Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ação músculo-relaxante

Edição: Marinilda Carvalho

MOSAICO

Há vinte anos o laboratório suíço Roche lançou no mercado um tranqüilizante, um benzodiazepínico com o nome fantasia (comercial) “Librium”. Os benzodiasepínicos são drogas que apresentam propriedades ansiolíticas, sedativas, anticonvulsivantes e músculo-relaxantes.

O fato de o benzodiazepínico ser músculo-relaxante me fez ficar muitos anos com a pulga atrás da orelha. Se a droga provoca relaxamento muscular, a resposta muscular a uma ordem cerebral será mais lenta. Batia na minha cabeça que um usuário dessa droga não deveria dirigir veículos. Uma ordem cerebral para frear não seria obedecida com velocidade suficiente para impedir uma batida. O acidente quase que seria inevitável.

Sem dinheiro para fazer uma pesquisa que provasse meu raciocínio, tomei em minha clínica a seguinte decisão: ao receitar o produto, alertava para o risco de dirigir, e ainda que não tivesse força legal de impedir o paciente de guiar, eu o proibia de dirigir, avisando-o de que teria de optar entre conviver com a ansiedade dirigindo ou se aliviar com o medicamento sem dirigir.

Até o dia 2 de julho do ano passado não havia nada na bibliografia médica que comprovasse meu ponto de vista. Nessa data, o Jornal da Associação Médica Americana publicou resumo de pesquisa de um grupo de cientistas canadenses com o seguinte titulo: “Benzodiazepine use and the risk of motor vehicle crash in the elderly” (o uso do benzodiazepínico e o risco de acidentes com veículos a motor nos idosos), e faz o seguinte comentário: “Some drugs for insomnia and anxiety put elderly at risk” (algumas drogas para insônia e ansiedade põem os idosos em risco).

Os genéricos Xanax, Tranxene, Valium, Dalmane, Papixam, Lorazepam, Serax, Centrax, Restoril e Halciom estão no mercado, onde são facilmente adquiridos, criam hábito e são utilizados pela tchurma para livremente fazerem suas bombas, misturando a droga benzodiazepínica com bebidas alcoólicas.

Recentemente, o laboratório americano Pfizer lançou no mercado o sal Sidenafil, com o nome fantasia Viagra, para tratamento da disfunção eréctil do órgão sexual masculino.

Tentando explicar da maneira mais simples possível, pode-se dizer que o Viagra age relaxando os pequenos músculos que existem nos corpos cavernosos do pênis. Com o relaxamento desses músculos, a chegada do sangue a esses corpos cavernosos é facilitada, e se dá a ereção. No dossiê sobre o Viagra, o laboratório Pfizer não informa se foram ou não feitos estudos sobre se a ação músculo-relaxante do Viagra se estende aos demais músculos do corpo.

Em termos de Saúde Pública, os fatores de risco na relação dos benzodiazepínicos com a direção de veículos estão sendo descobertos agora. Quanto tempo vai ser preciso esperar para se saber quais os riscos viagranses ?

Mas tem mais. Não sirvo para padre conselheiro, entretanto vou dar um aviso: nem pense em pegar uma receita de Viagra com o vizinho, ou comprar de algum contrabandista. Se você é um desses que padecem de disfunção eréctil, procure um médico honesto. O que quer dizer procurar um médico honesto? A resposta é simples: um médico honesto é aquele que jamais vai ser seu amigo e lhe receitar Viagra sem antes fazer uma total avaliação clínica, minuciosa completa e perfeita. Ele, o médico honesto, vai ser seu médico. Tendo estudado a farmacodinâmica do produto e suas contra-indicações, buscará o que possa vir a ser o melhor para sua vida.

Para finalizar, o Viagra pode perturbar e atrapalhar a visão.

Isak Bejzman, médico-psiquiatra e jornalista

(Ver abaixo remissão para “Viagra”.)

 

“Ai de vós, gentes esclarecidas, que dais as costas para os conflitos da vida. Os deuses não vos perdoarão jamais, enlameando-vos num profundo mar de arrependimento e lágrimas vultuosas”

A ladainha na televisão é a mesma: os traficantes de drogas matam, fazem e acontecem no Rio e em São Paulo. E mostra, para todo o Brasil, as mais exasperantes e contundentes imagens de gente chorando, sofrendo, morrendo e desaparecendo. Gente como nós mesmos; brasileiros legítimos e merecedores de atenção e amparo de toda a sociedade brasileira. Nossa maior emissora, a TV Globo, ainda tem fôlego e entusiasmo para mostrar o império e cara dos bandidos, impedindo a polícia de subir os degraus das favelas; mostra, também, a exigência desta gente para com os moradores e transeuntes. Lá quem manda é o bandido e quem está fora da lei é quem trabalha e ganha o pão com a decência do suor no rosto. E ninguém mexe o dedo e nem põe a mão na consciência. Melhor explicando: apagamos a televisão e enfiamos a viola no saco, e não se toca no assunto.

