Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A ‘comunicologia’ e as modas ‘pós-modernas’


A Famecos, Faculdade de Comunicação da PUC-RS, foi alterada na época da ditadura para ser estritamente técnica, para não dizer inútil, onde se aprende tudo, até desenhar diagramação a lápis, e não se sabe nada. Os alunos revoltados reclamam há décadas, e nada muda. Recentemente, na lista de discussão, ouvi o comentário de uma aluna que saiu do curso porque disse estar emburrecendo lá. Ora, se pensarmos em termos de mercado, tudo vai bem porque, afinal, que querem os grandes jornais senão repórteres robôs para o prazer dos editores marionetes? O ensino superior no Brasil se tornou o açúcar dos traficantes de especiarias. Na falta de um governo humanista, que veja desenvolvimento como investimento no homem, e não no capital, temos uma indústria do diploma, para uma classe média cada vez mais assustada e consumista.

Afonso Jr.

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As universidades privadas gastam muito bem seu dinheiro, sim. A PUC-RS, por exemplo, investe pesados recursos na contratação de capangas para reprimir as manifestações estudantis contra o aumento das mensalidades. Além de arrancar cartazes e apreender panfletos, os leões de chácara também agridem alunos que distribuem material no campus e realizam manifestações.

Isabela

Em atenção ao seu fax a respeito das acusações à Famecos, tenho a dizer-lhe que as mesmas são de tal ordem genéricas que se torna realmente difícil qualquer informação sobre o assunto.

No entanto, coloco a Famecos ao seu inteiro dispor para conhecer sua história e os esforços desenvolvidos na busca da manutenção e atualização de um ensino com qualidade e responsabilidade, onde as principais características são a atualização pedagógica, a implantação de laboratórios capazes de atender a demanda da modernidade, o desenvolvimento de programas de pós-graduação, que no presente ano iniciará o Curso de Doutorado, o relacionamento entre graduação e pós-graduação onde as monografias de um se integram com a linhas de pesquisa de outro, programa universitário de qualificação de professores, enfim uma permanente atuação, atenta aos princípios da PUCRS.

Dessa forma, a visita a nossa Faculdade, por parte de Vossa Senhoria, será, sem dúvida, o instrumento de nossa melhor resposta.

Atenciosamente,

Jerônimo Carlos Santos Braga, Diretor

Caro Victor, escrevo em resposta ao seu texto “Desagravo antecipado”, publicado na edição de 5/7/1999 do Observatório da Imprensa. A despeito das palavras excepcionalmente duras utilizadas para qualificar o meu texto (“calúnias”, “difamações”) não escrevo este texto no intuito de atingir a você, pessoalmente, ou ao Observatório da Imprensa como um todo. Não posso dizer que eu o conheça muito bem, mas de todos os encontros que tivemos, ficou-me a impressão de um sujeito sério, honesto e inteligente. E independentemente de quaisquer discordâncias que tenhamos, não existe qualquer motivo para que eu modifique a imagem que tenho a seu respeito. Por outro lado, considero o Observatório da Imprensa como um espaço muito importante para a ampliação do debate em torno do jornalismo. Ao invés disso, me contento em demonstrar que a sua apreciação sobre o meu texto é francamente equivocada, e pretendo fazê-lo através do uso de argumentos, expostos do modo mais claro possível.

Antes de mais nada, gostaria de destacar que tanto Hélio Schuch quanto Nilson Lage desempenham, à frente das Comissões de que fazem parte, funções públicas de destaque e, nesta qualidade, eles não apenas podem, mas devem ter suas credenciais e seus desempenhos avaliados e, se for o caso, criticados publicamente por cidadãos interessados. Se avalio negativamente as credenciais do professor Schuch e o desempenho do professor Lage, não estou fazendo nada mais do que exercer a minha cidadania. Principalmente se o faço de modo fundamentado.

