Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

André Brugni

COBERTURA DE GUERRA

“Imprensa sob fogo cerrado”, copyright Jornal do Brasil, 19/04/03

“Os dois jornalistas que morreram em Bagdá no dia 8, alvejados em pleno hotel por um tanque norte-americano, foram apenas as vítimas mais recentes na extensa lista de baixas entre profissionais de imprensa que costumam cobrir zonas de conflito. Baixas que nem sempre se dão de forma tão direta, como a que envolve um tiro de blindado. Às vezes, são resultado de um processo mais longo e sutil.

Na noite do dia 27 de julho de 1994, por exemplo, o fotógrafo sul-africano Kevin Carter, 33 anos, ganhador do Prêmio Pulitzer poucos meses antes, amarrou uma mangueira de jardim no cano de descarga de sua picape, inseriu a outra extremidade na cabine do motorista, trancou-se, ligou o motor, fumou uma mistura de Mandrax com maconha e começou a escrever uma carta de despedida.

Assim terminava a carreira de um brilhante e sensível profissional especializado na cobertura das piores tragédias da África. Um jornalista devastado pelas drogas, mas também por anos de observação impune de fome, peste e guerra. De imagens que foram muito além das lentes e do negativo, imprimindo-se indelevelmente na memória de Carter e assombrando-o em crises de consciência: além de olhar, era possível e recomendável intervir?

O suicídio de Kevin provocou, de início, irritação em seu amigo e compatriota Greg Marinovich – também ganhador do Pulitzer de fotografia, em 1991, com uma série de fotos sobre enfrentamentos em Johannesburgo. Afinal, Greg e outros colegas tentavam há meses arrancar Kevin de seu estado depressivo. Mas Marinovich não tardaria a arrefecer sua crítica. Ele mesmo pensara em atirar-se nas águas do Danúbio anos atrás.”

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“O preço de uma boa foto”, copyright Jornal do Brasil, 19/04/03

“Kevin Carter e Greg Marinovich formavam, com Ken Oosterbroeck e João Silva, um quarteto de fotógrafos que se celebrizou pela cobertura do ocaso sangrento do apartheid na África do Sul, nos anos que separam a libertação de Nélson Mandela (1990) de sua eleição como primeiro presidente negro do país (1994). Um grupo que ficou conhecido por sua permanente presença junto às praças de batalha, desafiando o zunido das balas para registrar imagens pungentes sobre o que ocorria na África.

Daí o apelido de Clube do Bangue-Bangue, conferido ao quarteto e adotado como título do livro em que Marinovich e Silva relatam a história de seus integrantes, com realce nos acontecimentos que levaram a cada uma de suas mais famosas fotos. As imagens se encontram reproduzidas em preto-e-branco na edição brasileira, deixando o leitor boquiaberto com o sangue-frio dos fotojornalistas.

Os dois autores são os sobreviventes do quarteto. Oosterbroeck, o mais metódico deles, teve a vida colhida por uma bala à queima-roupa, disparada por engano pelas forças de manutenção de paz que acompanhava durante uma operação em Tokhoza – um dos muitos subúrbios de Joanesburgo onde facções negras rivais se matavam de forma terrível, às vezes incentivadas por forças de segurança do apartheid e até por brancos disfarçados, com rosto e mãos pintados.

No mesmo enfrentamento, Marinovich foi baleado no peito, o que o levou a submeter-se a sete cirurgias nas semanas seguintes. Em outras três ocasiões, Greg, que narra o livro em primeira pessoa, foi ferido durante o trabalho. Uma história que deixa claro haver aí mais do que simples cumprimento do dever profissional: no Clube do Bangue-Bangue, assim como em todo correspondente de guerra, parece haver uma vocação, uma atração pelo perigo de morte. Tal qual a do cientista assombrado pelo fenômeno que consegue descrever, mas não explicar, o que o leva a observá-lo obcecadamente.

Não que o medo estivesse ausente: estava e está ali o tempo todo. Mas o misterioso movimento interior é mais forte. Eis o elo que unia o quarteto, fazendo com que poucos, além deles mesmos, conseguissem entender as angústias mútuas. Carter tinha enormes remorsos pela foto com que ganhara o Pulitzer: a de um abutre espreitando uma criança agoniada pela subnutrição no Sudão. Até o fim da vida, muitas pessoas questionavam porque Kevin preferiu bater a foto ao invés de socorrer a criança, que confessadamente deixou onde e como estava.

