Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ao jeito dos interessados

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Chico Bruno (*)

Nos dias 23, 24 e 25 de setembro foram divulgados três resultados de sondagens de opinião para as eleições presidenciais de 2002, Do Datafolha, do Ibope e do Sensus.

Como sempre, a imprensa dá destaque aos resultados. A Tribuna da Imprensa, do Rio, estampou manchete ocupando meia página da edição de 26 de setembro, dando como virtual candidata da situação a governadora Roseana Sarney. No mesmo dia, a Folha repercutiu afirmações de Tasso Jereissati, governador do Ceará, de que Roseana não pode ser descartada como opção. Lula e Ciro Gomes assumiram a mesma opinião de Tasso.

Da forma como são divulgadas, essas sondagens pela imprensa demonstram clara intenção de engabelar os leitores mais ingênuos. Numa delas foram inseridas novas situações, como o apoio do presidente Fernando Henrique a Serra e a Roseana. Acontece que no cenário em que Serra é o candidato de FHC o nome de Roseana permanece e, ao contrário, quando Roseana é a candidata de FHC, o nome de Serra é retirado das opções. Isso passa despercebido aos leitores, naquele emaranhado de cenários testados, e distorce completamente os resultados. Fica no ar uma sensação de se querer esquentar os resultados de Roseana. O correto seria retirar o nome de Roseana quanto a opção fosse Serra: o contrário induz a raciocinar que estão vendendo gato por lebre.

Além disso, é desigual a disputa entre ela e os demais pré-candidatos da situação. Enquanto a governadora do Maranhão é personalizada em comerciais de televisão ? no último, repudiava os ataques terroristas aos Estados Unidos ?, os demais candidatos não dispõem desse artifício. Isso cheira a embuste. É uma clara tentativa de manipulação das sondagens. Esse raciocínio não vale para os demais candidatos, com exceção de Garotinho, que é estreante, assim como a governadora e os outros pré-candidatos governistas.

Contribuição ao descrédito

Causa estranheza que nenhum dos três institutos testem um cenário sem Lula, trocando?o por Eduardo Suplicy, haja vista que o senador está cansado de afirmar que disputará as prévias que escolherão o candidato do PT à Presidência da República. Qual o real motivo da exclusão do nome do senador Suplicy das sondagens? E por que não testam o ministro Paulo Renato?

O correto é testarmos uma situação com os nomes postos de Lula ou Suplicy, Ciro, Itamar, Garotinho, Enéas e o candidato de FHC. Aliás, isso aconteceu em pesquisa, feita nos dias 9 e 10 de setembro, num estado nordestino. O resultado: Lula, 25%; Ciro, 21%; o candidato de FHC, 11%; Itamar, 9%; Garotinho, 4%; Enéas, 4%; brancos, nulos e indecisos, 26%. O nome de Suplicy não foi testado em substituição a Lula.

Esse exemplo demonstra que os resultados diferem completamente do que vem sendo divulgado. Divulga-se apenas o que convém aos contratantes das pesquisas. Está mais do que claro que é preciso divulgar os questionários antes que as pesquisas vão a campo, e que os resultados sejam apresentados em sua totalidade, com transparência, para que os cientistas políticos possam analisá-los com firmeza. O que se está fazendo é contribuir para o descrédito das sondagens de opinião pública. Depois os institutos se queixam de que estão sendo execrados.

(*) Jornalista

    
    
              

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