Divorciaram-se civilizada e discretamente, com demonstrações de mútuo respeito e carinho. São intelectuais íntegros que sempre fugiram da badalação e do deslumbramento. E, no entanto, a separação legal do casal Chico Buarque de Hollanda-Marieta Severo virou assunto federal. Empolgou a ânsia fuxiqueira que se abriga nas redações brasileiras e alimenta a alma de uma cultura telenovelesca.
Fosse inverno, haveria um pouco menos de descalabro. No verão, o fim de um casamento de 30 anos é assunto para teses psicanalíticas, avaliações sociológicas, diagnósticos antropológicos e aquele esgar pelo escândalo.
A imprensa carioca esmerou-se em invadir a privacidade do casal. OEstadão chegou a colocar o assunto no primeiro caderno, como atualização do Caderno 2 (que escapou dignamente do baixo-nível).Veja-Verão deu página inteira, Manchete engalanou-se, (consta que foi o único furo dos últimos 30 anos) antecipando-se a todos. Carasé a cara do que a Argentina tem de pior, antítese de Pagina 12. Afiançou que a separação foi causada por uma fogosa cantora baiana, fabricada pelos xavecos marqueteiros da cervejaria nacional.
A Folha, felizmente, foi exceção, pelo menos até o fechamento desta edição.