Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Alberto Dines

ISRAEL/PALESTINA

“Iniciativa em Genebra”, copyright Jornal do Brasil, 6/12/03

“Treinados na adversidade, acostumados com desgraças, desaprendemos a perceber os bons indícios. A Banalidade do Mal, identificada por Hannah Arendt, espraiou-se de tal forma que dopou nossa capacidade de distinguir a natureza das ocorrências. Por isso a surda indignação, a onda de ressentimentos. Daí o fascínio generalizado pelo ?fetichismo da ruptura?, para usar a feliz expressão do filósofo Ruy Fausto.

O chamado Acordo de Genebra, assinado por idealistas palestinos e israelenses, não é um acordo real. É virtual mas tem peso e valor. É um protocolo entre consciências e não entre Estados. Daí a sua força. Seus signatários não mandam nem comandam, não têm poder, não decidem, não apertam botões ou gatilhos, não governam.

Mas acreditam. São dissidentes que substituíram o ?não? pelo ?sim?. Não se trata de truque semântico ou retórico. É uma inesperada reversão na dinâmica do conflito. Simples freada do ônibus da morte que, pela surpresa, ganhou estridência ímpar. E adeptos inesperados: a ostensiva simpatia primeiro de Collin Powell e, depois, do presidente Bush indicam que, pela primeira vez em três anos, a sutileza e a sabedoria conseguiram filtrar-se no Departamento de Estado e através das frestas da Casa Branca.

É a maior ação afirmativa já tentada no plano internacional, consagração da idéia não governamental que confere ao cidadão o pleno exercício da sua faculdade de pensar e agir em benefício da coletividade.

A opção pelo nome ?Iniciativa de Genebra? (embora a mídia teime em simplificá-lo para ?Acordo de Genebra?) tem um sentido de exortação e convocação aos indivíduos e às minorias. Lembra em tudo, o apelo de Romain Rolland, Stefan Zweig e outros pacifistas europeus quando insurgiram-se contra as massas idiotizadas pelo patriotismo em 1914.

A inacreditável consonância entre a ira de Sharon e os brados dos radicais palestinos confere à iniciativa comandada por Iossi Beilin e Yasser Rabbo uma legitimação automática e consagradora: quando os extremos se tocam, a terceira via torna-se a única viável.

Na incapacidade para identificar este fato novo na situação médio-oriental reside o grande erro dos chanceleres (temos alguns) que comandam esta excursão do presidente Lula da Silva a alguns países árabes. Quando a viagem do chefe da nação foi planejada, a Iniciativa ainda não ganhara dimensão, àquela altura impossível considerá-la como alternativa ou mesmo referência na oratória das cerimônias oficiais. Mas na diplomacia – como no jornalismo – quem não tem agilidade para identificar novas informações e oportunidades condena-se a parecer requentado.

Ou ultrapassado. Esta a impressão que fica da primeira metade deste périplo presidencial: parece repeteco da ?política externa independente? preconizada por Geisel e executada pelo chanceler Azeredo da Silveira. Para afirmar-se no plano internacional depois da Crise do Petróleo, empurraram o país na doidice do Acordo Nuclear com a Alemanha e o Irã (ainda imperial).

A defesa dos nossos interesses econômicos não deveria levar-nos a um discurso político démodé. Nossa fama de criativos exige respostas mais ágeis. O estudo da aerodinâmica produziu a ?geometria variável? para que as aeronaves aproveitem todas as mudanças e circunstâncias.

Um discurso em Damasco em favor da Iniciativa de Genebra teria enorme repercussão internacional e contribuiria decisivamente para reverter o clima de ódio que envolve a região. Com o que foi dito até agora perdemos a condição de eventuais mediadores e o eco produzido confinou-se ao paroquial. Com a desvantagem de, mais uma vez, agradar aos anfitriões fechando os olhos à questão dos direitos humanos e da democracia.

