Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A bomba que a imprensa explodiu

CRIME ORGANIZADO NO ES

Sérgio Salustiano (*)

Em mais um capítulo da novela O crime organizado, que a imprensa oferece diariamente à população, vimos que a sede da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Espírito Santo, sofreu atentado a bomba muito semelhante ao do Riocentro, no início da década de 80. Semelhante pelo fato de ter sido um grupo que buscava, por meio de um suposto ato terrorista, a manutenção do regime militar; agora, o que se busca é inculpar o crime organizado, que tem em seus quadros integrantes do Executivo e do Legislativo capixaba. O objetivo é uma possível intervenção federal, medida que já derrubou um ministro e que está para ser novamente julgada.

Apesar de parecer um tanto simpático à manutenção do "caos", que atingiu as instituições públicas, o que levanto, na verdade, é a culpa da mídia no episódio.

Primeiramente, a imprensa, não somente capixaba, mas nacional, esqueceu do seu principal fundamento, que é a imparcialidade: dessa forma seria levantada a suspeita de que talvez pudesse ter sido um atentado interno ? não feriu ninguém ?, e que, de acordo com o tipo de explosivo (bomba de São João), deixou claro que o objetivo era somente reforçar a necessidade de uma intervenção federal no estado. Mesmo com uma força-tarefa atuando, nada melhorou: o crime organizado continua a desafiar as instituições públicas.

Segundo, a imprensa, até o momento manipulada por essas supostas vítimas, nada tem feito para servir de mediadora numa crise da qual acabou se tornando a principal causadora. Sim, a imprensa, na falta de senso que direcione seus atos, é em grande parte responsável por esse ato, pelo sensacionalismo ou a busca de audiência, pois esqueceu de como fazer jornalismo investigativo e sem comprometimento com nenhum lado da história. Esqueceu de olhar todos os ângulos dos acontecimentos, para oferecer a realidade dos fatos ao público, que assim poderia concluir quem ou o que causou o fato.

Em seu julgamento precipitado, o que a mídia conseguiu antes de qualquer investigação foi tirar conclusões, baseadas apenas em suposições, sobre os "culpados", ignorando que a bomba somente explodiu devido à falta de aprofundamento jornalístico e da imparcialidade, que deveriam ter guiado seus passos.

(*) Jornalista