Por certo boa parte da indignação manifestada em seu texto parece se dever ao tom, que você deve ter julgado agressivo. Pode até ser, mas o fato é que, no que quesito “agressividade”, o meu texto certamente não supera os textos aos quais tratou de responder. Há alguns meses venho recebendo, por e-mail, cartas desaforadas de professores da UFSC, dirigidas contra meus colegas e eu, classificados sob a pecha de “comunicólogos”. Este padrão esteve presente em textos enviados pelos professores Meditsch, Scotto e está presente no texto de Nilson Lage, publicado pelo Observatório na mesma edição do meu texto e do seu desagravo. Observe novamente o seguinte trecho do texto do professor Lage: “teria saído uma prova perguntando, por exemplo, qual a diferença entre saber, poder e prazer, os libertinos e os perversos, na sociedade do suplício e na sociedade disciplinar; ou então, um exercício de comparação entre o Relatório Hyte [sic] e o best seller ‘As 207 maneiras de enlouquecer um homem na cama’ – para citar alguns dos temas apaixonantes das aulas mais populares aplicadas aos adolescentes de nossos cursos”.

Tenho 32 anos, sou doutor desde os 29, publiquei um livro e diversos artigos, participo de diversos Congressos e Seminários. O meu trabalho é constantemente apresentado em público, oferecido à crítica dos colegas. E, você sabe, recebo efetivamente críticas. Em alguns casos, críticas duras.

Não reclamo, pois sei que elas se baseiam em leituras rigorosas dos meus textos e destinam-se em última análise ao seu aperfeiçoamento. Não posso admitir, porém, que o meu trabalho seja criticado in limine, como algo similar a “um exercício de comparação entre o Relatório Hyte [sic] e o best seller ‘As 207 maneiras de enlouquecer um homem na cama’”. Nem que isso seja feito em relação ao trabalho dos meus colegas, que trabalham duro, enfrentando péssimas condições de trabalho. Isto sim é agressão gratuita, uma entre várias que tenho recebido em minha caixa de e-mail. Por isso, penso que, ao se limitar ao meu texto, o seu “Desagravo antecipado” é injusto e parcial. Creio que, para se tornar mais justo, seu texto deveria se solidarizar também com todos aqueles colegas classificados com o título “comunicólogos” e descritos como deslumbrados ou débeis mentais. E, também, se dirigir aos professores da UFSC em termos semelhantes ao que utilizou para qualificar o meu texto. É importante notar que boa educação é algo que exige reciprocidade, e se o tom do meu texto é agressivo, só o é para responder a agressões previamente feitas.

Para além do tom geral que caracteriza o meu texto, porém, existem argumentos, e argumentos muito consistentes. Quando me refiro a Helio Schuch, não o faço em termos pessoais, mas avalio o seu currículo, peça chave para justificar ou não a sua presença numa Comissão de Especialistas em Jornalismo. Você afirma, no seu desagravo, que ele é um profissional sério, competente e produtivo. Não nego que ele possa ser tudo isso. Embora não o conheça (nem pessoalmente nem de ouvir falar) não tenho nenhuma razão para duvidar que ele seja um bom professor, sério, competente e produtivo.

Entretanto, isto está longe de ser suficiente para qualificá-lo como “Especialista”.

Entenda Victor: ou o título de “Especialista” é apenas uma denominação vazia ou ele efetivamente designa um profissional que, reconhecidamente, se destaca entre seus pares. Descartando a primeira hipótese pelo seu cinismo temos que, para qualificar um profissional como Especialista, não bastam testemunhos individuais, por mais sinceros que sejam. É necessário que o Especialista comprove publicamente a sua capacidade, e o melhor critério para avaliar isso é o seu currículo. No caso de uma Comissão, de cunho acadêmico, de Especialistas em Jornalismo, é necessário que o seu membro tenha pelo menos uma de duas coisas: 1) um currículo acadêmico notável; 2) um currículo profissional notável. Helio Schuch não tem nem um nem outro. Com relação ao primeiro critério, duas publicações por ano é o que a Capes julga o minimamente adequado como produção intelectual de um professor.

Sendo assim, a produção intelectual listada na homepage da UFSC é francamente insuficiente – principalmente se considerarmos o fato de que se trata de um Professor-Doutor. Quanto à experiência profissional, não há como sustentar que o trabalho do professor à frente de jornais como “Contrifactos” e “O Interior” permita qualificá-lo como “Especialista em Jornalismo”. Por nenhum critério o currículo do professor Schuch pode ser considerado brilhante. Mas, para um dos quatro “Especialistas em Jornalismo” do país, trata-se de um currículo francamente medíocre. “Medíocre” é, concedo, uma palavra dura. Mas as palavras duras são as melhores que existem para descrever a dura realidade.

