Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Americanos respondem a lobby da Globo

QUALIDADE NA TV

REDE GLOBO

"Americanos respondem a lobby da Globo", copyright Folha de S. Paulo, 5/03/01

"O lobby norte-americano vai reagir à pressão das emissoras brasileiras, lideradas pela Globo, para que o Brasil adote o sistema japonês de TV digital. De hoje até dia 14, as TVs brasileiras promovem no Rio demonstrações com o padrão japonês. Querem influenciar autoridades e jornalistas.

ATSC (Advanced Television Systems Committee), organização que assina o sistema de TV digital norte-americano, LG (fabricante de televisores) e Zenith, subsidiária da LG, que detém a patente do padrão de modulação dos EUA, estão planejando um seminário, em São Paulo, Brasília ou Rio, para discutir o assunto.

O seminário deve ocorrer no final de março ou início de abril e deverá reunir especialistas em TV digital do mundo todo. É uma clara resposta às demonstrações promovidas pela Globo. ATSC, LG e Zenith também estudam a possibilidade de fazer transmissões com o padrão norte-americano, mas dependem de autorização da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

Os defensores do padrão norte-americano querem mostrar que o sistema deles é melhor para o Brasil com dois argumentos básicos. O primeiro prega que a tecnologia americana deve evoluir e ficar equivalente à japonesa. O segundo argumento diz que a escolha pelo sistema dos EUA é melhor porque a fabricação de televisores será em maior escala, e, logo, os aparelhos serão mais baratos."

ESCOLA DE TV

"Wolf Maya inaugura escola de TV e vídeo em São Paulo", copyright Valor Econômico, 5/03/01

"Depois de mais de vinte anos de trabalho como ator e diretor na Rede Globo, Wolf Maya, diretor de núcleo da emissora, vai ensinar a receita de sucesso da principal indústria do entretenimento do Brasil. Em agosto, ele inaugura a primeira escola profissional de televisão do país: o Núcleo Wolf Maya – Teatro, Vídeo e Formação Artística, que funcionará no Shopping Frei Caneca, em São Paulo, cuja abertura será no próximo mês.

?Nossa escola será uma espécie de universidade da televisão?, afirma o diretor. ?As escolas que existem atualmente são voltadas para o trabalho no teatro e os cursos avulsos me soam como caça-níqueis?, justifica.

A proposta do Núcleo de Maya é privilegiar a formação e o aperfeiçoamento de profissionais de vídeo e TV. Portanto, os oito módulos, divididos em dois anos, não serão concentrados apenas no treinamento de atores e de diretores. Vão abranger outras funções, como operador de câmera e de VT, iluminação, maquiagem, figurinino, camareiro, entre outras.

?Estamos nos baseando na Escola de Cinema de Havana (Cuba) e na American Academy de Nova York?, explica o diretor. ?O grande barato é que, no segundo ano, o aluno já começa a realizar trabalhos na produtora da escola, que não vai disputar o mercado profissional.?

Durante o curso, as aulas ministradas por professores experientes – o autor de novelas Carlos Lombardi (?Uga Uga?), os cineastas Tizuka Yamazaki e Walter Lima Jr., a preparadora de voz Eudóxia de Barros e o próprio Maya, entre outros – vão explorar ao máximo o aspecto prático do trabalho na TV. ?Fui eu quem deu início às oficinas na Rede Globo e sei que é necessário estabelecer as diferenças entre palco/platéia e palco/lente?, diz Maya. ?Vamos trabalhar como uma especialização em cinema, mas entendendo a TV como seu derivado?, acrescenta.

Segundo Wolf Maya, a Rede Globo tem grande interesse em estabelecer parcerias com o Núcleo para fornecimento de profissionais. Não há, porém, exclusividade com a emissora, que desativou suas oficinas de interpretação em São Paulo há dois anos.

?A credibilidade que tenho e que tem o meu projeto entusiasmam muito a Rede Globo. Como a emissora não tem mais oficinas, ela vai apostar na nossa escola?, acredita o diretor. ?Vou ensinar e implantar o padrão Globo de qualidade no Núcleo. A TV não tem espaço para ter uma escola de produção e de atores. Mas quero participar dessa formação de profissionais?, diz.

O maior investidor do projeto é o próprio Wolf Maya, que conta com uma pequena participação da empreendedora do Shopping, a Zeenni Reis Barros, que aposta no chamariz cultural para o centro comercial. ?A idéia, porém, é transformar a escola em um instituto, sem fins lucrativos?, afirma ele, que pretende ainda recorrer às leis de incentivo.

A escola vai ocupar quatro andares do Shopping Frei Caneca, totalizando 1.483 m2 de área construída, divididos entre salas de aula e estúdios. O contrato com o shopping tem duração inicial de dez anos. Os interessados em uma vaga na escola – a mensalidade não está definida ainda – devem ter concluído o ensino médio e se submeter a um teste de aptidão. A partir de maio, será feita pré-seleção dos candidatos.

