A cultura da imagem cria uma desvantagem na relação texto/imagem do jornalismo brasileiro. Se temos ótimos fotógrafos, isso se deve à criatividade, à perseverança e à vontade de aprender sem escolas. Não existe faculdade de imagem nesta segunda metade de século vinte que vive sob uma enxurrada delas.
A fotografia, mola-mestra dessa mídia, não é reconhecida como profissão. As escolas de comunicação e jornalismo ensinam fotografia da mesma forma como as empresas de ônibus ensinam motoristas. Com isso, às vezes a parte técnica de fotografias realizadas por fotógrafos profissionais chega ao limite do fiasco.
É o caso de foto publicada na página 6 do caderno Dinheiro da Folha de S.Paulo de 13 de novembro. Um homem bem-apessoado, de gravata e sorriso de monalisa, aponta para o leitor um objeto totalmente fora de foco, aparecendo (também fora de foco) os seus dedos, e a legenda diz o seguinte: "Hakan Wretsell, vice-presidente da Ericsson, mostra o novo celular". Parece matéria-paga (está envolvida por fios). Dá para ver os detalhes da gravata do personagem e as luzes refletidas no olho, mas não as linhas do novo celular. Tudo indica que grande parte dos fotógrafos de imprensa não sabem usar o campo focal de suas lentes.
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[Ivan Lima, fotógrafo, do Rio de Janeiro]