Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Antônio Lemos Augusto e Daniela Lepinsk

DIA DO JORNALISTA

"Relembrar é viver", copyright boletim Imprensa Ética, 8/04/02

"Dia 07 de abril – Dia do Jornalista. Pensamos em escrever temas diversos no boletim desta semana. Inicialmente, queríamos apontar o que entendemos por falhas da profissão. Depois, resolvemos que faríamos um texto mostrando a importância do jornalismo na sociedade, historiando fatos nacionais, louvando nosso ofício. Finalmente decidimos: nada melhor do que reproduzir todas as frases veiculadas pelo Imprensa Ética no espaço ?Leia e Pense?. São mais de 50 frases para que jornalistas e não jornalistas reflitam um pouco sobre esta área.

?Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data?

(Luís Fernando Veríssimo – Humorista)

?Primeiro apure os fatos. Depois, pode distorcê-los à vontade?

(Mark Twain- Escritor norte-americano, 1835-1910)

?O repórter deve possuir a fibra robusta dos carteiros, a face impertubável dos caixeiros viajantes, a calma de um guarda civil em sentinela. Naturalmente, quando um homem consegue reunir tantas qualidades eminentes e tão raras, seria excessivo exigir dele que conheça ainda um pouco de sintaxe e de gramática?

(Gangolin ‘Luigi Arnaldo Vassalo’, humorista italiano – 1852-1906)

?As pessoas não param de confundir com notícias o que lêem nos jornais?

J. Liebing, jornalista norte-americano – 1904-1963)

?O jornal exerce hoje todas as funções do defunto Satanás, de quem herdou a ambigüidade. E é não só o pai da mentira, mas o pai da discórdia?

(Eça de Queiroz – Escritor português, 1845-1900)

?Um jornal é um instrumento incapaz de discernir entre uma queda de bicicleta e o colapso da civilização?

(George Bernard Shaw – Teatrólogo irlândês – 1856/1950)

?Um editor de jornal é alguém que separa o joio do trigo – e imprime o joio?

(Adlai Stevenson, político norte-americano – 1900/1965)

?A mídia é safada?

(Antônio Carlos Magalhães, in ?Folha de São Paulo?, 28/04/2001)

?O bem mais precioso na vida de um jornalista não é o seu emprego, mas a sua credibilidade?

(Eugênio Bucci, in ?Sobre Ética e Imprensa?, Editora Cia das Letras)

?Sou a favor da imprensa livre. O que não suporto são os jornais?

(Tom Stopard, teatrólogo inglês, 1937)

?A leitura dos jornais, sempre penosa do ponto de ver estético, o é freqüente do moral, ainda para alguém que tenha poucas preocupações morais?

(Fernando Pessoa, poeta português – 1888/1935)

?Contra os burocratas de redação que passam a vida destroçando textos ou, simplesmente, jogando no lixo as notícias apuradas pelos repórteres?

(Jornalista Geneton Moraes Neto, in ?Dossiê Brasil?, 1997)

?Fico na frente da televisão para aumentar o meu ódio. Quando minha cólera está diminuindo e eu perco a vontade de cobrar o que me devem, eu sento na frente da televisão e, em pouco tempo, meu ódio volta?

(Escritor Rubem Fonseca, in ?O Cobrador?)

?Os jornais, que deveriam ser os educadores do público, são apenas seus cortesãos, quando não suas cortesãs?

(Barbey D’Aurevilly, 1808 – 1889)

?O jornalismo consiste basicamente em dizer ‘Lord Jones morreu’ para pessoas que nunca souberam que Lord Jones estava vivo?

(Gilbert Keith Chesterton, escritor inglês – 1874/1936)

?Os jornalistas são pessoas interessantes, às vezes inteligentes. Alguns órgãos de imprensa, infelizmente, vivem de verbas do governo. A imprensa deve ser livre. O jornalista, saber o seu papel. Cobrar, ir atrás, investigar. ?

