Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A imprensa merece respeito

COBERTURA DOS CANDIDATOS

Chico Bruno (*)

No decorrer da semana passada, o jornalista Villas-Bôas Corrêa, do alto da sua experiência, escreveu artigo no Jornal do Brasil provando por a mais b que a participação de quatro jornalistas no debate da Band foi um desrespeito à categoria. Realmente, a aparição dos quatro se restringiu a dois ínfimos minutos, cada um fazendo perguntas de 30 segundos, e um candidato sendo sorteado para responder. Aos jornalistas não foi dado nem o direito a réplica.

Augusto Nunes, também, do Jornal do Brasil, foi um dos jornalistas que protagonizaram essa participação insólita. Em artigo publicado no dia seguinte concordou com Villas-Bôas Corrêa e anunciou que não mais pagaria esse tipo de mico.

O alerta de Villas-Bôas Corrêa e a atitude posterior do Augusto Nunes remetem às agressões verbais que os profissionais escalados para a cobertura do dia-a-dia dos candidatos vêm sofrendo por parte do candidato Ciro Gomes. Homem de pavio curto e intransigente, o candidato tem estabelecido, nesta campanha, todos os recordes de desrespeito a jornalistas, radialistas, fotógrafos e cinegrafistas. Enumerá-los tomaria muito tempo do leitor. Bastam dois exemplos marcantes: um quando chamou fotógrafos de "babacas", e outro quando arrancou o gravador das mãos de um radialista.

A imprensa tem noticiado com constância tais atitudes. Alguns jornais, inclusive, vêm contabilizando o número de agressões do candidato, não só contra profissionais de comunicação, mas também contra pessoas que ousam discordar de suas propostas.

O caso mais marcante foi o do estudante Rafael dos Santos, da Universidade de Brasília. Para evitar que o rapaz se manifestasse sobre a questão das cotas para negros nas universidades, Ciro Gomes impediu que ele usasse o microfone. "Ninguém falou no microfone. Só porque ele é um negro lindo vai falar no microfone? Isso é demagogia, isso é o que discrimina o negro. Só porque é negro fica com peninha e dá o microfone", afirmou Ciro Gomes, para espanto da platéia. A atitude do candidato gerou protesto das entidades negras baianas, que foram às ruas de Salvador denunciar o episódio.

Infelizmente, ao contrário dos movimentos negros, nenhuma entidade de classe ? jornalistas, radialistas, fotógrafos, cinegrafistas ? se manifestou contra as atitudes no mínimo impertinentes, para não se dizer outra coisa, do ex-radialista Ciro Gomes, hoje candidato à presidência da República. Se ele candidato age assim, imaginem presidente eleito do Brasil.

(*) Jornalista