Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A ética n’O Povo e a patrulha do leitor

REGIONALIDADES

A direção do jornal de Fortaleza, um dos mais importantes do Nordeste, fez uma consulta formal a este Observatório sobre a possibilidade de reproduzir um dos textos sobre a questão da pedofilia. Autorização concedida, sem nenhum favor ? faz parte do nosso objetivo ? desde que citando autoria, fonte e data.

Como o leitor pode facilmente verificar, os textos aqui publicados sobre a questão da pedofilia são analíticos, impessoais, fenomenólogicos e, sobretudo, focados no desempenho da mídia ? nosso foco central.

O jornal reproduziu o texto e, em seguida, acolheu a carta de um furioso leitor desancando pessoalmente o autor sem que tenha sido facultada ao agredido a oportunidade de replicar na mesma edição ou na seguinte.

Acresce que o patrulheiro enfezou-se não porque discordasse da questão principal ? a pedofilia ?, mas porque este Observador designou as confissões protestantes por seu nome técnico e genérico ? luteranos (caixa baixa, seguidores de Martinho Lutero). Houve o cuidado para distingui-los dos Luteranos (caixa alta, membros da Igreja Luterana) e evitar que fossem confundidos com as diferentes denominações evangélicas.

Irritou-se o missivista também com a afirmação de que o crescimento dos luteranos (protestantes ou crentes) coloca em dúvida a supremacia absoluta dos católicos no Brasil. Perdeu tempo e estragou sua bílis ? dias depois teve que engolir os dados preliminares do IBGE sobre o Censo de 2000 publicados com destaque na quinta-feira, 9/5: o grupo de protestantes subiu de 9,1% (em 1991) para 15% (em 2002) ? manchete de primeira página da Folha de S.Paulo.

É evidente que esses 15% da população não controlam os outros 85%, mas os cientistas políticos brasileiros chegaram à conclusão que o próximo presidente do Brasil será eleito pelas regiões metropolitanas das grandes capitais ? majoritariamente luteranas.

A infração deontológica do jornal e a fúria do seu leitor não são fatos estanques, isolados. Onde impera o descaso com a ética, reina a cegueira do ressentimento.