(Procurador da República em MT, Pedro Taques, em bate-papo no site Quebra-Torto, em 19/06/01)

?Quando você chega em um país e toda a imprensa, unanimemente, comemora o Dia da Liberdade, trata-se de uma ditadura. Se, porém, a imprensa diz que o clima de restrições à liberdade é insuportável, você está numa democracia ?

(Millôr Fernandes, humorista brasileiro – 1924)

?A imprensa escreve para vender, não para informar ?

(Frase do filme ?Conspiração?, do diretor George P. Cosmatos, 1997)

?Se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la?

(Escritor Honoré de Balzac, 1799-1850)

?Quantas lindas árvores deram a vida para que o escândalo de hoje pudesse chegar sem atraso a 1 milhão de leitores?

(Escritor Edwin Teale, 1953)

?Como o mundo é legislado e como as guerras começam? Diplomatas dizem mentiras aos jornalistas e, depois, acreditam no que lêem?

(Karl Kraus)

?A imprensa tem mais é que aproveitar a situação de eu ter falhado para descer o cacete. Afinal, é notícia ruim que vende jornal?

(Rogério Ceni, jogador de futebol, goleiro do São Paulo, em 21/12/2000)

?Quando terminamos de ler os jornais, parece-nos que as notícias melhores ficaram para o dia seguinte?

(Eno Teodoro Wanke – 1929)

?As redações são laboratórios assépticos para navegantes solidários, onde parece mais fácil comunicar-se com os fenômenos siderais do que com o coração dos leitores. A desumanização é galopante?

(Escritor Gabriel García Márquez)

?A informação que temos não é a que desejamos. A informação que desejamos não é a que precisamos. A informação que precisamos não está disponível ?

(Escritor John Peers)

?Cada vez que vejo o telespectador sendo tratado como débil mental, e isso acontece cada vez mais, e quanto mais se trata o telespectador assim, mais ele acaba assumindo essa postura. Isso é extraordinariamente perigosíssimo?

(Jornalista Nelson Hoineff, criador do programa ?Documento Especial? – TV Manchete, início dos anos 90 – em entrevista para jornal O Povo, CE)

?Só existe opção quando se tem informação… Ninguém pode dizer que é livre para tomar o sorvete que quiser se conhecer apenas o sabor limão?

(Jornalista Gilberto Dimenstein)

?Quando terminamos de ler os jornais, parece-nos que as notícias melhores ficaram para o dia seguinte ?

(Escritor Eno Teodoro Wanke, 1929)

?Ou o repórter sabe escrever corretamente, de acordo com as normas estabelecidas pela empresa na qual trabalha, ou deveria ser substituído por outro que preenchesse este requisito. Admitir a existência de repórteres que necessitem de um ‘revisor de luxo’ dos seus textos é absurdo?

(Jornalista Clóvis Rossi, in ?O que é jornalismo? – Coleção Primeiros Passos)

?Benditos os que nunca lêem um jornal, porque verão a natureza e, através dela, a Deus ?

(Henry Thoreau, escritor canadense, 1817-1862)

?Há uma padronização absolutamente inaceitável. Tudo é igual, as variações são mínimas. Falta personalidade. Cada matéria deve ter o seu espírito. (…) Acho que é preciso uma nova reforma. A que fiz transformou-se em fórmula e automatizou-se ?

(Pompeu de Souza, jornalista, introdutor da técnica da pirâmide invertida no jornalismo brasileiro)

Liberdade de imprensa ?é a possibilidade de o dono de uma determinada empresa editora publicar tudo aquilo que quiser ?

(Clóvis Rossi, jornalista, in ?O que é jornalismo?, Coleção Primeiros Passos)

?Algumas pessoas matam. As outras pessoas se satisfazem lendo a notícia dos assassinatos?

(Millôr Fernandes, jornalista, em 1951, na revista O Cruzeiro)

?O jornalista é um homem que errou de profissão?

(Otto Von Bismark, estadista alemão, 1815-1898)

?O máximo que uma faculdade de jornalismo pode conseguir – mesmo supondo que ela injete em seus alunos um civilizado código de ética – é gerar jovens repórteres que fugirão do jornalismo tapando o nariz, assim que se familiarizarem com o que se passa dentro de uma típica redação de jornal?

