Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

A liberdade de Líbero

 

Dines acha que não. Mas que Hipólito foi contra a Independência, foi. Os eruditos argumentos de Alberto Dines são irrespondíveis. De fato, Dines, como qualquer cidadão, só polemiza com quem quer. Vejam:

"Alberto Dines responde: Costumo escolher as pessoas e as causas sobre as quais quero polemizar. Aos interessados em conhecer sem picuinhas e ressentimentos o que foi o Correio Braziliense e quem foi seu fundador, Hipólito da Costa, sugiro que aguardem a republicação facsimilada do primeiro volume (1808-1809) do nosso primeiro periódico organizada por este Observador com o selo da Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo. A.D."

E, como diz o bordão de Jô Soares, dizendo não polemizar, mas polemizando em sua resposta a minha carta, adota a regra do futebol de várzea: "Da raiz do cabelo para baixo é canela". Com efeito, Dines, deixemos de picuinhas.

Antes de prosseguir, permita-me dizer que sou dos muitos que admiram o trabalho de Dines. Nem por isso deixo de discordar de sua opinião a respeito do Dia da Imprensa e, quando o fiz, procurei fazê-lo de forma amistosa e bem-humorada.

Não pude enviar esta carta antes devido a um problema com meu computador e porque, no dia em que saiu a edição de 20 de outubro do Observatório, eu estava em Houston, recebendo da SIP o prêmio como vencedor do concurso de ensaios sobre a declaração de Chapultepec. O pequeno discurso de agradecimento que fiz está reproduzimo acima.

Acho que os eventuais leitores da carta que enviei sobre o Dia da Imprensa e da resposta de Dines merecem alguns esclarecimentos. Vamos a eles:

  • Não sou eu quem afirma que Hipólito da Costa era contra a independência do Brasil. Era o próprio em seus escritos, compilados por Barbosa Lima Sobrinho;
  • Hipólito não foi contra a independência apenas à época da chegada da Corte ao Rio, mas muito depois; depois até de D. Pedro I ter se manifestado no "Fico". Não é preciso esperar a republicação dos volumes. A menos que se coloque o Dr. Barbosa Lima Sobrinho sob suspeição, basta consultar a antologia organizada por ele e publicada pela Editora Cátedra em convênio com o MEC, em 1977. A edição está esgotada, mas é fácil encontrar exemplares em bibliotecas e sebos.

Lamento não ter servido de motivo para mais um interessante texto de Alberto Dines, e sim para uma manifestação de grosseria e mau humor. A resposta ao que escrevi é um exemplo de um recurso retórico tão velho quanto o mundo ocidental, que consiste em:

  • desqualificar o interlocutor;
  • rebaixar seus argumentos sem contestá-los;
  • prometer para um futuro impreciso e a cargo de terceiros a demonstração dos próprios argumentos.

Isto posto, retiro-me à minha insignificância. Que falem os oráculos. Atenciosamente,

Carlos Müller