Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A mídia no centro do debate

VENEZUELA
(*)

Andrés Cañizalez, de Caracas


[tradução: Jô Amado]

Acaba de transcorrer o primeiro aniversário do clímax por que passou a crise política venezuelana, entre 11 e 14 de abril de 2002. Durante esse ano, a questão da mídia ocupou boa parte do debate e a discussão sobre o papel dos meios de comunicação e dos jornalistas abrangeu diversos setores da sociedade venezuelana.

O ano que se passou desde abril de 2002, que foi um marco na história recente do país, oferece uma leitura rica, do ponto de vista da mídia. Os meios de comunicação não só reproduziram e contaram ? considerados seus interesses e limitações ? o que foi a crise política, mas também foram protagonistas de primeira fila no próprio desenvolvimento do conflito venezuelano. O discurso de jornalistas e proprietários desembocou na difícil via criada pelo presidente Hugo Chávez ? marcada pelo confronto e ataques pessoais, pela exclusão simbólica e política de um setor da população, pela simplificação das origens da atual situação e, o que ainda é pior, pelos passos que deve dar o conjunto da sociedade venezuelana para superar a crise.

O silêncio informativo de abril do ano passado é um estigma que ainda pesa sobre o desempenho jornalístico da Venezuela e ações como a "greve cívica" ? entre dezembro de 2002 e janeiro de 2003 ? em nada ajudaram a devolver a credibilidade aos veículos e aos jornalistas. A dedicação quase absoluta que foi dada, durante dois meses, à cobertura da ação de oposição não provocou um debate importante nos meios de comunicação, embora, em teoria, lhe fosse destinado muito tempo.

Uma simples avaliação que fizemos durante uma semana do mês de janeiro revelou que 85% das entrevistas dos canais privados foram realizadas com personalidades identificadas com a oposição. Em contraste com isso, 100% dos entrevistados pelo canal do Estado foram simpatizantes do governo. Rachado ao meio ? o que é uma realidade política ?, este país não conseguiu encontrar nos meios de comunicação, ou nos temas jornalísticos, opções que permitam reconhecer positivamente o outro e identificar-se nas diferenças.

O papel desempenhado pelos meios de comunicação passou, por sua vez, a ser uma obsessão presidencial: em 90% de suas intervenções, o presidente Chávez dedica pelo menos um round à mídia. A novidade, nas últimas semanas, é que as ameaças parecem estar passando à ação, com o início de processos administrativos, a incerteza de poder importar papel de imprensa e a aprovação da Lei de Responsabilidade Social da Rádio e Televisão.

Por outro lado, é a mídia que está em debate na Mesa de Negociações e Acordos de que participam o governo e a oposição desde novembro passado e que é conduzida pelo ex-presidente colombiano César Gaviria, atual secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA). A mera presença da comunicação na pauta do principal forum político que se realiza na Venezuela ? e do qual se esperam resultados concretos para superar a atual conjuntura ? não deixa margem a dúvidas de que, entre abril do ano passado e este, a mídia foi protagonista da crise.

(*) Reproduzido do boletim Interprensa, do Instituto Prensa y Sociedad <http://www.ipyspe.org.pe/interprensa>, de Lima (Peru)