentiu como jornalista. E vai pagar por isso, pode ser preso ou repatriado. Mas os editores não se comoveram: barraram a matéria e afastaram o profissional. O concorrente, o New York Times, não vacilou e publicou a reportagem na íntegra com o dramático desfecho.

Como na segunda guerra mundial, o problema dos refugiados tornou-se um dos mais aflitivos em todo o mundo. Naquela época, um pacto de silêncio abafou a tragédia dos refugiados que, por falta de documentos, foram diretamente para os campos de concentração nazistas.

Hoje, na era da transparência, o grande jornal que desvendou a rede de mentiras do caso Watergate castigou o jornalista que, por amor à verdade, sacrificou o seu futuro.