Todos cresceram no asséptico e confortável ambiente pequeno-burguês dos brancos sul-africanos, com exceção de Silva, originário de Moçambique. Os quatro mostravam desilusão com quase tudo o que os cercava, de perto ou de longe: a sociedade racista, problemas de família e, ocasionalmente, a idéia de Deus. Greg, ateu, afirma ter se iniciado no fotojornalismo porque, registrando a vida dos outros, esqueceria a sua própria.

O farto material fotográfico, bem como a linguagem eletrizante e um pequeno glossário de termos locais, faz o leitor sentir-se em plena rua na África do Sul, ao lado dos fotógrafos, durante a ignóbil violência nos distritos negros. Violência que, em sua face mais visível, opunha o Congresso Nacional Africano (CNA), movimento chefiado por Mandela e com uma proposta universalista, ao partido Inkhata, da etnia zulu, que defendia a manutenção da autonomia racial e, não raro, aliava-se ao regime branco, pretendendo dele receber as melhores oportunidades dentre as poucas oferecidas aos negros.

Graças às lentes do Clube do Bangue-Bangue, ficou claro que nada era tão simples. Dentro da própria etnia zulu havia oposição entre separatistas e defensores da integração. E os choques entre o CNA e o Inkhata eram, muitas vezes, estimulados por crimes cometidos por mercenários angolanos e namíbios, contratados secretamente por membros do agonizante governo branco. Por trás dos crimes, havia o propósito de disseminar a discórdia e a crença de que os negros não eram capazes de entender-se para governar a nação.

Como se sabe, esse expediente fracassou. A África do Sul é hoje uma democracia, com governo eleito pela maioria da população, independente da raça. Contudo, as marcas de decênios de apartheid ainda fazem a ferida sangrar. O país está mergulhado em grave crise social. É o líder mundial nos índices de estupros, e a Aids atinge um em cada dez de seus habitantes.

Quanto aos sobreviventes do Clube, parecem hoje em melhor estado. Até porque a fama lhes assegurou um futuro mais tranqüilo (ao menos podem optar por isso). Mas olhar para trás sempre será um sacrifício. Nas palavras do próprio Marinovich, eis o resultado do trabalho para seu autor: ?Boas fotos. Tragédias e violência certamente geram imagens poderosas. É para isso que somos pagos. Mas cada uma dessas fotos tem um preço: parte da emoção, da vulnerabilidade, da empatia que nos torna humanos se perde cada vez que o obturador é disparado.? Evidente que em grau maior, trata-se da mesma banalização que nos acomete ao olhar os jornais diariamente: há abismos demais.”

“?De qué objetividad periodística hablamos?”, copyright Página 12, abril de 2003

“Montados en tanques y carros de asalto de la coalición invasora, los periodistas. Parapetados detrás de bolsas de arena en alguna de las ciudades descuartizadas por los bombardeos, los periodistas. O asomados a los ventanales del ahora famoso Hotel Palestine; en la vanguardia y en la retaguardia, incisivos, audaces, conscientes, inconscientes, subjetivos siempre, quieran o no: los periodistas.

Esta vez, en la batalla de Irak. Una de las muchas batallas que le esperan a esta guerra desatada por el imperialismo, dispuesto a tragarse el mundo, la tierra, los cielos y los mares.

?Soldados de la verdad, los periodistas? Parece demasiado, entre otras cosas porque en la lucha ideológica, política, economica y cultural, no hay -nunca la hubo- una sola verdad. Tampoco, claro, la tantas veces meneada objetividad. Pero mueren, los periodistas. Eso es cierto. Sí, mueren, como los niños, mujeres y hombres que defienden una idea, una causa, un punto geográfico. O nada de eso, mueren, como tantos miles, por estar ahí, en el lugar por donde pasa la muerte. La que en este caso ha sido impulsada por la decisión de empresarios, traficantes, politicos y generales, deseosos de cumplir con el mandato divino de hacer que en este siglo la sociedad mundial se arrodille ante Estados Unidos. Cueste lo que cueste y caiga quien caiga, también los periodistas. Excepto que, como sabe ocurrir, los hombres y mujeres de la prensa acompañen no sólo en la ofensiva fisica a los invasores, sino comprometiéndose con ellos y sus altos mandos a dar la noticia y la opinión adecuada, cuando se trata de sitiar al enemigo, de invadir al invadido y de confundir a la opinión pública.

