Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Anti-ético ou anti-semita

ORIENTE MÉDIO

Rene Guedes (*)

Li a carta de Alexandre Eisenberg [remissão abaixo] em reposta ao possível anti-semitismo de José Arbex Jr. Caro Alexandre, todas as vezes em que se critica alguma ação do governo israelense logo existem reações como a sua, acusando aos que se colocam de maneira mais crítica em relação ao problema do Oriente Médio, e especificamente, sobre as ações israelenses, como "anti-semitas". Não se deve respaldar ações como a de Sharon. Fosse ele um líder árabe (como aliás, nós, críticos do mundo, não poupamos os Saddams da vida) deveria ter o mesmo tratamento. O fato é que, ao se valer do medo e de teses atávicas dos partidos ultra-religiosos, os governos israelenses, principalmente os pertencentes ao Likud, transformam o Estado israelense, outrora laico e fonte de inspiração, em algo mais que uma teocracia qualquer. O fato é que o mundo hoje olha com especial atenção aqueles que, mesmo israelenses, se colocam contra a política belicista e racista do Estado israelense contra os palestinos.

Via civilizada

Falando sobre a censura, nada mais censurável do que usar um sentimento histórico causado pelo horror do Holocausto para defender tais ações do sargentão Sharon, classificando todos os contrários como "anti-semitas", título que, por si só, condena o interlocutor ao limbo dos desgraçados. Tais observações são, sim, anti-éticas, pois apoderar-se da tragédia que engoliu milhões de vidas, judeus, ciganos, inválidos e outros "párias" do sentimento estético nazista, para colocar-se acima do bem e do mal é subverter a importância do diálogo, sufocando-o em uma pseudodisputa entre "bons" e "maus" (discurso muito em moda atualmente, diga-se).

Portanto, não me veja como "anti-semita" por defender uma política justa para os palestinos, e de paz para os israelenses, com a possibilidade de ambos os povos darem-se ao direito da "coexistência". Rezo para que o problema não caia na lógica perversa de Kundatriev às avessas, e que "soluções finais" sejam postas de lado. Digo isso exatamente quando leio, e isso não é segredo para ninguém, dos planos de algumas autoridades israelenses de "esvaziar" os territórios palestinos, expulsando-os para rincões da Jordânia e ou do Líbano. Todas as instituições citadas por Arbex revelam que, dentro da sociedade civil israelense, existe uma resistência (e, esperamos, cada vez maior) às ações de seus líderes. Jornais como o Maariv levam a reflexão desses acontecimentos ao debate nacional. Israel é um país democrático, e oferece à população um invejável padrão de vida.

O grande desafio da jovem nação é estabelecer uma verdadeira humanização de suas relações com o mundo. Só assim os radicais árabes serão desestimulados de sua sanha assassina, sanha essa alimentada cada vez que um tanque Merkava adentra uma aldeia palestina. Clausewitz dizia que a Prússia não era um Estado que possuía um exército, mas sim um exército que possuía um Estado. Esperamos todos que isso não aconteça em Israel, e que a política não se dê pela marcha de seus bulldozers, mas pela via civilizada.

(*) E-mail: <rene_guedes@hotmail.com>

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