Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Eles disseram

Fuentes/Rushdie:

É o segundo Salman Rushdie, o escritor, que nos diz: 'A palavra conta, e a imaginação é perigosa'. A imaginação é perigosa porque nos abre a possibilidade de conhecer livremente, de escapar das prisões do dogma, de opor outras verdades, plurais, à verdade única do Estado neoliberal, sucessor sorridente do Estado totalitário, ou do Estado teocrático, solene aspirante a um novo totalitarismo.

A linguagem conta porque escolhe livremente seus símbolos, em vez de se conformar com as palavras entorpecentes do discurso oficial. A linguagem importa porque seus símbolos são ao mesmo tempo arbitrários e necessários.

Arbitrários por serem surpreendentes, por expressarem dúvidas, por criticarem o mundo com o direito de fazê-lo, porque primeiro criticam a si mesmos. E necessários porque criam um discurso alternativo, que nos recorda que uma linha de Quevedo, Rilke ou Pinter vale mais do que 30 horas de televisão, cem páginas de jornal ou seis anos de discursos.

A linguagem do escritor nos adverte de que ter muitas informações não significa ter informações melhores: um romance, um poema continuam a ser a maior crítica ao monolitismo dos meios modernos.

Carlos Fuentes, Os três Rushdies, O Estado de S. Paulo, 18 de fevereiro de 1996.

***

Mencken:

Qualquer ser humano que saiba falar sua língua compreensivelmente tem todas as ferramentas necessárias para escrever com clareza e até em belo estilo. Não há nada misterioso na linguagem escrita; é precisamente a mesma coisa, em essência, que a linguagem falada. Se um homem consegue ao menos pensar, achará as palavras necessárias para exprimir suas idéias.

H. L. Mencken, O Livro dos Insultos, São Paulo, Companhia das Letras, 1988, seleção de Ruy Castro.