Nesta era de conquistas materiais e feitos concretos, simbolismos são essenciais, com eles constroem-se padrões e paradigmas. O endereço do Armagedão não é necessariamente no Oriente Médio: isto já foi mostrado quando Anuar Sadat foi a Israel, quando firmou-se a paz com o rei Hussein da Jordânia, quando a trinca Rabin-Peres-Arafat criou o espírito de Oslo e Clinton, Barak e Arafat negociaram em Camp David.

Iniciativa é substantivo mas iniciativo é adjetivo, aplica-se a processos inovadores, ações inventivas, atitudes audazes. Se governos são passivos, se governantes confundem realpolitik com inércia e resignação, se a irracionalidade impõe-se à razão, se a ideologia sobrepõe-se aos ideais, cabe à cidadania internacional dar impulso àqueles que ousaram romper o equilíbrio do rancor e a gangorra da violência.”

 

NATIONAL GEOGRAPHIC

“NGC estréia produção nacional”, copyright O Estado de S. Paulo, 7/12/03

“O National Geographic Channel estréia, no dia 14 de dezembro, às 21 horas, A Ilha dos Golfinhos, primeiro documentário nacional produzido pelo canal. Realizado em parceria com a produtora independente Canal Azul e com a neozelandesa Nature History, o programa, que já ganhou até prêmio internacional, mostra a Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha, em Pernambuco.

Além de transmitir o documentário nacionalmente, o National Geographic Channel fará uma estréia quase que simultânea em países da América Latina e da Europa. ?Todos os investimentos e produções do canal prevêem a distribuição internacional?, fala o diretor dos canais Fox e National Geographic, Abel Puig. ?Um material como este precisa circular para fomentar o audiovisual brasileiro.?

Com a mesma produtora, o Canal Azul, o National Geographic Channel – que está presente em 19 países – já tem outros dois projetos em andamento, que serão exibidos em 2004. Um deles falará sobre a ameaça de extinção das tartarugas marinhas. Foi gravado em Noronha e na Praia do Forte (Bahia), onde existe o Projeto Tamar – de proteção a esses bichos -, e já está em fase de edição.

O outro mostrará uma viagem de Amyr Klink à Antártida. Será a primeira vez que uma equipe de filmagem acompanhará o dia-a-dia do navegador. O cinegrafista e mergulhador Lawrence Wabba, que está envolvido nos três projetos, está feliz por realizar esse documentário com Klink, pessoa que ele conhece e admira. ?Vou trabalhar junto com um grande ídolo?, comenta. Os dois mergulharão juntos nas águas geladas da Antártida. Serão 4 programas com 30 minutos cada um.

A Ilha dos Golfinhos ganhou a Palma de Bronze no Festival de Antibes, na França, que premia imagens submarinas. ?Bateu até mesmo documentários produzidos pela BBC?, festeja Lawrence Wabba, responsável por belas cenas dos golfinhos em ação na baía de Fernando de Noronha – há imagens dos animais brincando com algas, em uma espécie de jogo coletivo.

Parto – ?Mas a minha parte foi fácil?, diz Lawrence sobre sua saga para filmar os golfinhos embaixo d?água. ?As equipes em terra (eram duas: uma brasileira e outra neozelandesa) carregavam equipamentos pesados, andavam 4 quilômetros e acordavam às 4h30 da manhã para tentar filmar os saltos dos animais.? Foram 80 horas de filmagem em Fernando de Noronha para que a equipe pudesse captar todas as imagens necessárias, já que o golfinho-rotador da região adora fazer estripulias dentro e fora da água.

Aliás, essa é a questão básica do documentário: Por que o golfinho-rotador salta tanto? Somente no fim do programa, que tem 52 minutos, o telespectador descobrirá a resposta, baseada em explicações de pesquisadores que trabalham na Baía dos Golfinhos.

Para realizar A Ilha dos Golfinhos, a equipe levou 9 meses: 4 de filmagem e 5 de pós-produção. ?Literalmente um parto?, conta Wabba. Ele e os outros cinegrafistas encararam um calor de 35?C para realizar o trabalho. ?O pior foi quando voltamos para São Paulo queimados de sol e tivemos de ouvir: ?Que vida boa, você está bronzeado…?, brinca.

