Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Anna Badkhen

MONITOR DA IMPRENSA

ASPAS

RÚSSIA

"Mídia russa atropela a ética para sobreviver", copyright O Estado de S. Paulo / The Boston Globe, 22/03/01

"Será que a Rússia está preparada para uma imprensa livre?

Jornalistas e ativistas dos direitos humanos têm repetidamente acusado o Kremlin de reprimir a mídia de propriedade de empresas privadas.

Mas, quando 13 dos principais jornais russos foram pegos imprimindo reportagens pagas no mês passado, em uma operação revelada por uma pequena firma de relações públicas de Moscou, veio à tona um outro problema: para sobreviver, a embrionária imprensa livre da Rússia freqüentemente compromete a ética jornalística. Esse comprometimento muitas vezes inclui aceitar dinheiro para publicar artigos. O mercado publicitário russo, de US$ 700 milhões, é pequeno para sustentar 25 mil jornais e revistas e 6 sites noticiosos, dizem analistas.

Por causa da falta de publicidade, a imprensa muitas vezes torna-se dependente de outras fontes de renda, como artigos pagos, diz Anna Kachkayeva, uma analista de mídia de Moscou. ?Esse problema não é menos agudo do que o da dependência da mídia dos caprichos das autoridades?, acrescenta. Os grupos de defesa dos direitos humanos daqui e do Ocidente têm repetidamente acusado o Estado e os governos regionais russos de tentarem controlar a mídia. Segundo a Associação Mundial de Jornais, que tem sede em Paris. A Rússia, depois da Colômbia, é o país mais perigoso para os jornalistas. Seis foram mortos na Rússia em 2000.

No ano passado, 54 jornalistas em toda a Rússia foram espancados, esfaqueados ou sofreram ataques com gás lacrimogênio, aparentemente em represália a notícias criticando autoridades, segundo o Centro para Jornalismo em Situações Extremas, com sede em Moscou. Este ano houve 15 ataques contra jornalistas.

O Departamento de Estado dos EUA juntou-se às críticas, informando que seu relatório anual sobre direitos humanos, de fevereiro, registrou que a situação da liberdade de imprensa na Rússia havia piorado em 2000. O relatório menciona ?evidências persistentes de pressão do governo?, por meio de métodos que envolvem investigações fiscais e detenção de jornalistas.

O ministro de Imprensa russo, Mikhail Lesin, disse em uma entrevista que as críticas são exageradas. ?Um jornalista cai e quebra a mão e imediatamente anunciam que ele foi atacado?, disse. Em resposta sarcástica às críticas ocidentais sobre a falta de liberdade de imprensa, Lesin anunciou recentemente que seu ministério está elaborando um relatório sobre a liberdade de expressão e da mídia nos EUA. O texto, que ele espera publicar este mês, faz parte do plano de lançamento de uma campanha de relações públicas para mudar os estereótipos americanos sobre a Rússia.

Lesin disse estar convencido de que seu país tem ?mais liberdade de expressão? do que os EUA porque ?toda a mídia americana pertence a 50 corporações? enquanto na Rússia ?há cerca de mil empresas?. Ele afirmou ainda que as empresas com falta de recursos têm de publicar artigos pagos.

?Falta-lhes investimentos e, conseqüentemente, dependem dos políticos e das pessoas que lhes pagam.?

Embora a lei russa exija que a mídia informe abertamente quando se trata de publicidade, publicar ilicitamente artigos pagos é uma prática amplamente conhecida nos meios jornalísticos e agências de publicidade russas.

Mas ninguém tinha sido pego até que, no mês passado, uma firma de relações públicas, Promaco, promoveu uma entrevista coletiva à imprensa na qual revelou os números das faturas que recebeu de 13 importantes jornais russos que tinham exigido dinheiro para publicar artigos sobre um de seus clientes.

Executivos da Promaco disseram ter distribuído um informe sobre uma loja fictícia de eletrônica para 21 jornais de Moscou. Treze desses jornais exigiram dinheiro em troca da publicação de um artigo sobre a loja.

Executivos da Promaco disseram ter pago a jornais um total de US$ 15.700,00.

Quanto a seus motivos para expor o esquema, Kirill Simonov, diretor da Promaco, disse: ?Queremos parar com essa violação rotineira da lei sobre publicidade.?

Mikhail Berger, editor do diário moscovita Segodnya, um dos oito que não publicaram o anúncio proposto pela Promaco, disse que a única forma de um jornal permanecer independente é juntar-se a conglomerados de mídia pertencentes à iniciativa privada. O Segodnya faz parte da holding Media-Most, que freqüentemente critica o governo. O proprietário da Media-Most, Vladimir Gusinski, é alvo de várias investigações de corrupção, o que levantou suspeitas de que o Kremlin esteja fazendo pressão sobre os adversários."

