As comemorações em torno do centenário de Barbosa Lima Sobrinho enfatizaram a sua dimensão política (governador, deputado, anticandidato a vice-presidente) ou o seu desempenho intelectual (jornalista, escritor, professor).
Há contudo uma faceta singular dessa personalidade plural que merece ser destacada. Trata-se da ação como observador crítico do jornalismo. Na verdade, BLS é o pioneiro da análise sistemática da imprensa brasileira, atividade que vem desenvolvendo ininterruptamente.
O ponto de partida está na publicação, em 1923, do livro clássico O problema da imprensa (Rio, José Álvaro Editor). Sua motivação, ao escrever tal ensaio, foi o debate que emocionava o Brasil naquele momento: a Lei Adolfo Gordo, em tramitação no Congresso Nacional, impondo restrições à liberdade de imprensa. Ao ser reeditada pela Edusp em 1988, constatava-se a impressionante atualidade da obra. Daí a pergunta óbvia: o que mudou no Brasil em 65 anos de vida republicana?
BLS retoma a questão do jornalismo em monografias especialmente preparadas para congressos, simpósios, conferências, coletâneas, suplementos temáticos:
A ação da imprensa em torno da primeira Constituinte (1931), O Jornalismo e a Literatura (1958), Vocação nacional no jornalismo carioca (1965), A imprensa da independência (1972), Direito da Informação (1980) etc.
Mas o ponto alto dessa observação perspicaz e instigante encontra-se nos livros dedicados ao veículo e ao agente da primeira manifestação autônoma do jornalismo no Brasil: Antologia do Correio Brasiliense (1977) e o recentíssimo perfil biográfico Hipólito da Costa: pioneiro da independência no Brasil(1996).
Recomendo aos jovens repórteres e editores fazer a leitura atenta desses textos produzidos por BLS ao longo de sua vida, percebendo a solidez analítica do pesquisador e a coerência ética do jornalista. Vale a pena ainda acompanhar os artigos que ele publica aos domingos no Jornal do Brasil e mensalmente noJornal da ABI, onde a crítica do jornalismo e a defesa da liberdade de imprensa constituem tópicos recorrentes.
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[José Marques de Melo, jornalista]