Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Amorim x Amorim (em época de Franco X Franco)

Fabiano Golgo, de Praga

 

A

camada brasileira que se interessa por saber o que está acontecendo no mundo real tinha, na TV, apenas os noticiários comandados por Paulo Henrique Amorim, na Band, ou o de Boris Casoy, na Record. Para quem não precisa de 8 horas de sono, também os de fim-de-noite com a Lillian Witte Fibe (Globo) ou Sérgio Rondino (Band). Agora a rede dos Saad perde o âncora mais parecido com os telespectadores de nível cultural mediano, aqueles que se interessam pelo que acontece na política de seu país, que prestam atenção e pelo menos tentam entender do que se tratam esses eventos na economia que balançam realidades neste mundo globalizado. Paulo Henrique Amorim se parece muito com o professor universitário, o empresário com curso superior, o advogado, o médico, o engenheiro, o estudante mais ligado. Amorim (Paulo Henrique, não Carlos) atendia a uma camada da população que também consome todos aqueles produtos que são anunciados nos telejornais. Acontece que os comandantes dos canais de televisão aberta estão em guerra, também aberta, pelo mesmo peixe chamado “o brasileiro”. O juiz dessa guerra é o termômetro – deveras rudimentar – chamado Ibope (ou afins). A pesquisite aflige não apenas jornalistas à procura de embasamento com cheiro de ciência para suas proposições, mas também os gerenciadores do que se passa na telinha, que acreditam decifrar a população telespectadora pelos pontos de audiência (cada um equivale a 80 mil paulistas, nos lembra repetidamente a Folha).

O novo comandante da recém criada Unidade de Produção de Jornalismo da Band, Carlos Amorim (ex-Jornal Nacional, diga-se de passagem), alega que “um jornal que se pauta exclusivamente por política e economia passa ao largo de camadas de audiência” (Folha de S. Paulo, 18/1/99), e que o jornal vinha atingindo média de 1 ponto ultimamente. Não é necessário sequer evocar a pobreza de acuidade que essas pesquisas representam. Basta parar para pensar por um momento (alô, Johnny Saad e Nilton Travesso):

1) Se um telejornal atinge uma camada de público com maior nível cultural, por conseqüência atinge vários telespectadores com considerável poder aquisitivo (excetuados, dessa categoria, os professores e jornalistas).

2) Se o anunciante quer vender carro, computador, livros, apartamentos, viagens, eletrônicos diversos etc. etc., terá nesse público um provável cliente, muito mais do que nas massas que esperam pela novela das oito e só são influenciadas pela margarina do intervalo.

3) Se o Jornal da Band tem 80 mil telespectadores em São Paulo, tem também outros tantos espalhados por Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Brasília, Bahia, Mato Grosso, Paraná, Pernambuco, talvez até Alagoas (e eles lá viajam bastante, compram carros caríssimos e mantêm mansões com cachoeiras, às vezes…)

4) Esses telespectadores acima citados certamente não estão à procura de um clone mais pobre do JN.

5) Dar maior ênfase a “outros temas” não significa arrecadar mais telespectadores, pois eles estão confortavelmente instalados no Jornal Nacional (alguns há 3 décadas). Carlos Amorim (que viu fracassada sua tentativa de jornalismo popular lido por Marcos Hummel no sepultado Tempo Quente, na mesma Band) diz que a ênfase em assuntos como política e economia “depõe contra a audiência”, concluindo que o telejornal em questão deve “equilibrar” todos os assuntos com outros temas, como esporte e cidades…

Traduzindo: vai perder os poucos telespectadores que tem. Aquele público que havia encontrado às 20h um oásis de inteligência mediana na imbecilóide televisão brasileira atual vai sair correndo. E a Band vai afundar nas mágoas de não conseguir fazer páreo para o que os concorrentes fazem melhor (no item popularização, não apenas a Globo sai na frente, mas também o SBT e a Record – e aguardem a Manchete da Igreja Renascer!). A única coisa coerente que os Saad poderiam fazer seria manter-se no pedestal de emissora que preza a informação séria, com um apresentador colhido dos anais da Globo que tenta oferecer um produto jornalístico de qualidade um pouco melhor do que se tem no mercado.

Ou lojas caras fecham porque não atingem as mais largas camadas da população? Ou essas centenas de shopping centers que brotaram no país buscam atingir esses mesmos milhões que Carlos Amorim gostaria de ver sintonizados na versão Saad da estética televisiva verde-amarela? Infelizmente, o Chacrinha tinha razão: na TV nada se cria, tudo se copia. O SBT e a Record se debateram pra ver quem ficava mais parecido com o outro, a Globo procurou adaptar sua linguagem à deles, agora a Record anda alardeando que vai virar mais primeira classe e que a Globo é o novo alvo de inspiração, a CNT e a Manchete sem querer viraram o mesmo painel de aluguel para religiosos e televendedores… A Band insiste em fazer novela, com estrondoso insucesso, e fez parceria com a Sony para, às pressas, botar no ar clones de seriados americanos (quem teve essa falta de “idéia”?). Agora, a UPJ vai administrar a nova imagem do jornalismo da emissora baseando-se no que já se tem no mercado. Se o Jornal da Band tem pouca audiência, talvez o melhor fosse mudar seu horário de apresentação. A colisão com o final da novela das sete e com o Jornal Nacional é desgastante. Talvez mais cedo, para os que não sejam tão fãs assim do “isto é u-ma ver-go-nha” de Boris Casoy (que tem pelo menos 10 vezes aqueles famosos 80 mil telespectadores da Grande São Paulo…), ou talvez mais tarde, para os viúvos do Jornal da Manchete de anos atrás. Ou mesmo no horário nobre, pois tem muita gente desinteressada do que oferecem as outras emissoras como prato principal. Uma coisa é certa: mudar o recheio do Jornal da Band em nada vai ajudar.

É uma pena que os brasileiros menos fúteis estejam virando reféns das massas vazias.

 


(*) Jornalista

 

 

C

ontinua-se a tatear em busca de uma linguagem “ótima” para a Internet. Mas algumas dicas podem ser úteis, desde que cada um conserve a cabeça sobre o pescoço.

1) Seja breve. Não escreva mais do que 50% do texto que usaria numa publicação impressa. Explicação: ler em telas de computador leva 25% mais tempo do que em papel. Se o autor quer que o leitor se sinta realmente confortável, não deve encurtar o texto em apenas 25%, mas em 50%. Isto evita a rolagem do texto, à qual a maioria das pessoas é refratária.

2) Escreva para ser lido num relance de olhos. Não exija a leitura de longos blocos de texto. Estudos recentes indicam que a leitor on-line tende a ser impaciente. Não lê os textos completos, mas “nacos”. Os olhos fazem um reconhecimento geral, colhem palavras-chaves, frases, parágrafos, e pulam as partes menos interessantes.

3) Use os recursos de hipertexto: divida em múltiplas páginas os blocos longos de informação. Mas sem sacrificar a profundidade do conteúdo, nem simplesmente dividindo em vários pedaços o mesmo longo texto. É preciso editar o texto para que ele adquira uma estrutura correta de hipertexto.

As dicas são de Jakob Nielsen. Estão em artigo transcrito de seu site (www.useit.com) pelo jornal TechnoScope (janeiro/fevereiro de 1999), da seção de Tecnologia da American Society of Association Executives (ASAE).

O OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA é tão original que inverteu o princípio exposto no tópico 1, acima: sua edição impressa mensal é um resumo de edições eletrônicas quinzenais cada vez mais caudalosas…

(Pela citação, M.M.)