Convegamos, fuera de sentimientos corporativos casi primitivos, que la guerra de este tiempo no parece admitir neutrales, ni bobos cruzando alegremente por los frentes de combate. Quien más, quien menos, sabe donde se para y porqué razón.

Como dijera Sartre en el prólogo del libro de Frank Fanon, ?Los Condenados de la Tierra?, la ?objetividad? en determinados momentos de la historia atenta contra los oprimidos. Es casi criminal.”

“Guerra termina e TV Globo chega em Bagdá”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 15/04/03

“URGENTE!

E atenção, atenção. Notícia de última hora. A Globo finalmente saiu do Kuwait e chegou no Iraque. Agora que a guerra terminou, o correspondente internacional da Rede Globo, Marcos Uchoa e Sérgio Gilz já transmitem de Bagdá via videofone. Apesar do atraso, valeu o esforço. Antes tarde do que nunca. Talvez a Globo tenha sido pega de surpresa nessa e em outras guerras. Bem sabemos que jornalismo envolve riscos, exige planejamento e investimento. Perguntem à TV portuguesa como se faz jornalismo de verdade. Mas há muito tempo, o jornalismo da Globo prefere notícias ?leves? sobre a vida de artistas como a Xuxa ou de desconhecido do BBB. O telespectador, em geral, não tem mesmo opção. É pegar, largar ou pagar um absurdo pelas semi-falidas TVs a cabo.

Talvez a Globo tenha chegado tarde para cobrir a guerra mas com um pouco de boa vontade ainda possa nos nos mostrar boas matérias sobre a ?americanização? inevitável do velho Iraque. Quem sabe? É só uma questão de ponto de vista. Mas também pode ser que a Globo se retire ainda mais rápido do Iraque e novamente nos deixe a ver navios ou as imagens das TVs internacionais.

No Brasil, fazer jornalismo de TV sem competição pode ser meio decadente mas ainda tem as suas vantagens. É econômico, seguro e não diz ou faz nada de novo.

Americanos invadem o Hotel Palestina

Nesta terça-feira, segundo notícias divulgadas pelo site da CNN, os militares americanos invadiram o Hotel Palestina, onde estão baseados a maioria dos jornalistas estrangeiros em Bagdá. Eles anunciaram que estavam em busca de certos ?elementos? que não simpatizam com os objetivos americanos. Não deve ter sido uma operação militar muito difícil. Os americanos armados entraram nos quartos e revistaram diversos jornalistas. Exigiram ver a documentação dos profissionais da imprensa que ainda estão hospedados no hotel e várias pessoas foram levadas presas.

Aqui entre nós, após o ataque ?acidental? de um tanque americano contra o Hotel Palestina com a morte ?anunciada? e previsível de 2 jornalistas na terça-feira passada e mais a invasão de hoje, muitos colegas já começam a ter dúvidas sobre o acerto da escolha de um hotel. Talvez os americanos não simpatizem com o nome do hotel.

Procuram-se jornalistas no Iraque

Posters foram espalhados em diversas cidades do Iraque com as imagens dos jornalistas desaparecidos durante a guerra. É uma atititude desesperada daqueles que ainda se importam com a vida dos nossos colegas e não se conformam com as explicações apressadas das autoridades militares. Após três semanas desde a morte do correspondente da TV independente britânica, Terry Lloyd, ninguém conhece o paradeiro dos jornalistas Fred Nerac, francês e Hussein Osman, do Líbano. Eles faziam parte da equipe da ITN que foi atacada ?acidentalmente? pelo fogo amigo de tropas britânicas logo nos primeiros dias do conflito. Os posters com os rostos dos jornalistas ?independentes? desaparecidos e meio às ruínas de um país devastado pela guerra nos relembram que nem todos os jornalistas se submeteram às patriotadas de uma nova TV que para ser ?ao vivo? tem que ser ?engajada?.

