Thursday, 09 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Trailer de agosto mostrou nível da cobertura anunciada para novembro

O SHOW. Com este título, escancarado, debochado e sem a menor compostura, a revista Veja (edição de 28 de agosto) apresentou uma avant-première do nível da cobertura jornalística que haverá em novembro, quando será montado novo circo para acompanhar o julgamento dos acusados de matar Daniela Perez.

O subtítulo – Como será o maior julgamento das últimas décadas – revela com toda a crueza a nossa "Montanha dos Sete Abutres" ("Big Carnival", 1951, filme de Billy Wilder sobre o sensacionalismo da imprensa americana). Não ficamos atrás: as elites econômicas são manobradas pelos mesmos estímulos dos leitores das classes D e E que compõem o universo da imprensa dita popular.

A culpa não é só dos editores e quadros superiores das empresas jornalísticas: os fabricantes de carros de luxo e produtos de primeira linha que anunciam na imprensa-classe A também não se importam em ver anúncios pagos a preço de ouro em publicações que se comportam como veiculadoras de classificados.

Os magistrados que perderam a noção da solenidade do rito judicial são igualmente culpados pela carnavalização do noticiário forense. A punição dos culpados e a administração da justiça (mesmo num país onde o Judiciário aparece como a mais desacreditada das instituições) dispensa a espetacularização exibida antes do adiamento. Para que a memória de Daniela Perez seja justiçada e os culpados castigados não se precisa exacerbar a opinião pública até o limiar do linchamento.

O país carece de senso trágico. E a imprensa tira todo o proveito desta trágica carência.