Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Alberto Dines responde

INDÚSTRIA DO DIPLOMA

O missivista, involuntariamente, ofereceu aos leitores um magnífico close up da Indústria do Diploma que este Observatório, os profissionais responsáveis, os professores habilitados e as autoridades combatem há tanto tempo e com tanta insistência.

Este close compreende compostura pessoal, padrões éticos, cultura geral e até o uso do vernáculo de um dos expoentes desta indústria. Compreende sobretudo uma indagação: como é que se chega aos mais altos escalões de uma escola de jornalismo sem jamais ter ocupado alguma posição de destaque no exercício profissional?

O texto que endoidou o executivo era rigorosamente institucional, sem nomear ou sequer aludir a pessoas da Universidade Estácio de Sá. A resposta do empresário, ao contrário, veio carregada de injúrias pessoais. E enfeitada por uma monumental ignorância jornalística.

O único que poderia sentir-se ofendido com o texto seria o indigitado Peter Arnett e por uma única razão: foi indevidamente designado como americano quando na realidade é neozelandês. Erro pelo qual desculpa-se este Observador, mas que não chega a fazer grande diferença já que o profissional em questão fez a sua carreira no sistema midiático dos EUA, hoje dominado pela indústria do entretenimento e onde impera o vale-tudo.

Fora esta irrelevância, nem o desastrado missivista nem os eventuais procuradores de Arnett deram-se ao trabalho de argüir ou contestar as duas reclamações mais substantivas ao culto arnettista liderado pela Estácio de Sá. A saber:

Arnett recusou transmitir mensagens pessoais de outro correspondente que com ele ficara em Bagdá para não desmascarar a balela de que estava sozinho na capital iraquiana. Queria uma exclusividade mundial a todo custo. Mesmo significando danos pessoais para o companheiro. Como dos dois era o único que dispunha de comunicações por satélite, simplesmente ignorou os apelos e continuou insistindo que era o único jornalista estrangeiro que não fugira de Bagdá. O nome do outro remanescente é Afonso Rojas, correspondente de El Mundo (mais tarde seu diretor-adjunto), um dos grandes diários espanhóis. Rojas escreveu um livro extremamente critico contra o show da mídia e a espetacularização do noticiário bélico ? Os Maus Rapazes de Bagdá, publicado na Espanha e em Portugal em 1991, com muitos detalhes sobre o desempenho pessoal de Arnett. Jamais foi contestado.

Em 1998 Arnett foi afastado do cargo de produtor de uma série de reportagens da CNN sobre a Guerra do Vietnã. A CNN teve que pedir desculpas públicas pelas inverdades e a falta de cuidado na apuração do material. Arnett licenciou-se.

Quanto ao cachê para visitar a Estácio de Sá e fazer o comercial sobre a excelência das suas instalações: os anfitriões garantem que nada pagaram ao convidado além da passagem (que não pode ter sido na classe econômica) e a estádia (que não pode ter sido em hotel de categoria inferior a cinco estrelas). Segundo a praxe americana, este tipo de convite vem acompanhado de um per diem pago em dinheiro vivo. Conhecendo-se os salários que a Estácio de Sá paga aos professores horistas (2/3 do corpo docente) pode-se imaginar o que essa despesa representa no orçamento de uma escola, agora convertida numa agência de promoções e marketing.

O que nos leva a indagar se o ilustre convidado deu autorização para que seu nome e imagem fossem usados num anúncio comercial veiculado pela Estácio de Sá em jornais cariocas. Se autorizou, infringiu as normas éticas vigentes nos meios profissionais dos EUA. Se não autorizou, quem infringiu a Ética foi a Escola de Jornalismo que, assim, mostra o seu apego a uma disciplina fundamental na formação dos jornalistas. Ou isto é irrelevante para uma fábrica de diplomas com suas 21 turmas só no primeiro ano?

    
    
                     

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