Os novos desafios da primeira guerra ao vivo pela TV

Em meio às críticas ferozes contra a cobertura ?pasteurizada? da CNN e da BBC, Chris Chramer, presidente da CNN International veio a público defender os princípios editoriais das emissoras de TV durante a cobertura da guerra no Iraque. Segundo ele, um dos princípios básicos do jornalismo é a necessidade de apurar as notícias antes de coloca-las no ar. Isso justificaria o cuidado dos editores para não mostrar ?ao vivo? os horrores da guerra. Cramer diz ainda que prefere ser julgado pela qualidade do jornalismo apresentado pelo cuidado com a informação, pela sensibilidade e pelo tom como foram tratadas as notícias da primeira guerra ?ao vivo? pela TV. Em tempos de ?reality show? na TV, a guerra do Iraque foi um verdadeiro show de uma realidade ?editada? para não chocar o público telespectador. Afinal, não deveríamos arriscar a audiência de outros shows e outras guerras.

Onde estariam o temível ditador Saddam Hussein e o polêmico jornalista Peter Arnett?

O Saddam Hussein, pelo jeito sumiu. Deve estar em algum lugar da Síria, Coréia do Norte ou até mesmo em alguma favela-fortaleza aqui mesmo no Rio de Janeiro. Ninguém tem muita certeza. Mas o Peter Arnett, após promover um verdadeiro show de estrelismo e bater o recorde de demissões durante a mesma guerra, agora trabalha para uma das redes árabes, a Al-Arabya baseada em Dubai. A carreira do jornalista neo-zelandês nunca se recuperou desde os tempos da guerra do golfo quando se tornou o herói da CNN. Foi um desastre após o outro. Só foi mesmo homenageado no Brasil, onde recebeu premiação e celebrações em universidade carioca que admite alunos analfabetos. As cenas deprimentes do evento foram exibidas diversas vezes pela TV universitária. Quem diria, o Peter Arnett acabou na Estácio.

Excessos da cobertura da guerra na TV

Trinta e nova por cento dos telespectadores americanos acreditam que a cobertura da guerra foi exagerada e que as TVs dedicaram tempo demais aos protestos contra a guerra. Pasmem! Essas foram as conclusões de mais um estudo do Pew Research Center divulgadas nos últimos dias. A pesquisa também revelou que que 70% dos americanos consideraram a cobertura das TV com os jornalistas engajados em unidades militares foi boa e objetiva! Como dizia o velho Paulo Francis, se você quer provar alguma coisa, faça uma pesquisa. Dependendo das perguntas e do universo escolhido, você escolhe o resultado que for mais conveniente aos seus próprio interesses.

Cobertura de guerra vicia

O fim da guerra do Iraque é uma péssima notícia para alguns TV ?junkies? ou viciados em TV. Eles já começam a apresentar os primeiro sintomas da síndrome de abstinência de uma droga poderosa: a cobertura ao vivo pelos canais de TV com notícias sobre a guerra do Iraque durante 24 horas. É o que revela o crítico de TV americano Jimmy Guterman em artigo recente. Ele também faz questão de dizer que ?uma guerra que confunde jornalismo com entretenimento, o público passa a ter a falsa e perigosa noção de que presenciou a uma guerra de verdade e que teria entendido tudo!

Americanos só garantem a segurança dos poços de petróleo e ameaçam os tímidos

Em meio a uma onda gigantesca de saques em todas as grandes cidades do Iraque onde nem mesmo os hospitais, embaixadas, museus e bibliotecas foram poupados, os americanos mostram os verdadeiros objetivos da guerra no Iraque. Apesar dos protestos da população de Bagdá, que exige o mínimo de segurança para sobreviver, os americanos fizeram questão de mobilizar suas forças para proteger rapidamente e com a maior eficiência todos os poços e refinarias de petróleo do Iraque. A proteção da infra-estrutura petroleira do país foi considerada mais importante e estratégica do que a segurança da população civil. E tem gente que ainda acredita em guerra por motivos humanitários, que o Saddam Hussein foi deposto porque era um ditador sanguinário que escondia e ameaçava os Estados Unidos com armas de destruição em massa e que papai Noel e o coelhinho da Páscoa existem!

As TVs e agências de notícias americanas contribuíram muito para um clima de terror durante os meses que antecederam a invasão do Iraque pelas tropas americanas. Por incrível que pareça, grande parte dos americanos acredita que o Saddam Hussein é o responsável pelos atentados de 11 de setembro. Também esqueceram temporariamente da perigosíssima ameaça do Bin Laden. Estamos todos diante de verdadeiro filme de faroeste americano. O sherife Bush, o vingador do presente, está em busca de novas ameaças e velhos fascínoras. Quem se habilita? Afinal, em tempos de ataques preventivos, quem não está com os americanos, obviamente está contra. E tem gente que acredita que os empresários e a classe média venezuelanos estão lutando sozinhos contra um ditador trapalhão. Se eu fosse o Lula, abriria o olho e ficaria muito atento ao noticiário internacional nos próximos meses. Como já diziam os militares argentinos, ?primeiro pegamos os comunistas, depois foram os simpatizantes e depois, pegamos os tímidos?.