Wolf Maya também será coordenador do Teatro Frei Caneca, tarefa que dividirá com o ator e produtor cultural Sérgio Mamberti. O investimento total para a implantação do teatro e da escola é de aproximadamente R$ 6 milhões. O teatro, projetado por Pedro Pederneiras (do Grupo Corpo) tem espaço para 500 pessoas e equipamentos de última geração, ocupando uma área total de 3.600 m2.

?O Teatro Frei Caneca está sendo preparado para grandes espetáculos. Vamos partir para os musicais, mas o teatro comporta até ópera?, explica Maya. ?Temos identificado que o musical tem muito público, mas isso exige grande investimento?, observa Maya, que também é diretor do megaespetáculo de R$ 2 milhões, ?O Beijo da Mulher Aranha?. ?Essa peça, por exemplo, não tem condições de ir para o Rio por falta de teatro adequado para abrigá-la?, explica.

O primeiro espetáculo do novo teatro deve ser a versão do musical ?Godspell?, mais um sucesso da Broadway que chega à cidade em agosto. ?Em virtude do custo mais baixo de produção desse musical será mais fácil realizá-lo, mesmo que seja em uma pré-inauguração?, afirma Wolf Maya.

Outros projetos são a remontagem de ?Gota d’Água? (de Chico Buarque e Paulo Pontes), com direção de Bibi Ferreira, e a versão de mais um importado: ?Chicago?, com Cláudia Raia e Danielle Winittis na linha de frente.

O trabalho de Sérgio Mamberti será formatar uma programação alternativa para o início da semana. O ator pretende organizar leituras dramáticas de textos de teatro, concertos de música erudita e popular, além de cafés-concerto."

NOVELAS GLOBAIS

"A novela como cartão-postal", copyright Valor Econômico, 2 a 4/03/01

"O Projac deve mesmo ser a quinta camada do inferno, a julgar pela relutância revelada por aqueles que, quando indagados sobre o paradeiro de tal ou tal estrela de novela, dizem, num muxoxo: ?Ela está no Projac?. No entanto, a cidade cenográfica da TV Globo é, no testemunho de seus visitantes, um brinco, uma jóia, uma Disneyworld do melhor entretenimento abaixo da linha do Equador, uma ?Cinnecità aggiornata?. Agora, em especial, que a emissora decidiu investir no ramo das co-produções anfíbias (para a pequena e para a grande tela), o cenário se presta, mais do que nunca, às grandiosas comparações cinematográficas. Quem sabe o Projac não é uma Hollywood à espera de seu Cecil B. De Mile?

Contudo, num paradoxo reiterado, não há novela ou minissérie da Globo que se dispense, ultimamente, de adular seus top de linha com o aconchego de uma viagenzinha além de Jacarepaguá. Como se estivessem numa permanente Ilha de Caras, atores e atrizes iniciam o trabalho de passaporte na mão. Logo, logo, a ficção do horário nobre estará substituindo, com minúcias de dicas, serviços e talvez até de mapas, os cadernos de turismo dos jornais.

Os protagonistas de ?Os Maias?, muito naturalmente, submeteram-se aos afagos dos lençóis bordados de Funchal e deslizaram pelos salões dourados do Palácio de Queluz e pelo adro de pedras roliças do Sete-Ais, além de sentir na face o vento estival das quintas do Minho e do Douro.

Em sua versão desconcertante de um Sebastião Salgado de brinquinhos e cabelos, Tarcísio Meira iniciou ?Um Anjo Caiu do Céu? hospedado na velha e formosa Praga, esgueirando-se à sombra de labirintos assombradas por vultos, com o perdão do clichê, kafkianos.

Antonio Fagundes e Cássia Kiss, apesar de muito malvados em Porto de Milagres, regalaram-se a presunto pata negra, vinho tinto da Andaluzia e sapateado flamenco nas bodegas de Sevilha antes de irem perpetrar novas crueldades num vilarejo de pescadores tementes a Iemanjá.

A dramaturgia made in Brazil parece ter acreditado, com candura, que basta filmar as vitrines de Dior e de Valentino na Avenue Montaigne para que o espectador venha a identificar, de maneira automática, alguma galanteria proustiana no enredo e certa finesse francesa nos sacrificados figs finos de além-Barra (aqueles figurantes empoados, engravatados, engalanados em suas sombrinhas e espartilhos, ou polainas e bengalas, sob a impiedosa canícula carioca). Mas não é a fachada que instaura a elegância. Locação é o glacê do bolo. Costumes de época, aliás, costumam ser um perigo.

Ao contratar um roteiro turístico internacional para o horário nobre, a Globo acentua o luxo que faz a diferença na disputa contra novelas com alma e sotaque hispânicos e contra os sitcoms casuais da Sony. É caro, mas é, ao pé da letra, um investimento em imagem.

A continuar assim, o céu é o limite. E, então, aquele anjinho da novela das sete será conduzido ao seu cenário de origem. Frank Capra era ótimo em personagens incorpóreos flutuando sobre as nuvens. Denis Carvalho ainda não se aventurou a ir tão longe. Por ora, o querubim da TV Globo se comunica à distância, com um facho de luz celestial. Quando chegar a hora, fica aqui uma sugestão: Deus podia ser Jô Soares, se é que ele ainda não foi, alguma vez."

