Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A imprensa em festa

Bem-vindos ao 5º Congresso Internacional de Jornalismo da Língua Portuguesa

Alberto Dines

  • No dia 7 de junho começa no Recife um mega-evento, o quinto de uma série iniciada modestamente como um colóquio, em 1992, na cidade do Porto, Portugal. O segundo, em dezembro de 1994, no Rio de Janeiro, já foi um portento – a maior delegação de jornalistas, empresários e executivos portugueses e africanos já vinda ao Brasil. Em seguida, abril de 1996, foi a vez de Lisboa e de novo uma marca: a maior delegação de jornalistas brasileiros a encontrar-se com seus colegas africanos e portugueses fora do Brasil. Três anos depois, 1999, nos antípodas, Macau. A distância encolheu a quantidade de participantes mas não a qualidade da participação. E valorizou o seu significado – poucos meses depois o território passaria ao domínio chinês.
  • Em todos esses encontros, um denominador comum, angústia compartilhada. Timor. Em 1994, no Rio, veio como convidado José Ramos Horta (dois anos antes de receber o Nobel da Paz), que pela primeira vez aparecia em público no Brasil para falar sobre um lugar que muitos jornalistas brasileiros mal conseguiam localizar no mapa. Ano passado, em Macau, o congresso teve outro timorense, o líder Xanana Gusmão, num vídeo especial gravado na prisão em Jacarta. No Recife, pela primeira vez, dois jornalistas timorenses, livres e sem medo, falarão sobre as suas experiências durante o terror indonésio e sobre os projetos de reconstrução da sua pátria.
  • O Congresso do Recife está sendo organizado pelos Observatórios da Imprensa do Brasil e de Portugal, pelo Sindicato de Jornalistas de Pernambuco e a Fenaj. É fruto de uma parceria entre jornalistas mas é um encontro para discutir o jornalismo.
  • Está sendo chamado de mega-evento porque além do seu temário abrigará cinco outros conclaves paralelos, sendo que um deles, dos empresários portugueses, o II Congresso da Imprensa Portuguesa (promovido pela Associação de Imprensa Diária e a Associação da Imprensa Não-Diária, AID/AIND). Os outros: o I Encontro de Imprensas Oficiais de Língua Portuguesa; o Encontro de Cooperação da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa); o 1º Encontro de Comunicação Empresarial de Língua Portuguesa, promovido pela Aberje, Apce e Acelp; e a pré-conferência “Reforma Agrária, Mídia, Sociedade – 500 anos de olhar sobre a terra”.
  • Têm presença confirmada no Congresso o ministro da Justiça José Gregori, o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna e os jornalistas brasileiros Adhemar Altieri, Ali Kamel, Ari Schneider, Beth Costa, Dulce Maria Pereira, Heródoto Barbeiro, Leão Serva, Lira Neto, Luiz Egypto, Luiz Fernando Levy, Marco Antonio Coelho, Marcos Wilson, Matinas Suzuki Jr., Max Alvim, Renato Machado, Ricardo Setti, Rossini Barreira, Ulisses Capozolli, Victor Gentilli e Walter Matos Júnior.
  • Este é o primeiro ano em que o Dia da Imprensa foi comemorado a 1º de junho. O 10 de setembro ficou para as calendas. Nada contra o diário oficial que na ocasião chamava-se Gazeta do Rio de Janeiro – foi fundamental para o início do funcionamento do Estado brasileiro. Mas não podíamos ignorar os demais paradigmas jornalísticos sob pena de passar uma borracha em capítulos cruciais de nossa história. Toda efeméride é simbólica e esta troca de efeméride mais simbólica ainda. Nossa matriz já não é o jornalismo institucional mas o jornalismo de idéias. Vitória de todos, sobretudo dos jornalistas gaúchos reunidos na Associação Riograndense de Imprensa (ARI), que sempre batalharam para lembrar a figura e a obra de Hipólito da Costa, o criador do Correio Braziliense. A recuperação do patrono é também obra do nosso decano, o jornalista e historiador Barbosa Lima Sobrinho, biógrafo e profundo conhecedor da obra de Hipólito. A primeira vez que este Observador referiu-se à impropriedade da data foi em setembro de 1975, nos primeiros meses de publicação da coluna Jornal dos Jornais, na Folha, e já naquela época a ARI engajava-se na cruzada que acabou vitoriosa em 1998 [Veja nota “Calendário corrigido”, no Circo da Notícia desta edição]
  • A reprodução facsimilar do primeiro volume (1808) do Correio Braziliense será lançada formalmente no Congresso do Recife. O projeto é uma iniciativa da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Instituto Uniemp e Labjor, esta entidade co-irmã deste Observatório. Está prevista a reprodução integral dos 29 volumes, até 1822, e mais dois complementares (índice remissivo e notas). Todos os originais pertencem à biblioteca de José Mindlin. Informações: 0800-123-401. Livraria Virtual: <www.imprensaoficial.com.br>. Preço: R$ 39,00. Informações e promoções nas próximas edições deste Observatório.
  • Dia Mundial das Comunicações Sociais e o Jubileu dos Jornalistas instituídos pelo Vaticano foram comemorados no dia 4 com a publicação de um importante documento – “A ética na comunicação”. Apesar do seu relacionamento com a teologia católica e as constantes referências aos documentos pontificais anteriores, ele deve ser lido por todos aqueles que se preocupam com o perigoso envolvimento do jornalismo com as exigências dos mercados [veja a íntegra do documento na rubrica Interesse Público, nesta edição].
  • O ciclo festeiro encerra-se no dia 12, no Rio, com o evento duplo: o 53º Congresso Mundial de Jornais e o 7º Fórum Mundial de Editores. Convém registrar que o encontro dos editores não chega a ser um encontro profissional porque reúne apenas os responsáveis pelas redações (sempre escolhidos pelas empresas). Faltou apetite para um evento jornalístico efetivamente pluralista como o do Recife.