Mais um jornalista é morto na guerra… da Colômbia

Clara Inês Rueda Gómez, editora do jornal El Tiempo foi morta a tiros em seu carro em Bogotá na Colômbia.

É mais uma vítima de uma outra guerra com uma participação ainda tímida, porém, promissora, dos militares e conselheiros americanos em nosso continente.

Segundo a organização ?jornalistas sem fronteira? 16 jornalistas colombianos estão sob ameaça de morte e outros 8 colegas tiveram que fugir do país. Os analistas daquela instituição acreditam que jornalismo na Colômbia pode simplesmente deixar de existir num futuro breve.

Enquanto isso no Rio de Janeiro, a guerra continua. A principal diferença de Bagdá é que lá, a guerra tem data para começar e acabar. No Brasil, ao invés de programa de Fome Zero, deveríamos, priorizar um programa de Morte Zero na guerra urbana de nossas cidades. Com índices de mortes cada vez maiores, no Brasil, para muitos, o Iraque, na verdade, é aqui!

Os melhores e piores momentos da cobertura da guerra pela TV brasileira

Assim como no carnaval, deveríamos mais uma vez, distinguir e premiar os melhores e os piores momentos da cobertura da guerra do Iraque pela nossa TV. Aguardamos sugestões. Poderíamos entregar os ?estandartes de ouro? ou, quem sabe, inovar e oferecer os ?bacamartes de lata?. O prêmio para um jornalismo televisivo que deu um tiro que saiu pela culatra. Economizou tanto que acabou não cobrindo nada.

Pelo jeito, a cobertura da Globo, como sempre, vai levar sozinha todos os prêmios. Também, pudera, foi a única a enviar jornalistas para o Kuwait e Jordânia. Por falar nisso, que fim teria levado o jornalista Ozires Martins após aparição meteórica e estranha no Fantástico? De qualquer maneira, a Globo pelo menos tentou. As outras emissoras fizeram uma cobertura ainda mais distante. Parabéns a TV Cultura novamente pela idéia brilhante de transmitir a guerra com a RTP. Parece piada de português, mas alguns dos melhores momentos da nossa cobertura televisiva da guerra foram mostrados pelos nossos patrícios. E pensar que já tivemos um jornalismo de TV muito melhor e muito mais participativo no cenário internacional do que o modelo português.

Ficou evidente que todas as notícias apresentadas nos telejornais da Globo pelos seus correspondentes internacionais não passavam de meras e velhas traduções do noticiário das agências e das TVs como a CNN, BBC e a estreante Aljazira. Isso é uma tendência muito perigosa em relação ao futuro. O jornalismo das TVs abertas em tempos de canais de jornalismo 24 horas, Internet, videofones e crise financeira precisa ser repensado ou vai se tornar totalmente ultrapassado. Aqui no Brasil, os corte de verbas e de pessoal já demonstram seu efeito.

Nos Estados Unidos as primeiras pesquisas de audiência dos principais telejornais das redes de TV já revelam uma diminuição considerável do público dos telejornais da noite quando comparados aos índices de guerras anteriores. A única exceção ficou por conta da NBC que hoje é líder de audiência em toda a programação. A ABC e a CBS sofreram perdas significativas e já estão muito preocupadas com o futuro do jornalismo. O público que realmente se interessa por notícias tende a abandonar os telejornais da noite nas TVs abertas. Já viram tudo em fontes alternativas.

Aqui no Brasil, considerando a qualidade da cobertura da guerra do Iraque pela Globo, o desinteresse das demais redes, o afastamento do grande público dos telejornais também é só uma questão de tempo. E quem não se interessa mesmo por notícias pode sempre encontrar mais uma novela mexicana no SBT.

O jornalismo da Globo sempre foi o ?calcanhar de Aquiles? do império. Nunca entendi por que outras redes insistem em enfrentar a Globo no que ela tem de melhor, as novelas ou a linha de shows e não procuram enfrentar o seu ponto mais frágil, o jornalismo.”