Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A inflação dos "especialistas"

MÍDIA & PREGUIÇA

Chico Bruno (*)

A mídia brasileira de quando em vez exagera. Vira e mexe aparecem modismos que tomam conta de todos os veículos de comunicação sem exceção. Atualmente, quem inflaciona os centímetros das colunas das páginas dos jornais e os espaços de emissoras de televisão e rádio são os "especialistas". A mídia brasileira tem estes consultores a sua disposição, a tempo e hora. Claro que existem entre eles os competentes, mas infelizmente a maioria pisa na bola ou escorrega no tomate. Não existe uma pauta sequer em que lá não estejam os "especialistas". Na maioria das vezes agredindo a inteligência dos leitores e espectadores com muitas abobrinhas.

Um dos mais acionados pela imprensa é o economista e ex-ministro, de triste lembrança, Maílson da Nóbrega. Esta semana, ele se faz presente nas páginas da Veja, analisando a escolha de Henrique Meirelles, ex-presidente mundial do Banco de Boston, para a presidência do Banco Central. O "especialista" condena a indicação, afirmando que nem em países subdesenvolvidos se escolhe um político para dirigir um Banco Central. Ora, convenhamos, Henrique Meirelles trabalhou no mercado financeiro em toda a sua vida profissional. São mais de 30 anos de labuta no mercado nacional e internacional.

Marketing pessoal

Ao se aposentar, no início deste ano, decidiu voltar ao Brasil e concorrer a um cargo eletivo. Uma tentativa de mudança radical em sua vida. Elegeu-se o deputado federal mais votado de Goiás, seu estado natal. Mas, ao que parece, não gostou da experiência, pois na primeira oportunidade, antes mesmo de tomar posse do mandato conquistado, renunciou, desfiliou-se do partido que abrigou sua candidatura e voltou ao mercado. Mas para o "especialista" Mailson da Nóbrega mais valem seus poucos meses na política do que toda a experiência acumulada em muitos anos de trabalho no mercado financeiro.

Na CBN/Rio, outro "especialista", de cujo nome não me recordo, afirmou que o PT não tem quadros para preencher todos os cargos do governo. Uma grande tolice, arrematada com uma pérola: "O futuro governo não tenta a coalizão, tenta apenas a governabilidade." E assim vão os "especialistas", dando declarações a torto e a direito, com nexo e sem nexo, ajudando a confundir ainda mais a cabeça de leitores e ouvintes.

Esta epidemia que assola a mídia brasileira é fruto da preguiça e da falta de interesse dos jornalistas mais novos em se dedicar com mais afinco à profissão. Os jornalistas recém-formados chegam às redações em estado cultural pior do que os que se iniciavam antigamente, antes da obrigação do curso universitário. E o mais incrível e que não se esforçam em crescer na profissão, a maioria se contenta em ser papagaio, ou seja, levam as perguntas prontas ao pé da pauta e as reproduzem preguiçosamente, às vezes causando espanto ao entrevistado. Quase sempre entram e saem da entrevista sem saber ao certo o que faz o entrevistado ? aliás, freqüentemente usam o telefone para cumprir suas tarefas.

Na televisão e no rádio se valem da ajuda dos produtores, que fazem todo o trabalho de apuração e marcação de entrevistas. E assim vai caminhando a mídia brasileira, com seus "especialistas" que fazem qualquer negócio para promover seu trabalho de consultoria. Há "especialistas" que se valem de assessorias de imprensa para cuidar da relação com a mídia e sugerir seu nome para comentários em determinados episódios.

Que são sempre bem-vindos.

(*) Jornalista