Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Adriana Mattos

CASA vs. BBB

"Mídia põe R$ 100 mi nos ?reality shows?", copyright Folha de S. Paulo, 27/02/02

"O ato de bisbilhotar a vida alheia já rendeu milhões de reais aos veículos de comunicação e às agências de publicidade. A ?Casa dos Artistas 2? e o ?Big Brother Brasil? injetaram R$ 100 milhões em anúncios e merchandising.

Deve ser um dos maiores investimentos publicitários do ano. Corresponde, por exemplo, a cinco campanhas governamentais sobre o racionamento de energia -que durou oito meses e em que foram gastos entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões.

O número foi divulgado pela Abap, principal entidade que representa as maiores agências de propaganda do país. Para chegar nesse volume foram contabilizados montantes gastos pelos anunciantes dos ?reality shows?, como Casas Bahia e Fiat, além do valor pago para que algumas marcas de produtos (como Brastemp) aparecessem dentro das casas.

É possível ter uma idéia do tamanho dos investimentos se compararmos alguns números. Os R$ 100 milhões equivalem à metade da verba total de mídia em 2000 da McCann Erickson, a maior agência do Brasil.

E é maior que o total gasto por um candidato a presidente em uma campanha nacional (entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões).

Quem decidiu colocar a marca da empresa nos intervalos comerciais dos programas teve de desembolsar quase R$ 5 milhões por uma das quatro cotas da Rede Globo. Isso com direito a anúncio em rádio, internet, revistas, jornais e TV. No caso do SBT, os anunciantes dispensaram R$ 11,2 milhões por cada uma das duas cotas. No total, foram seis cotas que somaram R$ 41, 6 milhões.

Até a terceira semana de janeiro, ninguém queria colocar a mão no bolso e pagar o que era pedido. Achavam um pouco caro. Em fevereiro, aceitaram pagar a quantia exigida. Acreditavam que o retorno em audiência compensaria o valor investido.

A Casas Bahia, por exemplo adquiriu essas cotas de participação no ?Big Brother Brasil?. E depois decidiu ter seus comerciais veiculados na ?Casa dos Artistas 2?. Há rumores de que as empresas já estão sendo sondadas novamente. Agora para anunciarem em futuros ?reality shows?, da Record e da Rede TV!. ?Esse formato pode se esgotar. Por isso é preciso fazer uma análise criteriosa para saber onde colocar a verba de seu anunciante?, diz Silvio Matos presidente da NewcommBates, agência da Casas Bahia."

 

"Psicólogos analisam reality shows", copyright O Estado de S. Paulo, 2/03/02

"O mundo caiu de joelhos diante dos reality shows. Programas como Big Brother proliferam em todo o mundo, ganham novas edições – vide Casa dos Artistas 2 – e atraem cada vez mais a audiência, o que faz a alegria das emissoras. Diante do fenômeno algumas questões ficam no ar e provocam polêmica mundial: o que leva um ser humano a invadir a privacidade de outros? Qual o impacto desses programas, principalmente no que diz respeito aos valores agregados às crianças e aos adolescentes?

?Não podemos nos esquecer que uma emissora de televisão é uma empresa, que visa ao lucro. Os jogos, que atribuem ser parte da vida real, são apenas mais um aspecto diante da péssima qualidade da programação da televisão?, observa o psicólogo Herbert Thomas Luckmann. ?Programas como do Ratinho e de João Cléber são tão sérios e precisam de fato serem debatidos claramente com os jovens. É importante formar uma consciência crítica, para isso devemos ouvi-los, propor perguntas, estimular o debate.?

Para o psicanalista Jorge Forbes esse fenômeno que assola as grades de TV de todo o mundo pode ser justificado pela perda de referências. ?Com a globalização, as pessoas não sabem como agir, não têm claro um padrão de comportamento, perderam os limites o que gerou uma crise de identidade?, afirma. ?As pessoas querem ver como as pessoas se viram na vida diante de uma série de adversidades.? Para Forbes, a sociedade vive um momento que pode ser dividido pela busca da sobrevivência e da convivência. Em programas como No Limite ou Survivor o que fica claro é a luta contra a morte. Já em Casa dos Artistas ou Big Brother tudo gira em torno da sexualidade.

Com o propósito de atrair um público cada vez maior, as emissoras nivelam de maneira simplória sua programação. ?O nível dos programas é muito baixo. Não só pela ausência de informações como pelos conceitos que transmitem aos jovens. Dois aspectos chamam a atenção e procuramos trabalhar com os alunos:

a competição desleal e a exclusão?, conta a coordenadora pedagógica do Colégio Santa Maria, Tiyomi Misawa. De acordo com Tiyomi, a repercussão é grande entre os alunos do ensino fundamental. ?Fizemos uma pesquisa e 90% dos estudantes acompanham o programa, então vimos a necessidade de falar sobre cooperação, responsabilidade e respeito ao outro.?

?Os pais precisam ter consciência que a educação vem de casa. É necessário conversar e discutir assuntos atuais. Os adolescentes procuram modelos para seguirem, é uma fase delicada, por essa razão o olhar crítico, que vem da família, é um filtro para olhar o mundo?, explica a professora da faculdade de psicologia da USP Maria Abgail de Souza.

A França pode ser vista como modelo de resistência. Os intelectuais travaram verdadeira cruzada contra o voyeurismo na TV. O Conselho Superior do Audiovisual, universitários e jornais protestaram e sugeriram programas com a participação de artistas e escritores. Em Londres, a BBC aposta em políticos. ?Acredito que algumas medidas precisam ser tomadas em relação à programação. Uma pessoa sem privacidade enlouquece. Sou a favor da estrutura francesa, de programas inteligentes?, opina Forbes."

 


"Audiência de ?Casa dos Artistas? diminui", copyright Folha de S. Paulo, 4/03/02

"?Casa dos Artistas?, que esteve no ar entre 20h40 e 22h40, teve 37 pontos de audiência, contra 26 da Globo. Na semana passada, o programa do SBT teve 41 pontos."