Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A crise dos jornais de esquerda na Itália

A Itália é um país curioso. Durante anos, manteve jornais diários de esquerda relativamente fortes e expressivos. O L’Unità, jornal diário ligado ao ex-partido comunista, circula desde o fim da Guerra, e o independente Il Manifesto, da combativa Rossana Rossanda, circula há mais de 26 anos. Com a dissolução do antigo PCI, a revista semanal Rinascita deixou de circular e o L’Unità continuou vinculado ao novo partido Democrático de Esquerda (PDS). A minoria que recusou a nova proposta partidária criou um novo partido, Refundação Comunista, e um jornal, Liberazione. Até cerca de um ano, os jornais de esquerda na Itália viviam uma fase de esplendor. O que a esquerda italiana nunca conseguia era alcançar o poder, embora por várias vezes chegasse perto disso.

Com o professor de economia Romano Prodi à frente, e pela primeira vez sem o veto papal, a esquerda finalmente alcançou o poder, com a Ulivo, coligação da Oliveira, tendo à frente o PDS, ex-PCI. E nele permanece, com o apoio inclusive da Refundação Comunista, que embora não faça parte da coligação vitoriosa resolveu uma crise política há algumas semanas mantendo o apoio ao governo por mais um ano.

Aliás, um governo que vale a pena acompanhar: de esquerda, mas propondo uma reforma do Estado muito parecida com a que FHC propõe aqui tendo o PFL como parceiro e a esquerda na oposição. Pena que os jornais brasileiros cubram pouco a política italiana.

No entanto, com a `vitória da coligação da Oliveira, liderada pelos ex-comunistas do Partido Democrático da Esquerda – PDS -, os jornais de esquerda na Itália passaram a enfrentar uma das mais duras crises de sua história.

A situação, em resumo, é a seguinte: o L’Unità foi o primeiro jornal italiano a oferecer uma home page na internet. Foi também o primeiro a sair. Enfrenta hoje uma difícil crise. O Il Manifesto, de Rossana Rossanda, o Liberazione, da Refundação Comunista, também estão enfrentando dificuldades. As tiragens estão caindo, as empresas estão em dificuldades.

Há várias interpretações para o fato. Alguns entendem que os jornais partidários e vinculados a correntes não têm mais razão de existir. Outros apontam ou acrescentam a crise de representação contemporânea. Há quem veja problemas de identidade entre manter um jornal de “partido” e governar para a “sociedade”.

Um bom debate sobre o tema pode ser encontrado nas páginas do Il Manifesto, na Internet.

Recomendo particularmente os textos de Pietro Ingrao, Rossana Rossanda e de Luigi Pintor, um intelectual independente, influente e original.

(Ver abaixo o endereço do debate.)