MUNDO FASHION

"Escândalo com modelo em Milão vai para os tribunais", copyright El País / UOL, 1/03/01

"A moda de Milão volta a ocupar as manchetes. Mas desta vez o que causa escândalo não são os desfiles mais ou menos excêntricos da semana do prêt-à-porter feminino, que começou sábado; nem as modelos que percorrem a passarela com um falso cigarro de maconha nos lábios; nem qualquer acessório irreverente com a imagem de Jesus Cristo ou da Virgem Maria. Desta vez o escândalo foi provocado por um promotor que pela primeira vez na história dos desfiles de Milão pretende colocar no banco dos réus os proprietários da agência de modelos Flash Model Management, por um delito à primeira vista estranho: ?abandono de menor?.

A menor abandonada, conhecida como Maja, uma eslovena de 15 anos, teve que ser internada num hospital de seu país depois de passar apenas duas semanas em Milão no último outono. Nesse tempo Maja nem sequer subiu numa passarela. Limitou-se a freqüentar os ambientes noturnos que são a outra face dos desfiles: as discotecas e festas particulares que uma aspirante a modelo deve freqüentar se quiser encontrar um lugar nesse falso mundo de fábula.

Depois de duas semanas cheirando cocaína, fumando crack, bebendo tequila e fazendo amor com os ?tubarões? que infestam as águas da moda, predadores de belezas juvenis, Maja apareceu na agência destruída, a tal ponto que teve que ser enviada para a Eslovênia, onde foi hospitalizada.

Maja chegou a Milão em outubro passado com seu pai e um ?book? de fotos que lhe serviu para assinar um contrato com a Model Flash, uma das oito grandes agências de modelos de Milão. O pai voltou a Liubliana e a jovem modelo foi hospedada num apartamento da agência, que dividia com uma garota americana. Com ela Maja começou a freqüentar festas e discotecas, a conhecer amigos e relações-públicas inescrupulosos, os quais pululam às dezenas em um mundo marcado pela velocidade e o dinheiro.

Ela mesma relatou seus primeiros contatos com a cocaína nos banheiros de uma discoteca. Mais tarde passou a fumar crack, tudo isso acompanhado por grandes quantidades de álcool. Maja contou seus encontros sexuais em salas privadas de discotecas, com acompanhantes desconhecidos, amigos de amigos de alguma colega. Relações mantidas quase sempre em estado de semiconsciência, sob o efeito das drogas e do álcool. Afinal, a decadência completa, a desintoxicação na Eslovênia, o tratamento psiquiátrico.

O caso não ficou apenas nos jornais porque o promotor milanês Marco Ghezzi decidiu ir até o fim. Para começar considera os donos da agência culpados por não terem cuidado de uma menor ?impedida?, mesmo que temporariamente, e espera que a Justiça lhes dê uma lição. Massimo Mandelli, um dos responsáveis pela Model Flash, defende-se afirmando que não cabe às agências fechar discotecas e tampouco podem trancar as garotas nos apartamentos. ?O mais incrível é que o pai nem mesmo apareceu aqui, nem apresentou denúncia nem nada?, acrescenta Mandelli.

Esse novo escândalo fez soar todos os alarmes no setor da moda em Milão, sobretudo porque confirma a denúncia mil vezes negada feita no outono de 1999 pela BBC, sobre os obscuros bastidores da moda em geral e das passarelas de Milão em particular. Na ocasião, um repórter britânico se fez passar por fotógrafo de moda para descobrir (e filmar) até que ponto circulam o álcool e a cocaína nesse mundo de luxo e beleza. Até que ponto por trás de uma fachada deslumbrante se escondem as redes da mais antiga profissão da humanidade, a prostituição, manipuladas por supostos relações-públicas, acompanhantes e amigos de modelos.

Garotas bonitas, mas muitas vezes jovens demais para sobreviver num ambiente competitivo e duro. Todos os anos centenas de belas garotas chegam a Milão pensando em se transformar na nova Gisele Bündchen, mas obviamente muito poucas o conseguem. Algumas desistem, outras podem correr os riscos da jovem Maja.

O promotor Ghezzi considera que a Itália deveria ter uma legislação semelhante à francesa, que proíbe o trabalho de modelos menores de 16 anos. Na Itália, por outro lado, os estilistas querem garotas cada vez mais jovens, mesmo que as agências se neguem a encarregar-se delas. Os donos da Model Flash não são exceção nem monstros, reconhece Marco Ghezzi. ?Já conhecemos o ambiente da moda, mas o pior é a fauna que o rodeia, da qual as garotas acabam se transformando em vítimas. Por isso é preciso protegê-las, mesmo contra sua vontade.?

O ?rei? da moda italiana, Giorgio Armani, concorda ?que as agências tutelem as menores de idade durante o tempo em que os pais as confiam?. O presidente honorário da Câmara da Moda, Beppe Modenese, acredita que ?os próprios pais deveriam começar a cuidar de suas filhas, como menores que são?. (Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves)"