Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Rio-2004 e guerra fiscal

Todos se consideram federais: os cinco mais influentes diários são nacionais, assim também os programas televisivos de informação e, agora com a CBN, o nosso rádio assume a nova dimensão. No entanto, a escala ainda não foi assimilada na prática diária pelos operadores. 

A visita ao Rio de Janeiro do grupo avançado do COI para a escolha da sede das Olimpíadas de 2004 mostrou o bairrismo e paroquialismo ainda imperantes na mídia "nacional". 

A veiculação sediada na antiga Capital Federal tratou os visitantes e a sua avaliação com a mesma frivolidade com que trata o Carnaval, as festas de fim-de-ano. Tudo na base do oba-oba, somos os melhores, ninguém resiste aos nossos encantos etc. etc. 

Os pauteiros, como sempre, mandaram cobrir as exterioridades – o calendário das visitas, a chuva-castigo de São Pedro, o ócio dos visitantes, o samba irresistível. A nenhum destes senhores ocorreu mandar fazer um levantamento das deficiências maiores da cidade para abrigar as dezenas de milhares de atletas e visitantes, roteiro dos estragos de 15 anos de governos incompetentes e demagógicos que amesquinharam a Cidade Maravilhosa. Burocratas das rotinas, parceiros da ineficiência, não conseguem enxergar problemas como a decadente frota de táxis, o desleixo dos taxistas, os dois acanhados aeroportos, a sujeira dos parques e praias, a precariedade do atendimento dos serviços públicos etc. 

Já a mídia sediada em São Paulo, com inequívoca vocação caipira, morrendo de inveja com esta chance de glória para o Rio, tratou o assunto com fleugma britânica ou o desprezo portenho pelos "macaquitos". 

Exemplo deste paroquialismo: o animador da CBN paulista, na manhã de domingo, 24/11, entre as 9h00 e 9h15, fartou-se de insinuar que a escolha do Rio seria resultado das mordomias oferecidas aos membros do COI e da mala preta que as autoridades do Rio para eles abriram. Chegou mesmo a especificar a soma de três bilhões de reais, fazendo uma maliciosa confusão entre os recursos a serem investidos nas instalações olímpicas com uma hipotética gorjeta pela preferência. No dia seguinte, uma nota sóbria de Heródoto Barbero corrigiu a barbaridade do seu colega. 

A rivalidade bairrista não se restringe às editorias populares mas pode ser identificada na sofisticada área econômica, onde os jornalistas (alguns aparentemente insuflados pelo governo do Estado, outros simplesmente inflamados pelo "patrioteirismo") estão açulando a guerra fiscal para atrair investimentos estrangeiros. 

Ambos os grupos ignoraram que nas avaliações dos especialistas nacionais e internacionais é ponto pacífico que a grande Grande São Paulo (que começa em Santos e chega a Campinas e São José dos Campos, passando pelo ABCD) está condenada. Saturação da infra-estrutura, trânsito caótico, exacerbação política, custos altos e violência são alguns dos itens que constam das pautas dos avaliadores). 

As vantagens fiscais oferecidas por Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas, Espírito Santo e Ceará são ponderáveis, mas o que pesa na decisão final é o baixo índice de qualidade de vida. Que também não foi detectado pelos pauteiros da Paulicéia, mais desvairada do que nunca.