Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Edições mirradas, deveriam ter desconto

Azar de quem vive abaixo do Equador: depois do relaxamento nos ânimos provocado pelo espírito de Natal, desaba a grande lassidão estival. Ao todo, dois meses e meio, às vezes três (depende do Carnaval), de jornalismo desleixado ou – pior – dito leve, gênero variedades. 

Mesmo quando, no alto-verão, o governo tem a infeliz idéia de trazer ao debate algum tema candente, como a reeleição ou a entrada em vigor do novo tributo, a CPFM, fica visível a lei do menor esforço, físico ou mental. As chuvas torrenciais e trágicas que mudem de época ou de regime, reclamam os pauteiros e executivos, chover em toda parte com tamanha intensidade é inoportuno. 

Melhor sorte têm os que vivem na banda Norte do mundo: depois do gozo natalino, o inverno rigoroso não deixa outra alternativa aos jornalistas se não a de jogar-se ao trabalho. E apesar de o verão meteorológico de lá ter a mesma duração do que o nosso, o verão-férias dura apenas um mês (agosto). 

Recesso relativamente breve, o besteirol intervalar concentra-se em apenas 30 dias. Dá para suportar. 

Neste jornalismo com sandálias e filtro solar, infringem-se direitos essenciais do cidadão e do consumidor. Ficou visível no último recesso natalino que a imprensa vive a reboque do Executivo, incapaz de gerar, sozinha, focos de interesse próprios, assim como impulsos originais galvanizadores da atenção pública. 

A mídia esvaziou-se: a imprensa, mirrou. Se antes apelava para o paroquialismo, no vazio da ação governamental ficou rastaqüera. No entanto, o preço do exemplar (jornal ou revista) continuou o mesmo. A edição de Veja nº 1478 decididamente não vale os 3,80 reais cobrados pela estrutura esquálida e pela negligência na execução. 

Cobrir a tragédia mineira com três textos-legendas é, no mínimo, falta de solidariedade. Dedicar uma página dupla a uma perua inglesa que de cama em cama chegou a embaixadora é consagrar o estilo Carascomo paradigma de jornalismo. Duas páginas para uma brasileira morta por atropelamento em Washington, quando em nossas estradas, nesta temporada, estão morrendo milhares em estúpidos acidentes, é discriminação contra o Brasil, visão de mundo ianque-centrista. 

"Vida Brasileira", pasmem, não é retranca de uma reportagem sobre o verde que começa a colorir o Nordeste, mas uma embasbacada matéria sobre os milionários que fizeram em Bagé um Kentucky gauchesco. Isto é o que o leitor comprou na melhor revista semanal de informações brasileira. O lixo de IstoÉ e Manchete é um pouco pior. 

A mídia eletrônica, porque lida com o tempo, não pode reduzi-lo. Escapou para a trivialização, o chamado "serviço de férias", algo que se situa entre a cultura de almanaque e as informações fornecidas pelas companhias telefônicas. 

As necessidades da cidadania, no entanto, mantiveram-se acesas. A sociedade continuou necessitada de alimentar-se de informações para formar juízos e tomar decisões. Seria a grande oportunidade para um jornalismo de interesse público e para mostrar ao anunciante que o veículo vale para o ano inteiro e, no verão, vale mais.