Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Depto. de Disparates Aeronáuticos

I) Isabel deu uma sacada. 
Três dias depois da queda do Fokker da TAM um Boeing 737-200 da Varig teve uma de suas turbinas incendiadas em pleno vôo. Os passageiros entraram em pânico mas o avião retornou a Campo Grande (MS), onde aterrissou sem problemas. Entre os 44 passageiros estava a ex-jogadora de seleção nacional feminina de vôlei, (Maria) Isabel Barroso Salgado, hoje comentarista de televisão. 

O jornal O Globo do dia 4/11 contou competentemente todos os detalhes do acidente, as explicações e providências da empresa aérea. Mas os últimos parágrafos da matéria, assim como a legenda da única foto, reproduzem as opiniões nada abalizadas da famosa desportista sobre manutenção dos aviões e segurança de vôo. Que ela o diga está no seu direito, mas que seja levada a sério nesta questão é outra coisa, mesmo que sua especialidade fosse economia, direito ou história.


II) Pierre Salinger falou como jornalista ou lobista? 
Preciosos minutos nos vertiginosos telejornais, chamadas alentadas nas primeiras páginas, páginas inteiras no noticiário internacional. Pierre Salinger, que foi um grande repórter do San Francisco Chronicler e, depois, um dos mais chegados assessores dos irmãos Kennedy, teve seus 15 minutos finais de fama quando no dia 8/11, numa convenção sobre promoção aérea, em Cannes, apresentou documentos secretos "provando" que o Boeing 747 da TWA (que caiu no mar em Julho passado depois de levantar vôo de Nova York) foi, na realidade, derrubado por um míssil disparado por um avião da Marinha americana. 

O documento "secreto" é apócrifo, circulava há meses na Internet, o jornalista falava como relações públicas da empresa Burston-Marsteller e participava de um evento comercial. Não reunia condição alguma de credibilidade. Estava no seu papel, fazia uma jogada no circo da notícia. 

Mas os guardiães da confiança do público deveriam aquilatar melhor o valor das informações de que dispõem. Estas que aqui se apresentam foram publicadas em nossos jornais, portanto disponíveis aos que desperdiçaram tanto espaço e tempo. Esta dramatização de qualquer asneira só pode resultar na imunização das audiências para o que é verdadeiramente dramático.