(H. L. Mencken, escritor americano, 1880-1956)

?Talvez esteja na hora de o trabalho jornalístico começar a mostrar mais compaixão e menos cinismo ?

(H. Eugene Goodwin, jornalista norte-americano in ?Procura-se ética no Jornalismo?, 1993)

?A televisão sabe que está multiplicando uma geração de clones deformados pela imoralidade civil e religiosa?

(Edvaldo Pereira de Moura, juiz de Direito no Piauí e professor de Direito Penal, in Revista Consulex, 31/10/2001)

?Será a imprensa realmente um representante do povo ou será um usurpador, um representante auto-nomeado que defende os seus próprios pontos de vista e não os de seus constituintes??

(Deni Elliot, jornalista norte-americano, autor do livro ?Jornalismo versus Privacidade?, editora Nórdica, 1986.)

?Adoro a TV. Antes dela, o cinema era a pior das artes. Agora, estamos em segundo lugar?.

(Billy Wilder, cineasta austro-americano)

?Mais vale que um jornalista não ganhe um lugar gratuito para assistir a uma peça de teatro da qual deve fazer a apreciação crítica. Mas seu jornal vai pagar-lhe a entrada??

(Claude-Jean Bertrand, autor do livro ?A deontologia das mídias?, editora Edusc)

?A televisão me deixou burro, muito burro demais?

(Trecho de música do grupo de rock Titãs, lançada nos anos 80)

?O papel aceita qualquer coisa. O computador também. Temos que ser maduros na hora de escrever os relatos de todos os dias ?

(Jornalista Ricardo Noblat, in Dicas da Dad – português com humor, de Dad Squarisi)

?Na maioria dos casos, a denúncia fácil, irresponsável, não checada, não é conseqüência da ingenuidade do repórter inexperiente, de falha da redação ou qualquer outro tipo de problema técnico. É algo voluntário: a transformação da notícia em produto de vitrine para vender jornal, para promover jornalista ou mesmo fazer política?

(Jornalista Francisco Leopoldo Carvalho de Mendonça Filho, in Assessoria de Imprensa, o papel do assessor – Fenaj, 1996

?O dono da empresa e o jornalista têm um direito fundamental de exercer sua atividade, sua missão, mas especialmente têm um dever (…) de informar à coletividade (..) objetivamente sem alterar a verdade ou esvaziar o sentido original. (…) Os jornalistas e empresas jornalísticas reclamam mais seu direito do que cumprem seus deveres ?

(José Afonso da Silva, doutrinador em Direito Constitucional, in Curso de Direito Constitucional Positivo)

?De fato, se a imprensa diária, tal como acontece com outros grupos profissionais, tivesse de pendurar um letreiro, seus dizeres seriam os seguintes: aqui homens são desmoralizados com a maior rapidez possível, na maior escala possível e ao preço mais baixo possível?

(Sorel Kierkegaard, 1848)

?A mídia falha em entender que sua liberdade de expressão é baseada na liberdade da sociedade onde ela está inserida. Quando a liberdade mais ampla é reduzida ou eliminada, a própria liberdade de imprensa desaparece juntamente ?

(Marcos Rosas Degaut Pontes, in ?Terrorismo – Características, tipologia e presença nas relações internacionais?)

?Essas pessoas desagradabilíssimas que se auto-intitulam jornalistas?

(Escritor Ivan Lessa, in Revista Veja, edição 1.469)

?Todo jornalista decente é um urubu na sorte dos outros mortais. Ficamos esperando que as pessoas escorreguem numa casca de banana e batam com a cara no chão. Se tudo corre muito bem, para nós é muito mal ?

(Jornalista Paulo Francis)

?O jornal americano médio, especialmente o chamado de primeira linha, tem a inteligência de um pastor batista, a coragem de um camundongo, a retidão de um papalvo, a informação de um porteiro de ginásio, o bom gosto de um criador de flores artificiais e a honra de um advogado de porta de cadeia ?

(Jornalista H. L. Mencken, um dos principais nomes da história da imprensa norte-americana)

?Bons tempos aqueles em que jogador de futebol era analfabeto e, jornalista, alfabetizado ?