Tais observações constituem calúnias ou difamações? Certamente não. Do contrário teríamos que condenar também todos os colunistas esportivos – só para ficar em um exemplo – que em algum momento se referiram a Carlos Alberto Parreira como um técnico incompetente. Ou os jornalistas que criticaram a indicação de Renan Calheiros para Ministro da Justiça por conta do seu currículo medíocre, inteiramente incompatível com as responsabilidades exigidas pelo cargo.

O meu texto anterior faz ainda uma série de considerações sobre as problemáticas conexões que têm se estabelecido entre temas tão gerais como o “Provão de Jornalismo”, a “Comissão de Especialistas em Jornalismo” e algo tão pontual como o Curso de Jornalismo da UFSC. Seriam tais observações infundadas, insinuações irresponsáveis da minha parte?

Só existe uma maneira de responder a esta questão: verificar se as minhas considerações se baseiam em evidências, se essas evidências são substantivas e se elas podem ser legitimamente articuladas de forma que, as conclusões apresentadas no meu texto anterior são plausíveis.

Vamos, pois às evidências. Antes de as examinarmos, porém, devo advertir que não são todas da mesma ordem. Em alguns casos, tratam-se de evidências circunstanciais, que nos ajudam a contextualizar o problema, mas não nos permitem, por si sós, fornecer respostas claras para eles. Em outros casos, porém, as evidências disponíveis são sólidas o bastante para que possamos atribuir a elas o caráter de evidências conclusivas.

AS EVIDÊNCIAS – O meu texto anterior apresentei nove evidências para sustentar o meu argumento. Foram elas: 1) texto de Marques de Melo ligando a discussão sobre a Comissão de Especialistas em Jornalismo ao esforço dos professores da UFSC de resistir a algo que ele chamou de “Pensamento único”; 2) textos de professores da UFSC – relativos à polêmica sobre os Especialistas em Jornalismo – que enaltecem a UFSC enquanto desqualificam o resto do ensino de jornalismo do país; 3) a constatação de que, dos quatro membros da Comissão Nacional de Especialistas em Jornalismo, dois são da UFSC, o que implica um nítido desequilíbrio em favor da UFSC na composição da Comissão; 4) a constatação de que o currículo de um dos membros da Comissão de Especialistas em Jornalismo, professor da UFSC, é nitidamente insuficiente para qualificá-lo para tal cargo, principalmente se levarmos em conta o desequilíbrio notado no ítem anterior; 5) a desqualificação in limine, por um dos membros da Comissão do Provão, de todo um conjunto de professores dos cursos de jornalismo – os “comunicólogos”, responsáveis por disciplinas teóricas que ora fazem parte do currículo mínimo desses cursos – por um dos membros de uma Comissão encarregada de avaliar os cursos de jornalismo; 6) a declaração explícita, por esse mesmo professor, de que premeditadamente excluiu do Provão de Jornalismo, conteúdos referentes às disciplinas teóricas de formação geral, as quais constituem parcela significativa do curso de jornalismo; 7) a evidência de que essa exclusão favorece cursos que priorizam disciplinas específicas sobre jornalismo em relação a disciplinas teóricas de formação geral, enquanto prejudica outros cursos, com propostas diferentes; 8) informação, coletada na homepage da UFSC, de que o seu curso conta com 17 professores dedicados ao ensino específico do jornalismo, contra apenas 7 da área de formação teórica em comunicação; 9) Matéria “Alunos de Jornalismo da UFSC acharam Provão fácil”, publicada na homepage da UFSC nos seguintes termos: “A professora Maria José Baldessar elogiou a questão sobre edição não-linear em rádio e TV. Ela disse que muitas faculdades se comprometem a trabalhar com novas tecnologias, mas não têm equipamentos de edição não-linear: ‘Os alunos que viram essa questão do Provão vão passar a exigir mais dos seus cursos’”.

