Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A senzala de Lukashenko

Nahum Sirotsky, de Tel-Aviv (*)

 

As somas fantásticas que vão sendo pagas pela compra de portais e máquinas de pesquisa (search engines) da Internet indicam que o mercado considera que seu grande futuro está no e-commerce, na venda de tudo pela rede. Não há outra explicação plausível, pois a receita publicitária não justificaria tais cifras. Qualquer um dos portais conhecidos é mais visitado do que quaisquer media impressos. E já começam a competir com a TV a cabo.

Ignoro quanto cobram por espaço. Se for proporcional às visitas, como na mídia convencional, dependentes do leitor ou do espectador, os preços teriam de ser altíssimos. Não há empresa no mundo que sacrifique sua presença em outras mídias para fica só na net. E as verbas publicitárias não são ilimitadas. Nunca esquecerei a revista Colliers, americana, onde escrevia gente como Ernest Hemingway, e que pagava milhares de dólares por colaboração. Ela morreu do “mal do sucesso”, pois chegou a oito ou nove milhões de exemplares de venda sem condições de cobrar do anunciante o preço equivalente. Parece-me que Life enfrentou sorte semelhante. Foi o efeito da chamada “lei dos retornos decrescentes”, pela qual chega-se a um ponto em que o sucesso resulta em falência. Ninguém escapa dela.

A net também não conseguirá. Mas há um vastíssimo mundo de bilhões de indivíduos com potencial de consumo. Nada mais confortável do que escolher o que se quer e pagar via Internet com cartão de crédito. Mas, obviamente, é preciso atrair a visita do surfista, daí os preços pagos pelos portais conhecidos. E quem investiu esses bilhões todos se dispõe a tudo para recuperá-los com lucro. Eles já oferecem e-mails grátis, notícias, curiosidades, música. E aumentarão ainda mais as promoções. Os meios chamados convencionais se vendem pela inteligência com que apresentam a notícia, a informação…

Diz-se que os profetas morreram há séculos e que só os tolos profetizam em nossos dias. Diria que, pela lógica, a net não deverá acabar com a mídia convencional, ao menos não com aquela que souber escolher seu público e satisfazê-lo em suas necessidades de informação – as políticas como as de entretenimento ou modas.

É fantástico o que se consegue nos 16% de sites abrangidos por cada portal ou search engine. Há mesmo de tudo para quem saiba pesquisar. Mas, para começar, quem é que lerá um romance inteiro na telinha? Ou as informações das bibliotecas já digitalizadas? Terá mesmo é que imprimir.

A impressão que tenho, e a certeza que mais se aprofunda em mim, é que a net fará com que parte da mídia convencional, a que irá sobreviver, melhore de qualidade. Teremos jornais com mais profundidade em suas análises do que vai pelo mundo ou pela vizinhança. Mais criativos na linguagem e abordagem do que já fazem. Paginação mais dinâmica. E interatividade maior entre cada jornal e seus leitores.

O impresso que souber entender que seus serviços não podem se limitar ao publicado, que opere para satisfazer a necessidade de mais abrangência e detalhes do leitor, este ganhará espaço. Quem não entender que deve manter o mais íntimo e direto diálogo com o leitor, desaparecerá. De forma geral, a mídia convencional vem cometendo o erro de tentar ser de massa, o que jamais conseguirá quando comparada com os números já alcançados pela mídia eletrônica e, agora, pela net. Não será o primarismo que preservará o leitor, ou espectador, mas o além do que se obtém da Internet sem esforço de pesquisa. A mídia impressa será a mídia das elites, e terá de ser preparada com essas elites em mente. Quem não entender este fato morrerá do mal do sucesso.

(*) Correspondente em Israel da RBS-Zero Hora-Rádio Gaúcha)

 

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