(In Opasquim21, n?01, na página do ?Nataniel Jebão?)

Todo jornalista, por mais que aparente ser extrovertido, é um grande fofoqueiro tímido ?

(Anônimo)

?Cuidado! Ler jornal na hora do almoço pode provocar complicações intestinais?

(Anônimo – E se o Ministério da Saúde mandasse colocar o aviso nos jornais, tipo maço de cigarro?)

?Jornalista é muito desinformado mesmo?

(Jornalista Pedro Bial, durante o programa Big Brother, último domingo)

?Estão todos satisfeitos com o sucesso do desastre: vai passar na televisão?

(Compositor Renato Russo, in Metrópole)

?Você mentiu da mesma forma que os jornais falam da realidade?

(Compositores Humberto Effe e Pequinho)"

 

"Muito a comemorar", copyright O Estado de S. Paulo, 07/04/02

"Minha espertíssima agenda me comunica aqui que hoje (07/04) é um dia em que temos muito a comemorar, mesmo levando esta vida airada de brasileiro, que todo dia está comemorando alguma coisa, povo festeiro que somos, alegre pela própria natureza e coberto de razões para celebrar em nosso berço esplêndido. Hoje é, entre outras coisas, dia mundial da saúde, dia do corretor, dia do médico legista e, finalmente, dia do jornalismo. Acho que todas estas efemérides merecem uma palavrinha especial, por constituírem excelente oportunidade para reflexão sobre as benesses que se derramam sobre as nossas cabeças e, ingratamente, não agradecemos aos fados benfazejos, que nos tornam tão felizes.

Infelizmente, me faltam informações abalizadas para falar muito sobre alguns desses assuntos. Por exemplo, não entendo nada do ofício de corretor. Não sei se o dia de hoje também se aplica aos corretores imobiliários, mas imagino que sim, corretor é corretor. Eles devem estar tendo um vidão, dada a facilidade com que se constroem e vendem-se casas e apartamentos no Brasil. Está ao alcance de qualquer um procurar um corretor de confiança, devidamente credenciado e comprar uma casa a ser paga em módicas prestações.

O fato de que, depois de pagar dez anos de prestações, o felizardo realizador do sonho da casa própria ainda tem mais a pagar do que o preço original do imóvel não deve empanar nossa alegria. Deixemos de olhar as coisas pelo lado negativo. Segundo me contam, por exemplo, o comprador está segurado. Se morrer, não deve mais nada, porque o seguro paga. Portanto, qual é a queixa? Se o sujeito constatar que não dá mais para pagar as prestações, basta se livrar da má vontade e dar uma morridinha, deixando uma família amparada, garantida e tendo onde cair morta também.

Se os outros corretores, como os da Bolsa de Valores, estiverem incluídos nos lembrados pelo dia de hoje, atentemos para como se dão bem, gerenciando recursos alheios e ganhando polpudas comissões, sem incorrer em riscos de espécie alguma. Claro, nem tudo é perfeito e o constante nervosismo do mercado, sobre o qual lemos fartamente em cada jornal que abrimos, há de cobrar seu preço sobre seus agentes, os corretores. Mas também aqui também deve-se procurar o lado positivo. Nada que duas cartelas de Lexotan-6 diárias não resolvam, ou medicamento de igual uso cotidiano por todos os brasileiros. Pensemos, aliás, na indústria farmacêutica que, com os empregos gerados pela venda de tranqüilizantes e assemelhados aos corretores e seus correteados, mantém empregos e assegura os investimentos patrióticos feitos em pesquisas no setor.

O que, aliás, nos traz à mente as condições de saúde. A medicina brasileira é muito adiantada, tanto assim que quem se dispuser pode ir a São Paulo e medicar-se com alguns dos melhores profissionais do ramo. O próprio presidente da República faz isso e já aconselhou a todos os brasileiros a que se submetessem a pelo menos um check-up anual, ato ao alcance de qualquer um, assim como está ao alcance de qualquer um, se for o caso e imposição das altas responsabilidades de seu cargo, ir a Cleveland ou a algum outro centro de excelência médica americano, para obter o tratamento adequado. É só, como vemos nos comerciais de tevê do governo, nos dirigirmos ao posto de saúde mais próximo, o SUS paga tudo, está na lei.

