Nos mandamentos do jornalismo-opus-dei imposto pelos quadros superiores das empresas jornalísticas às redações consta o simplístico axioma de que um infográfico vale por mil palavras.
Bobagem, há três décadas que nossos jornais, revistas e telejornais visualizam suas matérias com mapas dinâmicos e quadros que se acrescentam às informações transmitidas por palavras. Nas edições das segundas-feiras, as páginas esportivas sempre reconstituíram os gols da rodada com esmeradas ilustrações e esquemas. No Prêmio Abril existe, há mais de 20 anos, uma categoria de mapas e gráficos.
A partir dos anos 80 a informática facilitou o trabalho dos desenhistas, primeiro com a arquitetura MacIntosh, depois com o Windows e os aplicativos apropriados para combinar foto, desenho e textos. A ninguém jamais ocorreu a absurda necessidade de polarizar imagem versus relato literário.
A proposta só poderia sair de uma seita fundamentalista, radical e excludente, que na ânsia de fingir-se "moderna" armou este dilema reducionista que só vige no jornalismo ibero-americano (e a partir de Miami). A comprovação está em texto do representante da Universidade de Navarra na imprensa brasileira, Carlos Alberto Di Franco, que na sua última convocação para a leveza do jornalismo brasileiro sugere a "introdução competente da infografia" (Estadão e O Globo). Estará agenciando mais algumas das desastradas reformas gráficas para empresas incautas ?
Para colocar esta infofilia no devido lugar basta examinar as edições dos jornais e revistas nos dias seguintes ao desastre do Fokker – foram os infográficos que comoveram os leitores ou foram os esquemas visuais explicativos (o melhor, aliás, foi do portenho El ClarÍn) ? A Gazeta Mercantil e, dias depois, a Veja conseguiram individuar e humanizar aquelas 100 tragédias com desenhos ou com palavras, valeu o engenho literário ou o visual?
Curiosamente, as absurdas hipóteses pseudo-científicas atribuindo aos celulares e às rádios-livres a causa do acidente foram expressas, em sua maioria, por canhestros infolixos. A Opus-Dei é a única religião que não acredita no Verbo. Certamente, prepara-se para lançar no mercado a missa virtual e a ciber-confissão.