Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A resposta do Fantástico

CONTÁGIO DAS FRAUDES

Luiz Petry (*)

O professor Muniz Sodré criticou neste Observatório da Imprensa uma reportagem exibida no Fantástico que mostrou as fraudes cometidas por Thomaz Green Morton, o chamado “Homem do Rá!”, para simular poderes paranormais. Muniz Sodré, autor de um livro sobre o “fenômeno” Thomaz Green Morton (Jogos extremos do espírito, Rocco, 1994), escreveu no artigo que “são mais ou menos obscuras as causas do interesse desse esforço desmistificatório”.

Nada há de obscuro na reportagem do Fantástico.

O autoproclamado paranormal em questão afirma que consegue entortar metais com o poder da mente. Diz que produz luzes sobrenaturais, bem como essências perfumadas, pozinhos energizados e mais uma galeria de aberrações que o professor Muniz Sodré teve a oportunidade de observar.

Lamento informar, professor, que o senhor foi enganado por um charlatão. Console-se: não foi o único.

Thomaz Green Morton convenceu artistas como Baby do Brasil (que o lançou na mídia nacional), Elba Ramalho, Tom Jobim, Gal Costa, Simone, Sergio Reis, para citar apenas alguns. Há também figuras de expressão na política e no empresariado que acreditam nele. Todos foram iludidos em sua boa fé. Existe ainda um número incalculável de anônimos que se envolveram com Thomaz Green Morton. Em muitos casos, pessoas que tentaram curar-se de doenças graves, e que pagaram em dólares pelo “serviço”.

O caso da atriz Dina Sfat, narrado em sua biografia, escrita com a jornalista Mara Caballero (Palmas para que te quero, Nórdica, 1988), é exemplar: a atriz, vítima de câncer, foi a Pouso Alegre, MG, numa tentativa desesperada de salvar a vida. Contou que foi manipulada, usada por Thomaz Green Morton, e encerra assim seu relato: “Essas pessoas se aproveitam da nossa fragilidade, são urubus que rondam e atuam.” Dina Sfat morreu em 1989, um ano depois do encontro com Thomaz.

Na reportagem do Fantástico, Thomaz Green Morton assegurou que é capaz de curar. E que cobra de acordo com a conta banc&aaaacute;ria do “paciente”. Disse textualmente: “Eu fixo um preço para as pessoas que têm muito dinheiro, como Robin Hood. As pessoas que têm muito, e que podem pagar, elas pagam. E pagam muito. Quando as pessoas, um banqueiro de bicho, uma pessoa que ganha muito, tem condição de me dar 20 mil dólares pra mim (sic) construir um chalezinho para receber meus amigos, com prazer eu aceito.”

Diante de indícios de charlatanismo, o que fez o repórter? Investigou. E descobriu, com ajuda de testemunhas e de um mágico profissional, que Thomaz Green Morton usa truques para enganar os outros. Não houve nessa matéria, como sugere Muniz Sodré, evidência da capacidade da mídia eletrônica de “construir ou destruir com uma boa edição de imagens a reputação de um indivíduo”.

As cenas que foram ao ar mostram as fraudes de Thomaz Green Morton de maneira clara, evidente, categórica ? do contrário, não seriam exibidas.

Em abril, diante das câmeras, Thomaz Green Morton aceitou o desafio proposto pelo mágico americano James Randi, que oferece 1 milhão de dólares a quem provar, sob adequadas condições de observação, que é um autêntico paranormal. Em junho, Thomaz assinou um compromisso para a realização do teste. Impôs local e data para comprovar seus alegados poderes. Depois, desistiu.

Nossa reportagem acompanhou todos esses passos; nesse período, exibiu vários depoimentos favoráveis a Thomaz Green Morton e a opinião de James Randi, que desde o início considerou o “Homem do Rá!” um mero farsante.

Muniz Sodré compara essa cobertura jornalística a uma novela.

Sob sua ótica, talvez o professor tenha razão.

Só que a novela acabou.

(*) Editor do Fantástico, autor da reportagem sobre
Thomaz Green Morton