Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A qualidade da formação jornalística

DIPLOMA EM XEQUE

Gerson Luiz Martins (*)

No momento em que discutimos o reconhecimento social, mais do que isso, a responsabilidade social das práticas profissionais orientadas, ou seja, dos profissionais liberais, compete-nos também refletir sobre a responsabilidade social do jornalista e antes disso como causa dessa questão a formação do jornalista. Essa reflexão acontece até mesmo porque agora não há apenas uma escola de Jornalismo no estado do Mato Grosso do Sul. São quatro instituições que oferecem o curso que forma e habilita profissionais do jornalismo.

Uma profissão considerada de grande relevância social pelas implicações que seu exercício coloca a sociedade em geral. A importância do diploma para o exercício do jornalismo, mais do que nunca, é um imperativo. Não se concebem mais profissionais que não tenham essa condição. As empresas de um modo geral exigem de seus profissionais a formação universitária, em todas as áreas. Por que não exigir do profissional que trabalha com a informação e, portanto deve estar muito bem preparado? Exemplos existem em que esse tipo de profissional conseguiu, pelo seu trabalho, destruir empresas e, conseqüentemente, pessoas por informações infundadas, mal produzidas, mal distribuídas. É uma profissão de extrema importância na sociedade da informação, a sociedade do século 21.

Costuma-se dizer que um jornalista é jornalista 24 horas por dia, equiparando-se à profissão médica, tal a importância e responsabilidade do profissional. Assim discutir a validade da exigência do diploma para o exercício profissional é balela, da mesma forma que não se discute a exigência de diploma (leia-se formação superior, universitária) para a classe médica. Essa questão está resolvida. Ponto final.

O que cabe sim discutir e buscar o aprimoramento, a qualidade, é a formação em si. Como as escolas estão formando os futuros jornalistas. Nesse aspecto já aconteceram diversos encontros que reuniram jornalistas profissionais, professores de jornalismo, pesquisadores, cientistas e tantos outros. Um desses encontros ficou marcado na história da formação em jornalismo. Um seminário realizado em Campinas (PUCCAMP) em abril de 1999, onde estiveram presentes os mais respeitáveis profissionais, estudiosos e professores de jornalismo estabeleceu os parâmetros básicos para a estruturação dos cursos de Jornalismo. Esse encontro foi de uma importância tal que o seu documento de conclusão foi tomado como base para a confecção do documento Diretrizes Curriculares para o Ensino na área de Comunicação, recentemente aprovado, na íntegra, pelo Conselho Nacional de Educação. Esse documento norteia e contribui as instituições para a criação e mesmo as reformulações dos cursos de jornalismo.

Em Campo Grande, essa perspectiva é muito presente. Desde o inicio da formação universitária do jornalista pioneiramente realizada pela UFMS a partir de 1989, todos os seus professores, coordenadores, dirigentes, pesquisadores tiveram sempre presente o aspecto da qualidade do profissional que está sendo formado. Prova disso é que temos colegas atuando nos maiores centros urbanos do Brasil, com a mesma competência de quem cursou nas melhores instituições de ensino superior deste país.

Dias contados

Essa perspectiva não mudou, melhor, ganhou força e tomou novos rumos. A base dessa formação situada na estruturação da grade curricular e na disponibilidade de bons laboratórios teve um avanço significativo. A oferta de disciplinas específicas de jornalismo no primeiro semestre do curso, a inserção de disciplinas que proporcionam instrumentais técnicos de forma mais equilibrada no decorrer dos cursos e de maneira mais significativa, demonstra e vai ainda demonstrar que excelentes profissionais estarão no mercado nos próximos anos.

Nesse aspecto destaco a grade curricular estrutura para o Curso de Jornalismo da Faculdade Estácio de Sá, fruto de uma orientação séria, profissional e de qualidade dos consultores da Secretaria de Ensino Superior ? SESu, do Ministério da Educação, que autorizaram o funcionamento do curso em verificação realizada em 1999 pelos jornalistas e professores Marcelo Lopes, na época da USP, e José Ananias de Freitas, da PUC Minas. No curso, os alunos, desde o primeiro período, tomam não somente contato, mas estudam efetivamente disciplinas específicas da formação que escolheram, não correndo o risco da dúvida, hoje comum, infelizmente, de saber qual curso fazer ? na época dos cursos com o chamado tronco comum ?, ou esperar até dois anos para enfim conhecer as "coisas" do jornalismo.

Outro aspecto interessante desse curso está em seu corpo docente. Estando ainda no início do segundo, o curso já tem cinco professores jornalistas em seu quadro, enquanto muitos, até mesmo com turmas já formadas, não têm mais do que três professores jornalistas. Nesse aspecto, costumo sempre dizer em aula: alguém já viu nos classificados, principalmente nos jornais, algum anúncio procurando comunicador? Posso estar errado, mas em toda a minha vida profissional, só me deparei com anúncios procurando jornalistas, publicitários etc.

Contudo, a preocupação com a qualidade da formação do jornalista não se esgota nesses aspectos. Tratando-se de uma profissão de caráter social, a reflexão dos procedimentos, a pesquisa ? que no Brasil é ainda incipiente ? deve ocupar um lugar de destaque. Devemos qualificar os futuros profissionais de jornalismo sempre buscando novos horizontes, novas perspectivas que melhorem a atuação, o conhecimento, as relações dos profissionais para, em conseqüência, dar uma contribuição efetiva, real ao desenvolvimento social em todos os níveis.

Essas preocupações, essas reflexões e, mais do que isso, mesmo as ações que visem a qualidade, vão minimizar os procedimentos de um pseudojornalismo, aquele praticado na troca de vantagens e, pior, aquele que constantemente, obtém ganhos financeiros com a prática da venda de espaço jornalístico. Ou ainda pseudoprofissionais que se mantêm em estruturas arcaicas por força de coação ou, como se fala nas "rodas de conversa", aqueles que têm "cartas na manga". Esses procedimentos podem ser qualquer coisa, nunca jornalismo. Práticas como as descritas têm os dias contados, felizmente. A consolidação do jornalismo local vai, de uma forma crescente, fazendo desaparecer o pseudojornalismo, o pseudoprofissional jornalista ou o jornalismo travestido.

(* ) Jornalista, professor, coordenador do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo

    
    
                     

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