Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A imprensa é um caldeirão


Paulo Vodianitskaia (*), de Joinville

 

E

m seus estudos sobre o I Ching, o oráculo milenar chinês, o célebre pensador suíço Carl Gustav Jung certa vez consultou o livro para que opinasse sobre sua própria tradução – realizada por um seu amigo, o sinólogo Richard Wilhelm, e prefaciada por ele, Carl. A figura que resultou como resposta mostrava a figura de um caldeirão, veículo do alimento intelectual ou espiritual, que se bem utilizado conduz a importantes e indeléveis transformações interiores em quem o consulta. Ora, a mesma analogia pode ser aplicada à imprensa, como vetor que forma e transforma conteúdos conscientes ou inconscientes do indivíduo e da sociedade.

Os antigos chineses acreditavam que aquele que nutre deve ser nutrido, assim como quem é nutrido deve também nutrir. O tema escolhido para a OfJor Ciência 97 resgata e celebra com rara felicidade esse intercâmbio, através do encontro de dois tipos de alimento: o alimento no sentido físico, e aquele entendido no sentido intelectual, no caso o abordado sob o ângulo do jornalismo científico.

Esse sentido mais elevado do alimento encontra eco em outras tradições, como a hindu, a judaica e a cristã. Seria tedioso incluir neste artigo uma discussão sobre seu sentido sacramental cristão. De caráter mais extático que o maná, o soma hindu é descrito no Rig Veda como um rio de manteiga sagrada que deve ser "protegido por cem cercas, para que o inimigo não possa vê-lo". Esse extremo cuidado é necessário tanto aos processos industriais prescritos pela moderna tecnologia de alimentos quanto ao jornalista científico que aborda o alimento como tema, passando também pela criação e desenvolvimento do refrigerador ou congelador que o conserva.

Como a essência das ações e motivações humanas se mantém ao longo dos séculos, podemos seguir um pouco mais adiante na nossa análise da OfJor Ciência 97 pelo ponto de vista da ancestral tradição chinesa. Tratamos aqui da nutrição, que traz – a exemplo do alimento – um duplo significado análogo.

A figura pré-ideogramática que representa a nutrição no I Ching lembra muito apropriadamente a de uma boca aberta. Preenchendo-se esse vazio pouco a pouco com linhas inteiras ou yang de forma a satisfazer a necessidade de nutrição – segundo a linguagem binária, característica do homem primitivo, de Leibnitz e da era da informática – chega-se primeiramente à representação da verdade interior, e finalmente à do poder celestial, que também representa a criatividade.

Assim, através das indicações e comentários sobre essa mutação podemos colher algumas indicações para o jornalismo científico criativo: primeiramente o indivíduo (seja ele o jornalista ou o cientista) deve afastar-se do caminho habitual, e mover-se em direção à fonte da informação. À medida em que encontra a parceria adequada ele deve seguir em linha reta, renunciando a qualquer partidarismo, de modo que sua verdade interior se mantenha preservada. Essa adequada – e milenar! – estratégia de ação tem sido seguida de maneira notável pelos participantes da OfJor Ciência 97, o que é um motivo de grata satisfação para nós da Brasmotor e da Multibrás S.A. Eletrodomésticos.

 

(*) Pesquisador

 

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