Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A janta de Dona Marisa

COLUNISMO SOCIAL

Luiz Antonio Magalhães

A saudade da Era FHC entre os colunistas sociais é grande e vem aumentando a cada dia. A corte petista, já bem instalada na capital federal, tem hábitos muito diferentes da que a antecedeu. Já no início do ano, os desolados colunistas relataram que os novos poderosos preferem freqüentar, em seus momentos de lazer, botecos simples ou promover churrascos familiares a participar de jantares faustosos nos restaurantes estrelados de Brasília, como era corrente no tempo de Cardoso, para deleite dos jornalistas que por "obrigação profissional" acompanhavam os políticos noite adentro.

Na semana passada, as colunas destacaram, perplexas, o fato de a primeira-dama, Dona Marisa Letícia, usar a brasileiríssima expressão "janta" para chamar à mesa os convidados do casal presidencial no Palácio do Alvorada. Um colunista reportou detalhes: Marisa teria advertido aos convivas que se eles não se apressassem, "a janta iria esfriar".

A esperança venceu o medo, Lula foi eleito, mas os colunistas não esqueceram o preconceito de classe. Fazem questão de lembrar a origem popular do presidente e de sua mulher, de preferência jocosamente. De fato, parece ser mais fácil outros operários chegarem ao poder do que mudar a mentalidade de uma elite servil e canhestra, que prefere os defeitos de seus colonizadores às virtudes do seu próprio povo. Os colunistas são o retrato acabado desta elite.