Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A leitura como prática de liberdade


Esdras do Nascimento

 

Ruth Rocha, a escritora mais famosa do Brasil, está comemorando trinta anos de atividade literária. Ela já escreveu cerca de 130 livros, vendeu mais de 8 milhões de exemplares e está na relação de best sellers de obras para crianças com Marcelo, Marmelo, Martelo, que já ultrapassou a casa de 1 milhão de exemplares vendidos e está fazendo sucesso também no teatro.

Aos 68 anos de idade, ela continua a visitar escolas e a bater papo com as crianças. É disso que mais gosta na vida, além de escrever. Sente-se bem na companhia dos garotos e acha estimulante o convívio com eles. Tem um filha, para quem contava histórias na infância, e continua a fazer isso para os dois netos. Aonde vai, sempre lhe pedem dicas sobre como escrever bem. Em entrevista ao suplemento infantil do Estado de São Paulo (12/6/99), ela disse que a primeira dica é ler; a segunda, ler; a terceira, ler. Quem não gosta de ler jamais virá a escrever bem.

Na infância, ela ouvia histórias contadas pelo avô e pela mãe. Quando começou a ler, já conhecia a maioria dos enredos, que lhe haviam sido narrados pelos dois: “Quando a mãe canta canções de ninar está valorizando a palavra e ampliando o vocabulário da criança. Na educação de meninos e adolescentes, e na formação do hábito da leitura, a mãe tem 100% de responsabilidade; a escola, 100%; e sociedade, mais 100%. Os pais reclamam que os filhos não gostam de ler, mas dificilmente entram numa livraria e compram livros para eles. Preferem gastar em videogames, brinquedos e bonecas, que custam muito mais caro do que os livros”.

A propósito de leitura e escrita, a revista Época, de 14/6/1999, divulga resultado de pesquisa comprovando que “a volta da redação aos exames vestibulares estimula o uso da linguagem escrita entre as novas gerações e melhora a cada ano a qualidade dos textos produzidos por adolescentes”.

A professora Maria Thereza Fraga Rocco, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, desde 1978 analisa redações escritas nos exames vestibulares. “Há 20 anos” – disse ela à Época – “os candidatos faziam textos catastróficos, embora não fossem maus alunos. Eles não tinham aulas práticas sobre como fazer uma boa redação.”

No Colégio Bandeirantes, em São Paulo – informa Época os professores usam recursos audiovisuais e estimulam a formação de grupos de discussão sobre técnicas de redação, para complementar as aulas teóricas.

O resultado tem sido bom. Os candidatos ao vestibular estão apresentando textos cada vez melhores. Desde que acabou a praga da múltipla escolha, imposta pela ditadura, e voltou a exigência de provas discursivas, os colégios se adaptaram, nos diversos níveis escolares, e se empenharam, em escala maior ou menor, em motivar os alunos a ler com regularidade livros sobre temas com os quais eles de alguma forma se identificassem. E a presença de escritores nas salas de aula – conversando com os alunos sobre os seus livros, os motivos que os levaram a escrevê-los, as dificuldades que enfrentaram, as técnicas usadas nas narrativas – vem sendo importante para a formação do hábito da leitura. Vamos torcer para que isso continue.