E esta desgraça, que não é pouca e nem é bobagem, avulta e machuca e devasta. O polvo demoníaco tem tentáculos alcançando todo o país; fazendo jovens se perderem e se tornarem, da noite para o dia, monstros e assassinos que fazem correr lágrimas, vergonha, sangue e morte nas famílias. O que ontem eram casos esporádicos e escondidinhos, hoje são milhares e milhares (e por que não dizer milhões?) de pessoas no mais brutal sofrimento, desespero e decadência.

O reinado das drogas está de vento em popa, acelerando e abusando de tudo e de todos. E não se vê nenhuma reação positiva, coordenada e decidida para extinguir esta barbárie das terras brasileiras. A pontinha de curiosidade no assunto é que os políticos sempre mudam de voz e de pose quando cutucados neste mister.

Agora que vem a razão do título deste artigo. Se eu fosse ministro do Exército, o que faria? Não é possível (e nem admissível) que o ministro do Exército veja as cenas na televisão e não sinta arrepios e muita raiva no coração e nas veias contra tantas desgraças nas costas de nossos patrícios. Como ministro eu chamaria os demais ministros militares, chamaria o presidente da República e, com Constituição ou sem Constituição, ou apesar da Constituição, convocaria todo o povo e soldados para a guerra total contra todas as pessoas que estão negociando drogas para viciar a juventude brasileira.

Tudo isto por uma simples razão: o nefando inimigo, externo e interno, da pátria é o império da droga. E inimigo mais perigoso, e sacana, jamais foi visto por aqui. Os nazistas de hoje são eles. E este império não cede um milímetro sequer em sua louca e determinada missão de arrancar o dinheiro e a alma dos inocentes e desavisados. E é capaz de arrebentar e incendiar o Brasil. Loucos somos nós que deixamos este inimigo mortal florescer e criar raízes nos nossos lares. É só lembrarmos do que significou para a Humanidade, em quantidade de sofrimento, insegurança e mortandade, a ascensão do nazismo. E de como foi extremamente alto o preço que as nações civilizadas pagaram para se verem livres desta praga apocalíptica.

Como não sou ministro do Exército sinto-me confortado e redimido em publicar estas linhas para todo o país, objetivando que cheguem aos gabinetes adequados e competentes para atiçar os brios daqueles que podem mudar, para melhor, o destino e a tranqüilidade das famílias brasileiras. Não é lá uma extraordinária contribuição, mas vale bem a intenção e a comoção. E nosso Exército, bem como as outras forças militares, gozam do privilégio de merecer toda a confiança de todos nós.

Sem dúvida é, isto, o maior trunfo, para mantermos a esperança de que a batalha contra as drogas ainda não está perdida. O povo sempre acompanhará a boa liderança nas causas sérias e inadiáveis.

Renzo Sansoni, médico oftalmologista,Uberlândia, MG

 

É inadmissível, mas compreensível na medida em buscamos explicações em autores como Oliveira Viana, a maneira como a representatividade política nas modernas democracias ? que no caso brasileiro ainda engatinha – é tratada de forma relevante.

Desde o início deste ano eleitoral, a imprensa tem noticiado uma série de improbidades administrativas por parte do Executivo e Legislativo, esse mesmo que teimamos considerar como representantes da vontade popular. Chamo a atenção do leitor deste OBSERVATÓRIO para os mais explícitos atos de corporativismo e uso da máquina administrativa para interesses estritamente particulares, como é o caso da votação das reformas administrativa e previdenciária.

A falta de quorum representa atraso político e financeiro para o país, e explico o porquê. O governo FHC é sinônimo de rombo nas contas públicas, endividamento do Estado, aumento da dívida externa, uso da máquina administrativa em proveito próprio e outras improbidades que certamente o leitor as conhece muito bem, aliás, é também seu bolso que promove a gestão “democrática” do presidente brasileiro.

Imagine, senhor leitor, um país onde o Congresso – que além de dispor de vantajosos vencimentos ? ainda reivindique subsídios, barganhas e colossais somas em dinheiro para apoiar ou simplesmente cumprir com o seu dever, que é votar projetos de leis e representar o povo na Assembléia.

