Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A falta uma sucursal regional

COBERTURA ELEITORAL

Chico Bruno (*)

Repórteres e analistas políticos da grande imprensa sempre informaram aos leitores que Tasso Jereissati continuava magoado por não ter sido escolhido o candidato a presidente do PSDB. Há muito discordávamos dessa tese. A nosso ver, a pré-candidatura de Tasso era uma grande jogada política: ele sempre foi o artífice da campanha de Ciro Gomes, secundado por Antônio Carlos Magalhães. Se Tasso emplacasse a candidatura, Ciro renunciaria e vice-versa. E a imprensa não viu.

O segredo de polichinelo se desvendou publicamente com a carta endereçada por Tasso ao PSDB. Nela o tucano cearense informa que está se desligando da campanha de Serra por questões de política regional e, conseqüentemente, subindo na arca de Noé de Ciro Gomes.

O conteúdo da carta é esfarrapado, pelo menos para quem sabia o que vinha ocorrendo nos bastidores da campanha de Ciro há mais de um ano. Afinal, não se sai de onde nunca se entrou. Tasso nunca embarcou na campanha de Serra. A decisão de Tasso, numa mudança de estratégia, foi tomada porque Ciro, com seu destempero verbal, estava afastando o empresariado de sua campanha e com isso ficando a míngua de recursos.

Com Tasso apoiando abertamente Ciro, entendem os coordenadores da campanha que as doações vão jorrar. Esta é a única razão da mudança. O presidente Fernando Henrique, inclusive, foi avisado da decisão com 15 dias de antecedência pelo próprio Tasso, por isso o presidente disse que foi apunhalado pelo cearense "pela frente". Esta deferência não foi estendida a mais ninguém, daí ter apanhado de surpresa os tucanos e a grande imprensa.

Solidão e desinformação

A reações tucanas mais radicais partiram do deputado federal Jutahy Magalhães e do prefeito licenciado de Vitória Luiz Paulo Velloso Lucas, os menos indicados para tanto, haja vista que em 1994 Jutahy não apoiou o candidato Fernando Henrique, e sim, Lula. A dobradinha na Bahia era Lula presidente, Jutahy governador. Já o prefeito de Vitória e atual coordenador geral da campanha de Serra, em 1998 não apoiou o candidato tucano ao governo do Espírito Santo. Pois foram estes dois ausentes que sugeriram que o caso Tasso seja submetido ao Conselho de Ética do PSDB. Logo eles, que já desacataram decisões do PSDB e nem por isso foram submetidos ao conselho. Mais uma vez os aliados de Serra acabam atrapalhando mais do que ajudando a candidatura. A mídia nem menciona tais contradições.

A imprensa nacional não domina mais as questões regionais. Por isso continua a noticiar que Tasso assim reagiu por ter sido preterido em favor de Serra. Esta é mais uma fofoca plantada em Brasília, e permanece no noticiário pela preguiça da imprensa em ir fundo na apuração dos bastidores das campanhas. Na verdade, quem decidiu que Ciro seria o candidato, e não Tasso, foram as pesquisas. Pois o pacto cearense era: quem estivesse melhor seria o candidato. Os dois candidatos ao mesmo tempo jamais. Esta atuação pífia da imprensa pode ser creditada à extinção das sucursais regionais. Hoje os grandes jornais mantêm, quando mantêm, correspondentes solitários. E a maioria usa o free-lance. Um caso ilustrativo do que ocorre hoje é que todos os correspondentes dos jornais do eixo Rio/São Paulo em Alagoas começam suas matérias sobre Collor afirmando que ele lidera as pesquisas de intenção de votos, uma informação incorreta, pois até agora não foi divulgada nenhuma pesquisa registrada no estado.

A solidão do correspondente gera a informação distorcida, o que não acontecia no tempo das sucursais.

(*) Jornalista