"Programa de sucesso na TV ronda Moscou à procura de cadáveres", copyright O Estado de S. Paulo / The Guardian, 23/03/01

"Quando começa a anoitecer em Moscou, a equipe da Patrulha Rodoviária fica ansiosa porque ainda não encontrou nenhum cadáver. Ela passou o dia inteiro percorrendo a cidade de carro, indo de um acidente de trânsito à delegacia de polícia e depois a uma ocorrência doméstica. A única proeza até agora foi encontrar dois Ladas amassados depois de baterem num monte de neve. Um passageiro com ferimentos leves fora levado para o hospital. O cinegrafista é forçado a filmar um trecho de neve manchado de sangue, antes de pisotear o chão, murmurando: ?Estamos perdendo tempo. Isto é uma droga.?

Eis que uma onda de alívio percorre a equipe quando ela recebe o último telefonema do dia. Um engenheiro passou o início da noite na cama bebendo vodca e fumando; pôs fogo em si e na casa. Um incêndio feroz está consumindo um prédio residencial no centro.

A equipe chega bem a tempo de filmar os pertences em chamas do homem, que são lançados de uma janela do quinto andar de onde jorra densa fumaça.

Saltando por cima de um emaranhado de mangueiras dos bombeiros, a equipe de cinegrafistas passa correndo por eles e sobe a escada interditada, chegando onde a viúva e a filha do engenheiro estão de pé, mudas, junto ao corpo.

Este momento é filmado e complementado com tomadas no apartamento. A câmera passa por um enorme número de garrafas de vodca vazias. ?Parece que ele morreu durante o sono?, diz o cinegrafista. ?Filmamos seus pés, que estavam um pouco queimados.? Fora do prédio, um grupo de crianças se forma, impressionadas. ?Patrulha Rodoviária?, dizem.

Transmitido quatro vezes por dia, sete dias por semana, o Patrulha Rodoviária é um dos programas mais populares da Rússia – atraindo espectadores com sua intromissão de voyeur. Em blocos de 15 minutos, uma miscelânea de homicídios, mortos em acidentes automobilísticos e incêndios passa pela TV. Suspeitos recém-detidos são tirados de suas celas policiais e induzidos a fazer confissões no ar. A dor histérica de vítimas é filmada.

Cadáveres são exibidos em close no horário nobre.

O formato foi criado em meados da década de 90 por um grupo de executivos que percebeu o crescente entusiasmo do público por crimes e acidentes televisionados – temas encobertos por décadas pelos noticiários edificantes da URSS, dedicados principalmente aos êxitos do país. O programa bate com freqüência o índice de audiência do canal e os anunciantes concorrem para ter seus nomes pintados sob as setas vermelhas de mudança de direção nos carros dos repórteres.

O editor do programa, Andrei Chereshnev, fica meio na defensiva a respeito de seu sucesso, por saber que o conteúdo é um tanto pesado para o gosto ocidental. Ele insiste que não é diversão, pois ?há uma enérgica mensagem moral no programa?, para ajudar as pessoas. ?O objetivo principal é informar sobre problemas como os riscos da embriaguez ao volante ou consumo de drogas?, diz."

ITÁLIA

"Berlusconi diz preferir abandonar negócios à política", copyright Folha de S. Paulo / El País, 26/03/01

"Num encontro que manteve no último 25 de fevereiro com os jornalistas espanhóis que o seguiram até Bilbao, onde dividiu o palco com o premiê espanhol, José Maria Aznar, Silvio Berlusconi pela primeira vez se declarou disposto a vender suas propriedades antes de renunciar à política. Até essa data, o multimilionário milanês vinha combatendo aqueles que o advertiam que, se chegasse ao poder, iria incorrer num colossal conflito de interesses.

A mudança substancial entre as duas atitudes ilustra bem a metamorfose pela qual passa Berlusconi, empresário ambicioso que aterrissou no palco da política em 1993 e se convenceu de que sua missão no mundo é deixar uma marca na história de seu país, porque seu objetivo é salvar a Itália.

?As eleições gerais de 13 de maio próximo serão cruciais para os italianos.? A frase é do próprio Berlusconi, mas certamente tem a concordância dos 47 milhões de eleitores convocados às urnas.

Desde que, em maio passado, o Pólo (hoje, depois de unir-se à coalizão da Liga Norte, rebatizado de Casa das Liberdades) conquistou os governos regionais de toda a parte norte do país (além de algumas regiões do sul profundo), a ascensão política de Berlusconi tem sido avassaladora.

A oposição de direita, de Berlusconi, encabeça as intenções de voto para as eleições, segundo pesquisas recentes. A coalizão estava com 53% das intenções de voto, em pesquisa Datamedia publicada no semanário ?Panorama?, contra 38,4% para a coalizão governista (centro-esquerda) Oliveira e os comunistas. Datamedia e ?Panorama? fazem parte o império de Berlusconi.

Outra pesquisa, do instituto Cirm, para o ?L’Espresso?, de centro-esquerda, dá 52,5% dos votos à Casa das Liberdades no pleito proporcional e 51% no majoritário. A Oliveira e os comunistas obteriam 38% dos votos no primeiro e 44% no segundo.

A diferença entre as duas coalizões diminui na pesquisa do instituto SWG para o semanário de esquerda ?Diario?, que dá ao bloco de Berlusconi 48% das intenções de voto, contra 42% da centro-esquerda e comunistas. Hoje são poucos os que ainda enxergam a possibilidade de uma nova vitória da Oliveira em 13 de maio.

