Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A manipulação da cobertura

VENEZUELA, GOLPE E CONTRAGOLPE

Alexandre Meloni (*)

A imprensa suja, Folha e demais jornalões, revistas, TVs e sites, como Estadão, Veja, Globo e iG, apoiaram esse golpe sujo contra um presidente eleito legitimamente em duas eleições. Dizer que Chávez renunciou foi pura manipulação. Foram absurdas a afoiteza em apoiar esse golpe ? alguns veladamente, outros quase incontidos ?, a manipulação de dados da economia venezuelana e a omissão sobre a corrupção que reinava na Justiça e demais poderes da Venezuela. Depois, essa imprensa quer se dizer democrática.

A Globo disse no Jornal Nacional de quinta-feira que 1 milhão protestavam contra Chávez, enquanto a própria CNN noticiava terem sido 6 mil manifestantes. As imagens da Globo, "fechadas", mostravam pessoas esparsas. A campanha distorcida do mês passado, disfarçada de série de reportagens, mostram a manipulação que está acostumada a fazer, principalmente nas eleições, com os institutos de "pesquisa" (de manipulação seria mais correto; basta ver as eleições de 1998 em São Paulo).

Na Folha, o comentário de sábado, 13/4/2002, de Eliane Cantanhêde é absurdamente retrógrado, distorcido e, principalmente, antidemocrático, ao apoiar um golpe contra um presidente eleito, cujo governo não deu guarita à corrupção e ao poder econômico. A manipulação que a Sra. Cantanhêde tenta fazer e o júbilo com o golpe que transparece em seu comentário dão nojo.

Lembrem-se do golpe no Chile, em que os terroristas da CIA financiaram a greve dos mineiros de cobre (mais de 40% das exportações do Chile na época), para desestabilizar a economia daquele país e facilitar o golpe do sanguinário Pinochet. No documentário O verdadeiro Pinochet" ouve-se claramente aquele "hitlerzinho" dando a ordem de atacar a sede do governo, onde estava o presidente Salvador Allende (eleito democraticamente). Ouve-se claramente Pinochet dizer: "Matem, matem todos."

Notícias da resistência

A mesma coisa está acontecendo agora, e tem dedo dos agentes-terroristas da CIA. E a Folha, a Globo e os demais jornalões brasileiros estão apoiando esse golpe sujo contra o povo venezuelano, fazendo uma campanha distorcida contra o governo legítimo de Hugo Chávez, tentando fazê-lo parecer um demagogo e fanfarrão, que não é. A economia da Venezuela vai mal porque está sendo boicotada pelas próprias elites venezuelanas, boicotada pelos EUA e sua CIA, por grandes grupos empresariais e boicotada pela imprensa neoliberal. A economia da Venezuela também vai mal devido às enchentes do ano anterior, que arrasaram várias cidades venezuelanas, com mais de 50 mil mortos. Ao omitir esses fatos importantes conscientemente, essa imprensa suja demonstra sua verdadeira face.

Hugo Chávez incomoda a elite, venezuelana, brasileira e mundial, porque defende uma democracia em que todo o povo tenha verdadeira participação, livre das manipulações do poder econômico. E essa elite não suporta perder os privilégios. A revista Carta Capital de 30/3 entrevista Chávez: ele diz que os ricos não pagavam impostos antes de ele entrar no governo, enquanto a classe média e os pobres pagavam, embutidos nos impostos dos produtos (da mesma forma isso ocorre no Brasil, com o Imposto de Renda sugando mais dos assalariados, e a carga bruta e proporcional de IPI, ICMS, Cofins etc.). Chávez incomodou a elite venezuelana ao fazê-la pagar impostos também, diminuindo a carga sobre os menos favorecidos.

O público brasileiro deve ficar atento às manipulações da mídia e ter cuidado nas próximas eleições.

É com certa alegria (e pesar pelos feridos e mortos) que no momento em que estou terminando este comentário ouço notícias da resistência de grande parte da sociedade venezuelana contra o golpe. Oxalá a resistência tenha sucesso e a democracia seja restabelecida. Será bom para o Brasil ter esse exemplo.

(*) São Paulo; E-mail: <ameloni@ig.com.br>