Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O caso Rafinha Bastos

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

A charge de Chico Caruso no Globo de hoje é duplamente antológica: pela sua qualidade mas também como exemplo da sátira hilariante, arrasadora, que no entanto não pode ser tomada como agressão pessoal. O cartunista simplesmente jogou com os homônimos e deixou que a sensibilidade e a inteligência dos leitores fizessem o resto.

Nossa mídia tem algo de vestal, detesta ser envolvida em discussões, mas o caso do humorista Rafinha Bastos do "CQC" bem que merecia ser debatido abertamente. Inclusive para lhe oferecer a oportunidade de pedir desculpas públicas à cantora Wanessa Camargo, alvo do seu cáustico comentário.

Discutir o humor faz bem ao fígado e faz um bem ainda maior ao distinto público que assim se exercita na arte da reflexão e do debate. O Brasil ressente-se da falta de humor. Isso talvez explique a longevidade de certos problemas e certos personagens.

A sátira é mais eficaz do que o panfleto: a agressão é incômoda, penosa, por isso quase sempre esquecida. A piada dá prazer, ela pede para ser repetida e multiplicada. Adolf Hitler ficou furioso quando viu "O Grande Ditador" de Charles Chaplin, o Carlitos. O poderoso Fuhrer não temia ser combatido mas apavorava-se em ser ridicularizado.

O que está faltando em nossa atribulada modernidade é compreender a essência do humor, tanto do bom como do mau humor, já que no fundo eles são contíguos. Este é um segredo ao qual só os grandes humoristas têm acesso.