A situação é tão boa que chegamos a um certo relaxamento, quiçá compreensível, mas não justificável. Facilitamos tanto que hoje, apesar de nossa medicina ser tão adiantada, já detemos alguma espécie de recorde internacional em tuberculose, mortalidade infantil e quejandos, tudo por nossa mania de não procurarmos o posto de saúde mais próximo. E a oportunidade que damos ao mundo de estudar doenças como a dengue e a febre amarela, já de muito erradicadas dos países civilizados, a ponto de seus cientistas não disporem mais de pacientes a serem observados? Bem verdade que não merecemos todo o crédito, porque não fazemos isso com espírito de altruísmo e desprendimento, fazemos isso por via da descontração e da mania do jeitinho brasileiro.

A epidemia de dengue, como estamos cansados de saber, é culpa nossa. Num país sério, os cultivadores de bromélias já estariam em cana, bem como qualquer um que visse uma poça permanente e não comunicasse a ocorrência à companhia de águas e esgotos responsável. Basta discar um número disponível a todos, para elas acudirem imediatamente. Mas não, esse é o nosso defeito, o relaxamento. E assim jogamos sobre os ombros do operoso governo essa epidemia testemunha de nossa – vamos reconhecer – irresponsabilidade. Agora mesmo, vemos nos noticiários que tem gente que se recusa a permitir a entrada dos mata-mosquitos em suas casas, porque muitas já foram assaltadas por bandidos disfarçados de mata-mosquitos. Isso é desculpa? Ora, vamos e venhamos, que é um risco de assalto, em comparação aos riscos sanitários incorridos por toda a população? Isso pode redundar na inconcebível utilização da CPMF em programas emergenciais de saúde, coisa com a qual ela nunca teve a ver, obrigando o governo a fazer ginásticas financeiras inenarráveis.

Resta pouco espaço para as outras categorias homenageadas. Ficam para outra ocasião. Mas, para não melindrar ninguém, pensemos em como tantas famílias, seja de assassinados, seja de vítimas de acidentes causados pela vontade de Deus, hoje têm seu médico legista de estimação, dando mais um motivo de orgulho a essa operosa e sobrecarregada categoria. Dificilmente, a não ser em casos extremos como o Afeganistão, haverá tantas oportunidades para legistas. E, last, not least, chegou a vez do jornalismo, que de fato é uma vergonha e deveria ser objeto de uma crônica especial. Além de sermos todos corruptos e comunistas ou nazistas disfarçados, ainda somos responsáveis por todas as poucas mazelas do Brasil. Vivemos denunciando escândalos, noticiando calamidades e pedindo providências. Ou seja, como qualquer político enrolado poderá asseverar, é tudo culpa da imprensa. Pensando bem, o jornalismo é que não merece homenagem nenhuma e vai ver até que a epidemia de dengue é também causada pelo sensacionalismo da imprensa. Fechar os jornais e abolir os noticiários resolveria tudo. Por que não pensamos em soluções simples?"

 

"Sem comemoração", copyright O Povo (CE), 6/04/02

"A categoria dos jornalistas atravessa o momento mais difícil de sua história. Após anos de lutas, em 1969 conquistamos a regulamentação profissional. No dia 25/10/2001, a categoria se viu reduzida a nada, diante da liminar da juíza federal substituta de São Paulo, Carla Rister, suspendendo a obrigatoriedade do diploma para a obtenção do registro profissional. É sob a ameaça de desregulamentação que se comemora o Dia do Jornalista (07 de abril).

A medida judicial fundamentou-se no entendimento de que a exigência do diploma não teria sido recepcionada pela Constituição de 1988, pois se chocaria com a liberdade de expressão. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Advocacia Geral da União entraram com recurso no Tribunal Regional Federal de São Paulo.

