Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Além do jardim da retórica oficial

Rádio, meio de comunicação sensacional que trabalha com a preciosa palavra falada e é até hoje – Internet à parte – o único que permite alguma interação. Rádio, é em nome de tua importância que se pede mais e melhor.

Rádio brasileiro, primo pobre dos meios de comunicação, o que recebe a menor fração das verbas publicitárias, tem infra-estrutura de jornalismo mais precária, paga os salários mais baixos. Por isso no rádio se improvisa tanto e se opina tanto.

Quanto ao rodízio: não é preciso, mas repito – sou a favor. A questão, neste OBSERVATÓRIO, é a cobertura tendenciosa. Causa indignação ler-se manchete assim: “No 3° dia do rodízio, qualidade do ar piora” (O Estado de S.Paulo, 26/6/97). E três dias depois, no mesmo jornal: “População de SP quer rodízio o ano inteiro”.

A maior parte dos jornalistas não consegue libertar-se da retórica governamental. José Paulo de Andrade não é exceção. Considera o rodízio um sacrifício desnecessário para o combate à poluição. Ora, o combate à poluição foi a motivação do governo. Nós, o povo, podemos nos apropriar dos benefícios da medida em outra dimensão, a do trânsito, ou seja, a das funções vitais da cidade, muito mais dramática do que a da poluição.

No exercício de seu papel social, o jornalista é como um representante auto-instituído do povo. Cingir-se ao discurso oficial, não. No território da cidadania, colocar-se no lugar do homem do povo e no lugar do governante. E pensar com sua própria cabeça.

Na minha cabeça e na vida de minhas retinas fatigadas tem o seguinte: nunca me esquecerei do trânsito ameno de julho de 1997, com rodízio e férias escolares. A vida que poderia ter sido.

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