Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

As últimas da revista

Os exímios responsáveis pela quinta maior revista semanal do mundo resolveram tocar algumas oitavas abaixo. Assumiram que a classe sócio-econômica A-B merece informação classe C-D em matéria de padrão cultural. A apelação populista é flagrante, dá na vista, nem se dão ao trabalho de publicar as críticas dos leitores, apenas as correções indispensáveis. Também pode ocorrer que os leitores, de tão idiotizados, tenham perdido sua capacidade de exigir qualidade. A co-irmã Contigo, pelo menos, não finge sofisticação, joga pesado e dorme feliz. 

Rescaldo das últimas edições: 
# A 4 de dezembro, p. 135, na matéria sobre Artur Falk, o empresário que levou a maior multa do Banco Central, depois de situar o leitor no caso, apresenta-se o personagem como "empresário agressivo", que ousou enfrentar a família Marinho, cujo banco tem um grande projeto de expansão e cuja palavra de ordem, neste momento, é profissionalizar suas empresas convocando figuras respeitáveis. Termina com uma confidência que só pode ter sido soprada pelo próprio: Falk vai contratar um alto funcionário do próprio BC. Mas, na edição de 27 de março, oito meses antes, um brilhante perfil de Falk classificou-o de "Desfalk, o bucaneiro do Papatudo". Querem retocar a imagem do ex-namorado da Xuxa – filantropia, provavelmente em função do espírito de Natal. 

# Na edição de 11 de dezembro, a revista dedica capa à descoberta de água na Lua e mais sete páginas do mais deslavado besteirol científico, onde alguma alma mais sensível ainda conseguiu enfiar pequenas ressalvas à importância da descoberta. A edição de 7 de dezembro da britânica The Economist, a mais bem escrita revista do mundo ocidental, dedica ao mesmo assunto menos de uma página repleta de críticas ao barulho promovido pelos publicistas da Nasa e do Departamento de Defesa americano. 

# Na edição de 18 de dezembro (capa sobre os novos consumidores criados pelo real), há um box badalativo sobre novo triunfo editorial de uma das coligadas da Abril, AnaMaria, que já vende 280 mil exemplares. Esqueceram de informar ao distinto público que o projeto é inspirado na Maria portuguesa, que vende 300 mil. Comparando-se os dois mercados, os números do clone brasileiro são pífios. 

# Na mesma edição, na matéria sobre a quebra do sigilo bancário, Francisco Graziano é chamado de corvo e num box diz-se que o ministro Bresser Pereira é mais falante do que pensante. Mistura de opinião com informação no melhor estilo Boris Casoy-SBT. Vamos ver como tratarão o presidente do STF, que, no domingo 15/12, no Estadão, ao responder a Bresser, mostrou o baixo nível de cultura política dos donos do aparelho judiciário. Se Sepúlveda Pertence não for tratado com o mesmo rigor, ficará evidente que a impávida Veja só briga com o Executivo e o Legislativo. (Ver Por que os jornais tanto temem o Judiciário?

# Na mesma edição, na matéria "Pretos e Pobres", que trata da violência policial contra simples suspeitos, não se menciona a cumplicidade da imprensa em converter, antes da sentença, qualquer preso em condenado. A referência à mídia sensacionalista e populista aparece num box sobre o suspeito do atentado de Atlanta que, afinal, era totalmente inocente. 

# Na mesma edição, matéria sobre um "mal misterioso" que aflige e emagrece Milton Nascimento. Uma das mais cavilosas invasões de privacidade já cometidas pela imprensa dita séria. As insinuações são perversas. As pessoas, mesmo sendo celebridades da esfera popular, merecem um mínimo de respeito e reserva. A não ser que o circo esteja armado. 

# E como se não bastasse tamanha coleção de impropriedades numa mesma edição, a matéria sobre a morte do bandido Leonardo Pareja exibe enorme foto do cadáver nu, na morgue. Certamente para atender aos necrófilos de plantão. Comportamento pior foi o big-close do corpo que o paroquial Correio Braziliense publicou na primeira página (10/12).