Enquanto se aguarda o julgamento final do processo, qualquer cidadão pode exercer a profissão, obtendo o registro precário nas Delegacias Regionais do Trabalho (DRTs). A DRT do Ceará já concedeu quatro registros (apenas um requerente tem curso superior, em Economia) e analisa mais dois pedidos.

Assim, cabe-nos formular algumas indagações: por que não é permitido a qualquer pessoa exercer livremente as profissões de médico, advogado, engenheiro etc? Quais interesses estão por trás de uma medida que banaliza a profissão? Por que essa discussão ressurge junto com o projeto que permite a entrada do capital estrangeiro nos meios de comunicação? Por que a população passa ao largo na análise de uma questão que lhe diz respeito? Afinal de contas, que compromisso teria com a transmissão de uma informação séria, fidedigna, comprometida com o social e a ética, alguém que obteve seu registro de forma aleatória?

Os questionamentos são inúmeros. Muitos podem e têm o direito de apontar limitações nos profissionais de imprensa e das faculdades de comunicação. A discussão deve ser fomentada, não apenas no jornalismo, mas em muitas outras áreas profissionais, até porque abre possibilidade da crítica construtiva."

 

MERCADO

"Papel e tinta estão mais caros, a publicidade caiu e as vendas despencaram", copyright O Estado de S. Paulo, 6/04/02

Péssimas notícias para a imprensa argentina. Não exatamente as que recheiam as páginas dos diários, mas as que dizem respeito aos seus próprios negócios. Com a crise, os argentinos estão deixando de comprar jornais, a publicidade despencou, a tinta importada está mais cara e o preço da tonelada do papel dobrou, subindo para 900 pesos nos últimos três meses. Analistas acreditam que o faturamento médio das empresas jornalísticas deve cair até 40% este ano.

Dados do Instituto Verificador de Circulaciones (IVC) indicam que os principais jornais apresentaram retração entre dezembro e fevereiro. O Grupo Clarín teve queda de 8,2% nas vendas médias diárias do Clarín, o de maior circulação, e de 24,8% no diário esportivo Olé. O La Nacion, mais tradicional da Argentina, teve uma redução menor, de 3,6%, e o Diario Popular, 6%. Só o Página/12 teria crescido, entre 10% e 15%, segundo dados da empresa, que não informa esses números ao IVC.

As vendas de publicidade e classificados tiveram retração entre 25% e 30%. ?Quando a economia cai, a publicidade também se reduz. É um dos investimentos mais elásticos?, explicou Martin Etchevers, gerente de comunicação do Clarín, jornal que em fevereiro vendeu cerca de 420 mil exemplares por dia. Comparando os dois primeiros meses deste ano com o de 2001, a queda nas vendas do diário foi de 10,8%. O La Nacion vendeu em fevereiro uma média de 160 mil exemplares por dia. ?É uma situação inédita. Nos últimos quatro meses, a crise na imprensa se agravou. Nunca houve nada parecido?, disse Carlos Vernazza, secretário da Asociación de Entidades Periodísticas Argentinas, entidade que reúne as principais empresas de comunicação.

A maioria dos periódicos da Argentina não tem assinantes, por pressão dos sindicatos de jornaleiros e de distribuidores. Por isso, as empresas têm de se desdobrar para manter as vendas nas bancas num país com uma classe média cada vez mais empobrecida.

Uma das estratégias tem sido manter o preço de capa, entre 1,00 e 1,20 peso nos dias de semana, e 2,50 pesos nos domingos. ?Os diários estão tentando manter os preços, mas não posso dizer até quando?, disse Etchevers. Outra é apostar também na informação da crise como um produto de venda. ?Mantemos uma linha séria, crítica e de investigação. Narramos com muitos detalhes os novos fenômenos, clubes de trueques, panelaços, assembléias de bairro e o perigo do fascismo?, afirmou Martín Granovsky, subdiretor do Página/12.

O Clarín, que em 2000 faturou 550 milhões de pesos (ou dólares), espera obter faturamento maior neste ano. Mas em pesos, já que não existe mais a dolarização. O jornal, assim como o La Nacion e o Página/12, investe em enciclopédias, fascículos e outros produtos para tornar o produto mais atraente. O fundo de investimento Goldman Sachs detém 18% do capital do Grupo Clarín.

