Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Zebra na Rio-2004

Cartolas, políticos, empresários e, sobretudo jornalistas acreditaram que a Olimpíada estava no papo – bastava samba no pé, mulatas peladas e a irresistível alegria popular para que os gringos se convencessem de que somos os melhores. 


No dia 20/2 uma ducha de água fria: Buenos Aires está na frente, o item poluição da Guanabara foi fatal. 


Puseram-se todos a caçar um bode expiatório, prontamente identificado: a imprensa estrangeira. Consciências tranqüilizadas, arremeteram todos para um novo mutirão carnavalesco, como se o Comitê Olímpico ainda estivesse hospedado no Copacabana Palace e pudesse ser persuadido pela batucada. 

Ninguém lembrou-se de fazer aquela perguntinha incômoda: a poluição de uma baía é obra de quem? São apenas os navios estrangeiros que lavam os seus porões no porto do Rio? As indústrias do contorno guanabarino não têm culpa, os seus operários não sabem denunciar o despejo químico? As lideranças das favelas já fizeram alguma coisa para evitar que aquele braço de mar, outrora designado como a Oitava Maravilha do Mundo, se transformasse numa pocilga? A Câmara dos Vereadores já tentou uma CPI para salvar a Guanabara? 

A imprensa local não se lembrou de convocar os leitores – cujo conjunto forma a comunidade – para uma empreitada coletiva imediata, visando salvar a baía e persuadir o COI de que também somos bons em matéria de solidariedade e responsabilidade.