O que aconteceu para que o homem mais odiado por parte substancial do establishment italiano recebesse a luz verde para retornar à liderança do governo? ?Na realidade, o que Berlusconi recebeu foi uma luz amarela?, diz um alto funcionário de uma grande empresa privada do norte do país.

Conscientes de que a centro-esquerda não foi capaz de transmitir uma imagem de estabilidade política, essencial nos tempos de hoje, os poderosos começaram a dar as costas à Oliveira.

Os processos judiciais que perseguiram Berlusconi até o ano passado foram se desvanecendo um a um ou foram adiados.

No momento, permanece ativo contra Berlusconi apenas o juiz espanhol Baltasar Garzón -o mesmo que tentou levar o ex-ditador chileno Augusto Pinochet para ser julgado na Espanha-, que solicitou ao Parlamento europeu permissão para processá-lo pelo suposto caso de corrupção da Tele 5. Mas Garzón está longe de Roma, e, na ?cidade eterna?, Berlusconi recebeu uma bênção decisiva: a do Vaticano.

Tudo indica que apenas um imprevisto grave poderá atrapalhar esse líder populista que se autoproclamou ?o melhor estadista da Europa e do mundo?.

Em 1977, quando a carreira empresarial de Berlusconi alçou vôo -primeiro como construtor de prédios de apartamentos e de supermercados-, ninguém imaginava que a verdadeira ambição desse homem de negócios de 64 anos fosse a política.

Quando, em 1993, Berlusconi decidiu que tinha que participar da batalha eleitoral, fundando um partido -o Força Itália-, analistas políticos interpretaram a decisão como uma tentativa desesperada de salvar seu império da mídia, erguido à sombra do líder socialista já morto Bettino Craxi.

Mas o sucesso avassalador que o levou ao governo no ano seguinte deixou claro que sua fórmula pragmática funcionou numa paisagem política desacreditada por escândalos de corrupção e fraude.

A primeira experiência de Berlusconi no governo durou sete meses e foi um desastre. Berlusconi analisou os erros e voltou com um partido mais estruturado -se bem que, como explica um de seus colaboradores, o professor Giuliano Urbani, ?ele ainda tem uma estrutura muito pequena -não é preciso muito partido quando se tem a televisão?.

Berlusconi percorre praças públicas e lota auditórios com um livro na mão, ?L’Italia chi ho in mente? (A Itália que tenho em mente), a síntese do pensamento político desse empresário para quem a Coca-Cola é o maior símbolo de liberdade que existe.

Porta-voz de um liberalismo que, segundo Urbani, a Itália nunca antes teve, o ?Cavaleiro? se propõe a simplificar ao máximo a complexa trama de leis civis e penais italianas. No ano passado, num debate sobre segurança dos cidadãos, Berlusconi teceu duras críticas aos juízes que têm ambições políticas e propôs reduzir os delitos pela metade para resolver os problemas da Justiça italiana.

No plano fiscal, a fórmula é a mesma. Em seu programa, Berlusconi propõe reduzir impostos em até 10% no prazo de dez anos.

É um programa populista demais, na opinião do comissário europeu da Concorrência, Mario Monti, que se viu obrigado a pedir, diplomaticamente, um pouco de realismo -mesmo porque, se adotasse medida, a Itália se arriscaria a sair da zona do euro. (Tradução de Clara Allain)

EUA

"Monica Lewinski fecha contrato com canal de TV", copyright O Globo, 21/03/01

"A cidade é grande o bastante para Clinton, Hillary e a ex-estagiária da Casa Branca, mas o que está na moda é o principado de Monica, a nova nova-iorquina designer de bolsas, festeira e falante como nunca: fechou um contrato com o canal de TV por assinatura HBO para um documentário sobre o seu envolvimento com Bill Clinton, cujo valor não foi divulgado.

Monica Lewinski cumpriu o acordo de imunidade feito com um promotor e agora pode falar já que Clinton não é mais presidente. E precisa de dinheiro, pois a conta de sua defesa é de US$ 1,5 milhão. ?Meu pai e meu padrasto têm sido bons para mim?, disse ao semanário ?New York?, ?mas estou determinada a assumir a responsabilidade pelas minhas obrigações financeiras.?

Julie Nadler, a relações-públicas, disse que Monica não vê a hora de contar sua história. ?Ela espera ter filhos e netos aos quais possa mostrar.?

Ela é uma profissional de TV, afinal de contas. É correspondente do britânico Channel 5. E uma celebridade recebida de braços abertos por Nova York. É no apartamento em que mora, um quarto-e-sala dúplex, no Village, a sede do negócio de bolsas, vendidas em duas redes de lojas, Henri Bendel e Fred Segal, e também em Londres, na Cross, e pela internet, com preços entre US$ 130 e US$ 185. Segundo a ?New York?, algo nela a faz parecer mais jovem que a mulher de 27 anos que é. ?Talvez seja porque durante cinco anos eu fui uma estagiária de 21 anos de idade?, disse."

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