Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A agonia continua

CRISE NO SENADO

A crise do setor energético brasileiro substituiu as manchetes do estupro do painel do Senado na semana que passou. A crise do Senado foi relegada a segundo plano. O ex-senador Arruda se confinou em sua cidade natal e o ex-senador ACM tentou ocupar a mídia com declarações fortes contra o presidente da República. No programa Passando a Limpo, da TV Record, foi emparedado pelo jornalista Boris Casoy, que o acusou reiteradamente de mentiroso. ACM bem que tentou, de dedo em riste, acuar Boris, mas ficou somente na tentativa. A entrevista prosseguiu com o sabor de café requentado. ACM ainda esteve na Rede TV!, entrevistado por Marília Gabriela, mas o programa não teve grande repercussão; e, quem diria, participou do Programa Raul Gil, na Record, também sem causar qualquer frisson na grande imprensa.

Foi em sua terra, em entrevista à Rádio Subaé, de Feira de Santana, que ACM produziu a sua mais forte declaração contra o presidente Fernando Henrique, acusando-o de ladrão e recebendo em troca um processo do presidente. Mas mesmo esse episódio não despertou grande interesse na mídia, pois ACM procurou se retratar na tarde do mesmo dia.

O PT, que logo após a renúncia anunciou à imprensa que reabriria o caso do painel na Mesa Diretora do Senado, também recuou. Os jornalistas políticos não procuraram saber as razões do recuo, alguns poucos afirmaram que se tratava de um acordão entre o PT, que teria também o rabo preso no caso do estupro do painel, e o PMDB, atolado no problema Jader Barbalho.

Pelo andar da carruagem, os políticos imaginaram que iam passar um São João sem muita marola. Ledo engano. A revista IstoÉ, a mesma que publicou em primeira mão as declarações do motorista Eriberto França durante o processo contra Collor ? e repetiu a dose no caso ACM/Arruda com a publicação da fita gravada pelo procurador Luiz Francisco, que originou a abertura das investigações no Conselho de Ética do Senado ?, jogou água na fogueira junina dos senadores, com duas matérias de peso.

Uma intitulada "Cúmplice petista", reabrindo praticamente o caso do estupro do painel, arrolando, mais uma vez, o líder do PT no Senado, o senador José Eduardo Dutra (SE). Outra, "O inferno de Jader", divulgando a gravação de um telefonema entre um ex-procurador e um ex-banqueiro, cujo teor alveja o presidente do Senado, Jader Barbalho: ele teria vendido títulos agrários frios ao ex-banqueiro, na época em que ocupou o Ministério da Previdência no governo José Sarney, depois de passar pelo Ministério da Reforma Agrária.

A repercussão das matérias no final de semana foi total. Veja e Época, concorrentes da IstoÉ, divulgaram as matérias e creditaram o furo à revista da Editora Três, da mesma forma que todos os demais órgãos de imprensa. O Globo foi mais longe e entrevistou o ex-senador Arruda em seu refúgio na cidade de Itajubá (MG). Ele não se fez de rogado, afirmando que em seus depoimentos no Conselho de Ética deu pistas do envolvimento do senador Dutra no episódio, não mais falando porque os senadores não o provocaram ? numa atitude que ele define com hipócrita.

No que tange a Jader Barbalho, o procurador geral da República, Geraldo Brindeiro, sempre suspeito como engavetador de processos, desta vez agiu rápido. No sábado, dia 9, anunciou que solicitaria à Polícia Federal abertura de investigações, baseado nas informações publicadas pela IstoÉ.

No Jornal do Brasil, a colunista política Dora Kramer escreveu, no domingo, dia 10, um artigo em que demonstra que o líder do PT na Câmara, deputado Walter Pinheiro (BA), e o ex-líder Aloisio Mercadante estão muito preocupados com o denuncismo que assola a imprensa. Dora fez questão de frisar que só agora, com o envolvimento de Dutra, é que o PT demonstra preocupação por uma prática que recentemente vem pautando o comportamento do partido. O artigo traz à tona o possível caminho que o partido tomará, no caso de o Conselho de Ética acatar a representação do PFL, para investigar a participação do senador Dutra no escândalo do painel eletrônico.

Pelo visto, a agonia do Senado não tem dia nem hora para terminar se depender da IstoÉ, que mais uma vez demonstra levar vantagem sobre as concorrentes em matérias investigativas, pois tem a seu favor o impedimento de um presidente e a renúncia de dois senadores.

    
    
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