Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A patrulha étnica

O novo presidente do Sebrae, Pio Guerra, começou sutil como um elefante: no seu primeiro pronunciamento depois de eleito classificou a senadora Benedita da Silva (PT-RJ) como feia ou, mais exatamente, o oposto de Madonna e Marilyn Monroe. Indesculpável e imperdoável. Trata-se de grosseria, destempero, incivilidade, atentado à compostura indispensável a um homem público. Mas não é discriminação racial ou atentado étnico. 

Compreendem-se as sinceras lágrimas e a exigência de desculpas da senadora, ferida publicamente na sua auto-estima. Mas é preciso tomar cuidado para que a exacerbação politicamente correta de certas milícias não venha, por exemplo, a envolver com uma aura de inatacabilidade o caráter ou atos do prefeito eleito de São Paulo, Celso Pitta. Na campanha eleitoral ninguém ousou chamá-lo de servil, pau-mandado, parlapatão. Os cartunistas pouparam-no abertamente. Comparem-se as charges que dele fizeram com deformações agressivas da figura do candidato José Serra, descendente de imigrantes italianos pobres. 

Quando o colunista Carlos Heitor Cony, na sua coluna diária (Folha de S.Paulo, 28/11), faz uma piada grotescamente grosseira sobre judeus, ninguém reclama da agressão racial. Jornalista supostamente progressista tem salvo-conduto, pode escrever qualquer barbaridade, especialmente tendo sido o escriba predileto de um das mais inescrupulosas figuras que já transitaram pela imprensa brasileira, Adolpho Bloch.