Há 5 meses, eram distribuídos gratuitamente 850 mil exemplares de três jornais na Argentina. O Metro, de um grupo sueco, e El Diario de Bolsillo, fecharam. Restam os 200 mil diários vespertinos do La Rázon, do Grupo Clarín. Segundo Etchevers, a publicidade dirigida mantém o periódico viável para ser distribuído nos meios de transporte, pedágios e supermercados.

No interior do país, a situação é igualmente ruim. O La Voz del Interior, de Córdoba, teve uma retração de 12,6% na comparação dos dois primeiros meses deste ano com 2001. A venda média é de 56 mil exemplares. ?Esta crise já obrigou o fechamento de algumas empresas e há muitas outras que estão em vias de fechar?, afirmou o gerente Felipe Videla, da Asociación de Diarios del Interior de la República Argentina. São mais de 80 jornais provinciais.

Jornalistas – A crise da imprensa escrita argentina afeta também os jornalistas. Segundo o secretário da Federación Argentina de Trabajadores de Prensa, Jose Insaurralde, algumas empresas já reduziram em até 20% os salários dos trabalhadores. Em agosto, o Página/12, por exemplo, reduziu em 12% os salários superiores a 2.000 pesos – a média salarial é de 1.400 pesos. O Clarín fez um corte de mais de 70 pessoas da redação em dezembro de 2000 para conter gastos. Um cenário nada animador para os mais 50 mil estudantes de jornalismo espalhados nas faculdades e escolas da Argentina."

 

ORIENTE MÉDIO

"Israelenses estão perdendo a guerra no campo da mídia", copyright O Estado de S. Paulo, 7/04/02

"Se Israel leva nítida vantagem no plano militar, o mesmo não ocorre na mídia, cujos resultados têm sido cada vez mais contestados. O ministro de Relações Exteriores, Shimon Peres, tem afirmado que a ofensiva militar contra Yasser Arafat constitui também uma ?batalha de imagens?.

Nesse conflito podem ser identificadas três frentes diversas: a política, a militar e a da mídia, mesmo porque, segundo Peres, ?uma câmera também é uma arma?.

Esse parece ser o calcanhar-de-aquiles da operação Muro de Proteção, especialmente no plano internacional. O cerco imposto a Arafat constitui um grave ?erro de mídia?, afirma o ex-primeiro-ministro trabalhista e Prêmio Nobel da Paz.

Nessa área, o balanço da ofensiva tem sido negativo em toda a Europa, especialmente na França, tido como o país mais hostil à política de Sharon.

O que mais irrita o governo de Israel é constatar que está contribuindo para transformar Arafat numa vítima e não num ?perigoso terrorista?, único e principal responsável pelos atentados suicidas dos últimos tempos. Os jornais, emissoras de rádio e TV, têm multiplicado artigos e reportagens sobre a forma como essa ofensiva tem sido tratada pela mídia européia.

O cerco a Arafat acabou transformando-o novamente numa vedete, apagando a imagem que prevalecia, mesmo em algumas organizações árabes, de um líder idoso e doente, em pleno declínio. A posição de vítima está permitindo a Arafat mobilizar a seu favor tendências palestinas da oposição e a maior parte da opinião pública internacional. Outro problema de comunicação para Israel foi o grande número de operações com blindados, pois os estragos são importantes, provocando cenas de impacto quando captadas pelos cinegrafistas e fotógrafos.

Diante disso, Israel decidiu abrir um grande centro de imprensa pondo à disposição dos jornalistas uma verdadeira brigada de porta-vozes para explicar e justificar suas posições. O importante é estar sempre presente em matéria de ocupação audiovisual, não permitindo que prevaleça a presença palestina. Já se fala até da recuperação do ex-primeiro ministro Binyamin Bibi Netanyahu, como principal porta-voz da ofensiva israelense. Ele é tido como um mestre quando se trata de marketing político. O único e grande problema é harmonizar os discursos desses três dirigentes."