Isso é o Brasil, um país onde o poder das oligarquias latifundiárias dispõe de primazia diante da fragilidade estrutural e cultural da sociedade brasileira, que nunca soube se organizar politicamente sem a tutela de governos autoritários. É por esse motivo que deveríamos repensar a tese da neoliberalismo no Brasil. Nesse estágio, apenas as corporações e organizações que estão se transformando em importantes estruturas de poder ? um poder ditado por suas regras próprias e reproduzidos em escala mundial – poderiam sobreviver no Brasil.

O este Executivo é um poder que cede, que necessita subsidiar as operações de financiamento de dívida dos estados e o que é pior, onde alguns governadores mal receberam adiantamentos do BNDES relativos às privatizações e já estão aplicando esses recursos em novos investimentos, a maioria deles, aproveitando a oportunidade para as obras eleitoreiras.

O Executivo brasileiro necessita negociar através de Reais e cargos políticos o apoio para vencer a emenda da reeleição. O Executivo brasileiro liberou 310 milhões de reais para “rebeldes” que recusavam-se votar a emenda da reforma da Previdência, conforme informou o Estadão em cinco de maio último. Este prestigiado veículo só esqueceu de se aprofundar um pouco mais no assunto. Os referidos “rebeldes” reivindicavam milhões para garantir (suas particulares e oportunas) “obras” em suas bases eleitorais, um jogo que funciona como matemática.

Nos redutos eleitorais, onde o voto é conquistado através de barganha, apenas uma ínfima parcela da população estaria exercendo a verdadeira democracia. Através de entrevista ao renomado jurista e constitucionalista Celso Bastos, podemos enxergar o perfil patrimonialista de poder no Brasil e aqui faço questão de reproduzir para os leitores.

“O regime político brasileiro é baseado na massa de funcionários públicos que compõem o corpo democrático do país”, explica o jurista. Na luta pela sobrevivência num país com sérias dificuldades como o Brasil – que tem no fantasma do desemprego o inimigo social ? o funcionalismo público é o grupo civil que se depara de modo mais intenso com a escassez de emprego. A dimensão do problema atraiu muito a atenção parlamentar, que deposita nesse reduto eleitoral, as possibilidades de se reeleger – uma forma de manutenção do poder.

“Esse é um curral bem determinado, que vota exatamente segundo as ordens de seus chefes parlamentares e padrinhos políticos”, explica Bastos. É uma troca de interesses: o parlamentar permanece no cargo e o funcionalismo público no emprego. “Baseado nesse pressuposto, eu nem diria que se trata de um processo democrático, se bem que democracia é isso, votar segundo seus interesses. O mal é que outros setores da população tornam-se vítimas indiretas de parlamentares estatizantes. Os parlamentares garantem os votos daqueles que para eles trabalham e ainda buscam votos na população, que anda muito mal informada”, diz ele. Considerando esse fato, é possível que a reforma administrativa seja aprovada?

Há mais com que se indignar, caro leitor. Em outra matéria sobre a reforma da Previdência na Folha de S. Paulo intitulada “Governo fará retaliação contra dissidentes”, veiculada em 8 de maio último, um aspecto muito pertinente chama a atenção. Trata-se da maneira como FHC pretendia relacionar-se com os parlamentares “rebeldes” – aqueles mesmos que seriam ressarcidos por sua ardilosa tarefa de votar. Estes rebeldes não teriam liberadas aquelas verbas a que me referi anteriormente e, o mais abusivo, não poderiam indicar afilhados para os cargos políticos, um dos itens discutidos pelos próprios congressistas na reforma administrativa. Discutidos no sentido de moralizar as Casas.

Se o desafio da reforma da Previdência é amenizar os custos e o rombo, a admissão de uma proposta desse teor é extremamente inconstitucional. Quanto a estar a reforma restrita apenas à grande massa trabalhadora, isso é abuso de privilégio num democrático e desigual sistema político. O Executivo tem chamado a atenção sobre parlamentares que comprometem-se em apoiar o governo e depois de receberem suas barganhas, votam contra as propostas governistas. Como classificar essa atuação? Trata-se de total falta de respeito aos cidadãos que lhes deram o aval de representá-los. Representar os interesses da maioria, não de seus particulares, como tem sido o relacionamento entre o presidente FHC e parlamentares que optaram por ignorar a massa.

Uma democracia moderna se sustenta com negociações entre alas divergentes. Mas uma situação em que parlamentares fazem pressão para que o Executivo abra seus cofres para votar e representar o povo, eu não poderia classificar como uma situação democrática, mas como o uso patrimonialista do poder. É importante salientar que a reforma restringiu-se só aos civis. Os parlamentares não tiveram suas fartas aposentadorias e aposentadorias especiais alteradas. Com exceção da grande massa, os demais setores da sociedade têm atuado como poderosos lobbies no Congresso.

Cibele Buoro, jornalista e mestranda em Ciência Política da Unicamp

 

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