Todas as evidências se baseiam nas fontes mais confiáveis que podem haver: os próprios professores de jornalismo da UFSC, o discurso institucional da sua homepage e, em um caso, um professor que, não sendo da UFSC, se dirige a eles como um aliado. Entretanto, elas não têm todas o mesmo peso. As evidências 1 e 2 são claramente circunstanciais. Tomadas em conjunto, elas nos permitem propor, de maneira bastante cautelosa a seguinte questão: existe uma relação entre a discussão geral sobre as Comissões do Provão e dos Especialistas em Jornalismo e interesses particulares do curso de jornalismo da UFSC? Elas não nos permitem, porém, adiantar quaisquer respostas a este respeito.

As evidências 3 e 4 permitem afirmar, sem qualquer receio, que existe um desequilíbrio nas Comissões de “Especialistas em Jornalismo” e do Provão.

Este desequilíbrio pode ser aferido tanto por critérios quantitativos quanto qualitativos. No que se refere aos critérios quantitativos temos uma super-representação do curso da UFSC na “Comissão de Especialistas em Jornalismo” (dois membros em quatro). Essa super-representação só seria justificável se o currículo dos professores de jornalismo da UFSC fosse extraordinariamente superior aos dos seus colegas de outras universidades. A análise do currículo de um dos representantes da UFSC na Comissão de Especialistas em Jornalismo, o professor Hélio Schuch [, mostra o contrário]. (NR: trecho truncado no original)

Note-se, que articuladas às evidências 3 e 4, as evidências 1 e 2 revelam um quadro muito mais problemático do que a princípio: agora temos que, num contexto em que os professores da UFSC estão empenhados em uma campanha de desqualificação do ensino nacional de jornalismo, o seu próprio curso conquista um espaço desproporcional à sua importância no cenário nacional nas Comissões encarregadas de avaliar o estado das coisas da área e propor modificações. Aqui temos um grave problema político.

Em seu conjunto, as evidências 5, 6, 7 e 8 apresentam um quadro ainda mais preocupante, no qual se configura claramente um deslize ético por parte de um membro das duas Comissões, o professor Nilson Lage. Iniciemos pela evidência 5: o texto “A criação da Comissão de Especialistas em Jornalismo” atenta diretamente contra o decoro exigido pela sua condição de membro da Comissão do Provão. Na condição de coordenador da avaliação de todos os cursos de jornalismo do país, seria de se esperar que o professor Lage guardasse um mínimo de isenção em relação aos cursos de jornalismo do país, e que evitasse produzir, ao menos publicamente, juízos a priori acerca deles. Entretanto, o que se pode observar é que Nilson Lage não apenas emite opiniões de cunho genérico e pouco fundamentadas sobre esses cursos, mas o faz em termos grosseiros e preconceituosos, sem disfarçar sua hostilidade para com um conjunto amplo de professores (os “comunicólogos”), responsáveis por parcela significativa da formação dos alunos de jornalismo em todo o país.

A evidência 6 é ainda pior. Candidamente, o professor confessa ter agido no sentido de excluir do provão, questões referentes a matérias teóricas de formação geral. Ora, o objetivo manifesto do Provão é analisar a formação atual do aluno de jornalismo, e isto implica necessariamente tomar como ponto de partida o currículo mínimo atualmente existente do curso de jornalismo. Não cabe à Comissão do Provão instituir um outro currículo mínimo que não aquele legalmente existente, sob pena de enviezar a avaliação. Não cabe à Comissão decretar que matérias por ora consideradas como fundamentais para a formação do jornalista, não o são mais. Não dispõe ela de autoridade para marginalizar um conjunto de saberes que, por força das regras do jogo atuais, mobilizam um conjunto significativo de professores e um enorme esforço por parte de alunos. O que poderia ser apenas um gravíssimo erro político – um erro para o qual a palavra “autoritarismo” é até modesta – torna-se, no caso do professor Lage, um caso claro de desvio ético, de abuso de poder. Somada à evidência 5 temos um resultado catastrófico: o professor Nilson Lage sugere pautar os critérios da avaliação do curso fundamentalmente pelos seus próprios preconceitos, ignorando todos os elementos da realidade que não caibam neles.

