Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

À margem da margem

Na véspera do 2º Turno, o Jornal Nacional continuou empolgado com a movimentação do placar das pesquisas. Variações insignificantes de 1% a 3% foram apresentadas espetacularmente como significantes avanços ou recuos, quando todo jornalista deveria saber que a margem de erro para cima ou para baixo é usualmente de 2% a 3%. Considerando-se que esta margem pode favorecer simultaneamente um candidato e, ao mesmo tempo, desfavorecer o concorrente, fica claro que numa estimativa de intenção de voto alterações de 4% a 5% não são relevantes. A não ser para quem quer fazer do processo político um derivativo lotérico. (1)

# Exemplo deste culto numerológico que desvenda o abandono completo dos preceitos de isenção jornalística: o JB (mais desnorteado do que nunca) escolheu como emblema da sua página de política um quadrinho com o lembrete: faltam 7 dias para o segundo turno e, ajuntou os números da pesquisa do dia. A bossa foi descontinuada nas edições seguintes.

# A Lei Eleitoral, tantas vezes mexida e remexida segundo os humores do Meritíssimo de plantão, já não impede a publicação de pesquisas na véspera dos pleitos. Mas os jornalistas sabem dos seus malefícios, de como atuam no comportamento do eleitor substituindo-se ao debate político e convertendo-se num impulso mandatório. No entanto, todos os quatro jornalões nas edições do dia 15/11 recorreram ao mesmo expediente: sapecar em manchete os resultados das pesquisas. Sabem a finalidade? Para vangloriar-se nos dias seguintes dos acertos das previsões das empresas contratadas.

# As cassandras políticas continuaram a fazer avaliações programáticas levianas e inconseqüentes dos resultados eleitorais. Com exceção do PT, a grande maioria das legendas partidárias não expressa comprometimentos ideológicos consistentes. Mesmo quando se trata de candidatos de outros partidos ditos de esquerda e por isso mais "puros" (PDT, PSB, PC do B). César Maia, do PFL, na realidade, está à esquerda de Marcello Alencar (PSDB). Em Londrina, o pedetista era o verdadeiro tucano. E o PPB de Paulo Maluf não é neo-liberal como apregoa seu fundador porque seu populismo-caudilhismo não aceita as medidas mais radicais da Reforma Administrativa defendidas pelos êmulos nativos de Bob Dole, Delfim Netto e Roberto Campos.

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(1) Ver em edições anteriores – 20 de agosto5 de setembro20 de setembro e 5 de outubro – polêmica e textos sobre pesquisas eleitorais.