Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Revista IstoÉ… nazismo e Goebbels do Planalto: ofensa irreparável!

São quase 2 da manhã de domingo, 10 de novembro.

Em 1938, foi necessário esperar o fim desse dia, exatamente um domingo, para contar os mortos, lamber as feridas, entender a destruição e ver quem sobreviveu ao ódio.

1938, e você já sabe: estamos falando do maior horror criado e vivido pelo homem “moderno” : o nazismo.

Esse nazismo, com “n” minúsculo, pois não merece sequer ser comparado a qualquer outra ação humana, ali, em 1938, queimou, explodiu, destruiu e surrupiou lojas e sinagogas da comunidade judaica da Alemanha e da Áustria.

Ali, em 1938, mais de 8 mil estabelecimentos religiosos e comerciais, residenciais e culturais foram vandalizados.

Sem razão alguma.

Ou melhor: por serem judeus.

E porque alguém, na cúpula do nazismo, julgava que culpar os judeus pela dificílima situação econômica que a Alemanha nazista passava seria uma boa ideia.

Mortos? Claro, centenas!

Fogo em livros, por parte de um povo que trouxe ao mundo gênios literários do calibre de Goethe, Thomas Mann, Schopenhauer e Nietzsche.

Fogo em livros, em pessoas, em lojas e sinagogas.

Ideia politicamente genial de um tal de Goebbels, que queria impressionar seu patrão, Hitler.

10 de novembro e, nas poucas bancas de jornais ainda restantes neste Brasil cada vez mais pobre literariamente, o nome de Goebbels está novamente na boca de alguns profissionais que, se não merecem respeito, merecem atenção.

A tal da revista IstoÉ traz inconsequente e ignorante comparação sobre o que faz o chefe da Secom (Secretaria de Comunicação) do governo nacional com aquilo que fazia o mestre em disseminação do horror e terror nazista… Goebbels.

11 de novembro de 1938 e, em Munique, logo no dia seguinte aos atos de pavor e ódio que dominaram as ruas alemãs e austríacas das principais cidades, estava selada a nova conspiração: a partir de agora, todos que não forem nazistas, ou úteis ao nazismo, serão eliminados.

Não… esta não é uma carta defendendo a comunidade judaica, ofendida e discriminada ignorantemente pela revista IstoÉ.

Este é um artigo que lembra que, no dia 11 de novembro de 1938, não só judeus estavam na lista de morte de Goebbels e dos nazistas: agora, homossexuais, eslavos, católicos pacifistas e outros “não-arianos”, além de bodes expiatórios convenientes, deveriam ser aniquilados.

Este é um artigo direto e claro: a revista IstoÉ ataca e expõe uma comunidade judaica brasileira como sendo eixo de manipulações governamentais.

Compara um brasileiro nato, de pais brasileiros, como se fosse o ministro de publicidade e comunicação de Hitler, o maior assassino da história.

Sem nenhuma coerência, decência, visão, informação e pudor, indica uma religião como sendo um grupo de pessoas com interesses escusos, anti-Brasil, somente por serem judeus.

E, você leitor? Sim! Você, católico, quer ser discriminado pela sua religião?

Quer ver como, de repente, o seu estado de nascimento não conta mais nada? E daí se você é paulista? Dane-se se for capixaba, brasiliense, paraense ou catarinense.

Você é católico! E você, aí: evangélico!!!! Não adianta se esconder, seu protestantinho! Nem chega perto, ô budista! E sai pra lá, seu islâmico sem vergonha!

Agora é assim: no Brasil dos valores da IstoÉ, não contam mais seu país, sua cidade, não… agora é a discriminação por religião, seu umbandista sem vergonha!

Ainda busco artigos jornalísticos, em qualquer mídia, onde se diga: ” fulano de tal, de religião afro-descendente” ou “aquela pessoa, alta, loira, carioca de religião muçulmana “…

Não acho.

E não acho… PORQUE NÃO DEVERIA ACHAR MESMO!

Porque não cabe a ninguém delinear comportamentos alheios à religião…. com base em religião!

Mas para a IstoÉ, as pessoas não são brasileiras: são da comunidade judaica. E são parecidas com ninguém menos do que Goebbels.

Porque, na opinião dessa pseudo revista, alegar que o governo limita fundos a essa ou outra mídia é comparável aos assassinatos de famílias inteiras, ou ao extermínio de comunidades de muitas cidades, de judeus, comunistas, homossexuais, adversários políticos, ciganos….

Para a IstoÉ, e me perdoem a risada que interrompe minhas frases, Goebbels manipulava verbas….

No dia seguinte àquelas fatais horas de fogo, sangue e morte, de fato, em 11 de novembro de 1938, Hitler e seu ministro da propaganda, Joseph Goebbels, apareceram em uma entrevista coletiva para correspondentes estrangeiros em Munique – um evento narrado em cores pelo fotógrafo pessoal de Hitler, Hugo Jaeger.

Ali, exibindo um cinismo extraordinário, mesmo para um nazista de alto escalão, Goebbels caracterizou o ataque a pessoas inocentes da Kristallnach (Noite dos cristais) como uma erupção compreensível e “espontânea” da raiva teutônica contra os judeus: “É um estado intolerável [Goebbels disse aos membros da imprensa] que, dentro de nossas fronteiras e durante todos esses anos, centenas de milhares de judeus ainda controlem ruas inteiras de lojas, povoem nossos locais de recreação e, como proprietários estrangeiros de apartamentos, embolsem o dinheiro dos inquilinos alemães, enquanto seus companheiros raciais no exterior agitam a guerra contra a Alemanha e matam as autoridades alemãs.”

E a esse cidadão a revista IstoÉ compara o chefe da Secom do Brasil.

Escrevo ao Observatório da Imprensa pela simples razão de não atuar como a tal da revista IstoÉ: através de democráticos palcos, de troca de ideias e da total e completa distância do que é o Brasil de hoje, e do que foi a Alemanha de Goebbels, tento chamar a atenção para a diferença entre opiniões e críticas e uma política de morte, assassinatos, racismo e horror, como foi o nazismo.

Que sejam perdoados esses insensatos jornalistas da revista. Que entendam a responsabilidade que têm em não mentir, em não exagerar e em, principalmente, ter uma básica noção de que ninguém deve ser diferenciado por sua religião.

E que nazismo, no Brasil, nunca passará.

Nunca existirá. Apesar da IstoÉ.

A luz que a cultura judaica traz e trouxe ao Brasil seguirá sempre, cada vez mais viva, na mente e nos corações da grande maioria dos brasileiros.

Que, como nós, brasileiros de fé judaica, somos patriotas, somos justos e, mais do que tudo, estamos dispostos a lutar pela igualdade, democracia e liberdade.

De fé, de ideias, de opinião.

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Ricardo Setyon é jornalista, correspondente internacional e cientista político.