Futebolisticamente falando, é como se um árbitro declarasse seu amor por um time na véspera da decisão e, no dia do jogo comparecesse ao estádio com a camisa do seu time favorito visível por debaixo da de árbitro. O que podemos esperar da sua arbitragem? As evidências 7 e 8 apontam o caminho da resposta. Consideradas conjuntamente, elas indicam que o modelo adotado na avaliação do Provão favorece cursos de jornalismo que, como o da UFSC, acentuam desmesuradamente o ensino específico do jornalismo sobre o das disciplinas teóricas de formação geral. Se juntarmos 5, 6, 7 e 8 temos uma correlação clara entre intenção (5), ação (6) e conseqüência (7 e 8). Ou, para seguir a nossa metáfora futebolística, temos que a atuação do árbitro realmente beneficiou o time do seu coração. Finalmente temos a evidência 9. Por si só ela não é tão sugestiva, mas articulada às evidências 5, 6, 7 e 8, fornece informações importantes. Ela indica que, no entendimento de uma professora da UFSC – amparado institucionalmente pelo fato de ter sido reproduzido, de forma editada, na homepage do curso de jornalismo desta universidade – o Provão segue uma lógica “modelar” antes que realmente “avaliativa”. Em bom português, isto quer dizer que a questão (ou o Provão) viola frontalmente o seu objetivo primário de avaliar o estado de coisas atual do ensino em jornalismo para se tornar um instrumento de propaganda a serviço de um novo modelo de ensino.

Ainda para ficar na metáfora do futebol, a atitude da professora Basselar, tal como narrada pelo texto institucional do curso de jornalismo da UFSC lembra a de um torcedor que, diante do gol salvador do seu time favorito invade o campo para comemorar com o… árbitro… Não sou jornalista mas, dado que o meu (outro) texto foi publicado no Observatório da Imprensa, sinto-me no dever de observar que o método aqui apresentado se sustenta em procedimentos bastante próximos daqueles que fundamentam o jornalismo investigativo. As fontes são confiáveis, as evidências públicas e o modo da sua articulação é bastante transparente.

Para que este argumento não fique ad hoc sugiro a consulta ao excelente livro de James S. Ettema e Theodore L. Glasser: Custodians of Conscience. Investigative Journalism and Public Virtue. New York: Columbia University Press, 1998).

Repito, não sou jornalista e não tenho pretensão a sê-lo e, óbvio, não estou de modo algum sugerindo que meu texto seja de natureza jornalística. Apenas afirmo que o processo de coleta das evidências de que faço mão, a quantidade e a natureza dessas evidências e as conclusões que produzo a partir delas são perfeitamente condizentes com aqueles que se processam no jornalismo investigativo. Com isto quero dizer que, se o argumento desenvolvido neste texto talvez não seja suficiente para ser usado como prova em um tribunal – até porque não identifico nenhum crime aqui – mas isso não justifica que ele seja qualificado como calunioso, a não ser que banalizemos o sentido da palavra “calúnia”. Isto certamente não serviria à causa da liberdade de expressão, em um momento bastante delicado, ao menos para o jornalismo.

Creio que minhas alegações sobre abuso de poder e quebra do decoro exigido pelo cargo pelo professor Nilson Lage são bem fundamentadas e me sinto no dever de denunciá-las. Acredito que diante das evidências apresentadas, caberia a ele renunciar à sua participação em ambas as Comissões, ou ser afastado. Ao fazer isso, não me sinto como um difamador, um caluniador, um desagregador. Sinto-me como um cidadão que exerce o seu direito à crítica de maneira responsável, dentro das normas que definem a liberdade de expressão.

E, sobretudo, não me sinto desconfortável em apresentar meus argumentos em um espaço que tem como lema “A imprensa é serviço público: a sociedade deve avaliá-la permanentemente”. Um abraço,

Afonso de Albuquerque

Victor Gentilli responde: Caro Afonso, sua carta reafirma opiniões e julgamentos pessoais que o Observatório não comunga nem partilha. O julgamento é do leitor. V.G.