Dificuldades – Além da dificuldade de filmagem dos golfinhos, o diretor Rodrigo Astiz destaca um obstáculo muito maior: o de fazer um documentário no País. ?Estamos lutando para criar políticas públicas de incentivo à produção independente?, diz. Para ele, é importante ter uma marca como a National Geographic para divulgar o Brasil no exterior.

Segundo Abel Puig, essas três iniciativas são o início de uma ampla campanha de produção nacional – com apoio da Agência Nacional de Cinema (Ancine) e da lei do Audiovisual. O canal está aberto para receber propostas de produtoras independentes por meio do site www.ngcideas.com

 

PUBLICIDADE / TV

“Record vai fiscalizar uso da verba publicitária do governo”, copyright Folha de S.Paulo, 8/12/03

“A Rede Record vai fiscalizar a aplicação das verbas publicitárias do Governo Federal para evitar o favorecimento a determinadas empresas de comunicação. Foi o que avisou o presidente da emissora, Dennis Munhoz, durante a última reunião do ano do Conselho de Comunicação Social, órgão auxiliar do Poder Legislativo.

Em seu depoimento, Munhoz garantiu aos conselheiros que a Record não faz apologia de nenhuma religião, e que a Igreja Universal é apenas cliente da emissora, ?como qualquer outro?.

O empresário apresentou um balanço dos trabalhos realizados pela Record neste ano afirmando que a emissora já se adaptou às regras do Projeto de Lei 256/91, de autoria da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que determina um percentual mínimo de regionalização da produção de TV.

Segundo ele, a Record vem seguindo as exigências do projeto nas principais capitais, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curibita. Apesar disso, ele defende a revisão da proposta, alegando que nem todas as emissoras têm condições de manter um percentual mínimo de produção local.

O projeto da deputada determina que rádios e TVs deverão destinar 30% de sua programação diária a programas culturais, artísticos e jornalísticos produzidos no local de funcionamento da emissora. No mínimo 15% desses programas deverão ser jornalísticos, e outros 15%, culturais, dos quais 5% devem ser de teledramaturgia.

A proposta prevê ainda que pelo menos metade da equipe de artistas, técnicos e jornalistas responsáveis pela programação residam no local há pelo menos dois anos antes de sua contratação.

Os integrantes do Conselho de Comunicação Social aidna discutem a agenda de trabalhos para 2004. Já ficou definido o lançamento de um livro reunindo os principais debates realizados neste ano, além de palestras proferidas por especialistas, como o jornalista Alberto Dines, e os diretores das principais empresas de comunicação do País.”

“TV volta em setembro ao patamar da Copa”, copyright Folha de S.Paulo, 3/12/03

“As emissoras de TV fecharam o trimestre encerrado em setembro com um faturamento bruto de R$ 1,663 bilhão, o que deu um crescimento espetacular de 31% sobre o mesmo período de 2002. Só em setembro, a receita (em relação ao mesmo mês do ano passado) foi R$ 170 milhões maior (42%), o que dá quase o faturamento anual declarado da Rede TV!.

Os números são do projeto Inter-Meios, que audita o faturamento de veículos de comunicação, divulgados anteontem.

Apesar desse desempenho no terceiro trimestre, a televisão acumulou até setembro um crescimento de apenas 7,4% no ano, por causa do primeiro semestre muito ruim, em que caiu 3,9%.

Entre outubro e dezembro, o meio deverá repetir o desempenho de julho/setembro, fechando o ano com crescimento nominal de 10%. No final das contas, ficará abaixo da inflação (cerca de 15%).

A rigor, o terceiro trimestre de 2003 foi semelhante ao segundo de 2002 (faturamento de R$ 1,622 bilhão), quando houve Copa do Mundo. Desde então, o mercado vinha em queda, por causa do período eleitoral e das incertezas pela transição de governo.

?Este ano foi perdido mesmo, mas o mercado está com um otimismo fantástico para 2004. O que está acontecendo não é uma bolha. Vamos entrar em janeiro bem melhor do que em 2003?, avalia Antonio Rosa Neto, consultor de mídia independente.”