Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O ministro da vez

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Orlando Silva é o ministro da vez. Há 12 dias, desde que Veja começou a enquadrá-lo com pesadas denúncias, o resto da mídia aderiu de corpo e alma a este esporte radical e, como todos, extremamente perigoso.

Derrubar ministros exige competência: é preciso saber o que dizer, como dizer, a quem dar credibilidade. Quase tudo o que vem sendo publicado sobre as irregularidades já era conhecido há, pelo menos, três anos. O dado novo, dinamite pura, estava na informação de que o próprio ministro recebera vultuosa propina numa garagem.

Acontece que o denunciante e principal fonte das reportagens é réu, também é denunciado, cúmplice assumido de tudo o que agora está ajudando a desmascarar. Por arrependimento ou manha, por revanche ou de olho nas vantagens que vai auferir com a delação, o ex-policial brasiliense João Dias Ferreira é suspeito. Está prometendo provas desde que o caso começou e as provas ainda não apareceram.

Se a mídia pretende ajudar a faxina iniciada pela presidente Dilma Rousseff, é preciso que os seus procedimentos sejam inquestionáveis, sobretudo no tocante ao contraditório, ao acusado deve ser oferecido o direito de defender-se junto com a acusação. A primeira matéria de Veja só foi remetida ao ministro quando a edição da revista já estava praticamente fechada.

O exercício do jornalismo está garantido pela Constituição – mesmo que alguns magistrados não o reconheçam – mas, se o quarto poder pretende obter a sanção da sociedade, é preciso que aprenda a resistir às tentações do vale-tudo. Derrubar ministros não é um fim em si mesmo. É apenas o primeiro passo para criar na sociedade um ambiente de seriedade e responsabilidade.