Visite o site do 5º Congresso Internacional do Jornalismo de Língua Portuguesa
De 7 a 9 de junho de 2000, em Recife e Olinda, Pernambuco, Brasil.

O tema do Congresso – 500 + 500: Um olhar no passado, um passo para o futuro – propõe uma reflexão sobre o exercício do jornalismo como é praticado hoje e seus desafios e perspectivas. A programação do evento prevê, para cada dia de trabalho, uma sessão plenária – sobre eixos temáticos como “A ética e a crítica da mídia”; “As novas tecnologias e a comunicação do futuro”; “O humanismo, a cidadania e o jornalismo”. Mesas-redondas e oficinas abordarão temas conexos às conferências. Os inscritos poderão apresentar trabalhos nas mesas-redondas da programação.

Outros três eventos se realizam paralelamente ao 5º Congresso: o 2º Congresso da Imprensa de Portugal, promovido pela Aid e a Aind; o 1º Encontro de Imprensas Oficiais de Língua Portuguesa, promovido pela Associação Brasileira de Imprensas Oficiais (Abio), e o Seminário sobre Cooperação Internacional na Comunidade Lusófona – este ano, o Brasil assume a presidência da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Promovido e organizado pelo Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco, a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), os Observatórios da Imprensa do Brasil e de Portugal, o Laboratório de Jornalismo da Universidade de Campinas (Labjor) e o Instituto Universidade-Empresa (Uniemp), o Congresso reunirá jornalistas, comunicadores, empresários da comunicação (TV, rádio, jornal, revista, internet), acadêmicos, profissionais de categorias conexas e estudantes dos países e comunidades lusófonas.

 

Na véspera da abertura oficial do 5º Congresso Internacional do Jornalismo de Língua Portuguesa, reunido entre 7 e 9 de junho no Centro de Convenções de Pernambuco, terá lugar a pré-conferência Reforma Agrária, Mídia e Sociedade: 500 Anos de Olhar Sobre a Terra, com a presença do ministro da Reforma Agrária Raul Jungmann, do presidente do Incra Orlando Muniz, e do secretário de Política Agrária e Meio Ambiente da Contag, Sebastião Neves Rocha.

A conferência inaugural, às 9h30 do dia 6, caberá ao escritor e professor da UFPE Manoel Correia de Andrade. O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, João Pedro Stedile, falará às 15h30 sobre Reforma agrária no Brasil – uma perspectiva dos sem-terra. O jornalista Alberto Dines encerrará a pré-conferência, às 17h.

O objetivo da pré-conferência é analisar como a reforma agrária se dá de verdade, como os órgãos oficiais pretendem que ela seja, como ela é vista pelas famílias assentadas e sem-terra, como a imprensa divulga os fatos e como a sociedade recebe as informações. Recuar na história, olhar 500 anos de exploração fundiária, integrar visões, explorar diferenças, assentar crenças; comunicar verdades sobre uma das mais significativas heranças lusitanas: o latifúndio. Analisar as diferentes experiências fundiárias dos países lusófonos, Portugal e África nos extremos de um modelo colonial de exploração agrícola de dois séculos; Angola e Moçambique e suas experiências revolucionárias socializantes. Debater a questão fundiária no Brasil vista pela mídia, explorando as diferentes percepções de governo, dos partidos políticos, dos organismos não-governamentais, da Igreja, de empresas agrícolas e, sobretudo, da imprensa. Da imprensa e sua maneira peculiar de processar os fatos, filtrá-los e difundi-los para a sociedade. Da imprensa da grande empresa e da presa da grande imprensa: a sociedade cativa das suas verdades. Como o jornalismo ético pode contribuir para a formação de uma opinião pública consciente sobre as questões fundiárias e contribuir para as transformações necessárias no modo de exploração fundiária do Brasil.

 

Esta será a 5ª edição de um Congresso que já vem sendo realizado regularmente há oito anos. O primeiro foi na cidade do Porto em 1992; o segundo, no Rio de Janeiro, em 1994; o terceiro, em Lisboa, 1996 e o quarto, em Macau, em 1999 – ano em que oficializou-se a devolução de Macau para a China.

O tema 500 + 500: Um Olhar no Passado, um Passo para o Futuro retrata um momento de reflexão. Os debates terão como objetivo ver o exercício do jornalismo tal como ele é praticado hoje e como será desempenhado no futuro, seus desafios e suas perspectivas. A programação do evento prevê, para cada dia de trabalho, uma sessão plenária voltada para todo o público e, no outro turno, mesas redondas e oficinas. Os inscritos poderão apresentar trabalhos nas mesas-redondas da programação.