Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Agradecimento a um desagravo

Senhor Presidente, senhoras e senhores conselheiros.

Quero agradecer a inclusão na pauta desta sessão especial de um assunto que, de alguma forma, relaciona-se comigo. Menciono-o desta forma oblíqua não por modéstia, mas porque acredito piamente que as questões referentes à liberdade de opinião e ao direito à crítica não podem ser individuadas e consideradas isolada ou acidentalmente. Seria uma forma de minimizá-las. As ameaças precisam ser vistas como ameaças ao sistema de liberdades justamente para evitar que se tornem sistemáticas e sistêmicas.

O processo democrático deve ser encarado e defendido como um todo, quaisquer que sejam os motivos, protagonistas ou incidência das agressões contra ele.

A questão da liberdade de opinião não é uma questão subjetiva. É concreta, objetiva, porque se relaciona diretamente com a credibilidade dos veículos de informação perante as sociedades em que circulam. E credibilidade não é uma questão abstrata: uma imprensa sem credibilidade é uma imprensa descartável, falida.

Para que a imprensa se credencie como Quarto Poder é indispensável que aprenda a conviver com as críticas – ela não pode manter-se num Olimpo imune às queixas e reclamações.

Qualidade da informação

Os recentes pedidos de desculpas de grandes organizações jornalísticas internacionais como o New York Times, a BBC e, na semana passada, a Folha de S.Paulo‘ (inspirada no Correio Braziliense, quando sob a direção de Ricardo Noblat), representam um avanço extraordinário em matéria de busca de legitimidade. Não podemos esquecer que a comunicação social é o único negócio privado que goza de privilégios constitucionais.

Indispensável uma contrapartida.

Isto significa que a cruzada atual pela credibilidade da imprensa num mundo cada vez mais enredado pela mentira deixou de ser uma bandeira particular de jornalistas ou de empresários. É uma cruzada que deve envolver patrões, empregados e até desempregados. É uma cruzada que deve envolver leitores, ouvintes e telespectadores. Estaremos traindo a sociedade se não soubermos transferir para ela o nosso ceticismo.

Todos dependem da qualidade da informação, todos devem agarrar-se à qualidade da informação, todos precisam igualmente da qualidade da informação para sobreviver e prosperar.

Faço votos que não percamos de vista assuntos tão relevantes em nossa pauta para o segundo semestre de 2004.